“Resgate” da arte popular do barro preto em exposição no Pavilhão 31 do Júlio de Matos

17 de Abril 2025

A exposição "Resgate", que conjuga a escultura de Anabela Soares com a arte do barro preto do mestre José Maria, abre hoje ao público na Galeria do Pavilhão 31, no Hospital Júlio de Matos, em Lisboa.

“Resgate” põe os dois artistas frente a frente, “num diálogo onde a escultura e o barro são a linguagem primordial”, lê-se na apresentação da mostra.

De um lado, há a reinterpretação da olaria tradicional pelo mestre José Maria de Ribolhos (1906-1999); do outro, a arte de Anabela Soares e as suas ‘esculturas monstruosas’ que em 2022 já definiram um roteiro para a saúde mental, no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, e surgiram a par de vídeos de Emir Kusturica, na exposição “Entrevista” (2016), no pavilhão do Centro Hospitalar.

O mestre José Maria, artesão-artista, nasceu na aldeia de Ribolhos, Castro Daire, em 1906. Quando confrontado com a industrialização crescente e a ameaça à produção de objetos utilitários em barro, em pleno século XX, permaneceu leal à sua arte, passando a moldar figuras inspiradas na vida rural e no quotidiano da Serra de Montemuro – figuras muito próprias, que dizia “resgatar do chão”, por as cozer num buraco na terra, segundo a técnica tradicional.

Anabela Soares, nasceu na Anadia, em 1969. É uma artista do ateliê da P28 – Associação para o Desenvolvimento Criativo e Artístico, que promove esta exposição em parceria com o Museu de Olaria de Barcelos, e membro do coletivo Manicómio, expondo regularmente desde 2015.

A escultora fez parte de exposições coletivas como “Insubordinar” (2019), na Fidelidade Arte, em Lisboa, “Incómodo” (2020), no Museu Municipal de Faro, “O Outro como Epifania do Belo” (2021), no Museu de São Roque/Brotéria.

A sua primeira exposição individual, “Os Monstros” (2019), teve lugar em Penela, sendo seguida de “O dia em que perdi o pé” (2020), no Museu Bordalo Pinheiro, em Lisboa, e na Bienal de Cerâmica de Aveiro (2021). Em 2022, levou “Urso – Roteiro para a Saúde Mental” ao MAAT.

A escultora “usa o barro como meio de inscrição de traumas passados de onde nascem as suas impactantes criações que intitula de ‘monstros'”, num “exercício catártico que atravessa medos e ansiedades”.

“Resgate”, segundo a apresentação da mostra, é assim “o meio caminho” onde os dois artistas se encontram, entre “a ousadia de José Maria de Ribolhos e a arte disruptiva de Anabela Soares”.

Para o curador da exposição, Luís Alegre, citado no texto de apresentação, trata-se de “um resgate em diversas dimensões, mas sobretudo o resgate a um tempo, seja o tempo social da olaria tradicional que o Zé Maria preservou na sua reinvenção artística, ou o tempo subjetivo da Anabela que encontrou na cerâmica uma forma de inscrever a sua experiência pessoal e reconstruir o seu interior”.

“Várias perguntas se colocam na mostra, um diálogo constante entre dois artistas que, separados por tempo e contexto, partilham uma relação essencial com a matéria — o barro”, prossegue o curador.

“Mostrar que a arte rotulada como popular pode também ter valor de expressão artística cultural e pessoal, é um dos objetivos” de “Resgate”. “Esta mostra leva-nos a pensar, refletir e questionar sobre estas peças em barro que são muito mais do que meros objetos de valor comercial”, explica Luís Alegre.

A P28 “tem como missão a difusão de práticas artísticas contemporâneas e, por inerência ou responsabilidade social e cultural, a arte na experiência de doença mental”.

Em 25 anos de atividade, já apresentou mais de 700 artistas. Nomeada a partir do pavilhão homónimo original (n.º 28) do Hospital Júlio de Matos, segue a sua atividade no pavilhão n.º 31 desde 2012, onde mantém uma galeria de arte contemporânea, de acesso público e gratuito, e um serviço educativo, além de um ateliê dedicado a residências artísticas de utentes do Sistema Nacional de Saúde.

“Resgate” fica patente até 17 de maio.

lusa/HN

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