30/04/2023
Na véspera do Dia do Trabalhador (01 de maio), o diretor clínico da Partners In Neuroscience sublinhou que Portugal foi considerado o país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) onde existe maior risco de ´burnout` e alerta que “o ambiente nas equipas de trabalho e o estilo de liderança impactam grandemente na saúde mental” dos trabalhadores e na sua produtividade.
Gustavo Jesus salientou a importância da “cultura organizacional nas empresas” e a forma como a sociedade ainda vê a doença mental como “uma fraqueza”, o que “não é verdade”.
“Se temos uma pessoa num ambiente laboral com excesso de trabalho, com uma autonomia mal dirigida, com uma cultura organizacional negativa, as pessoas vão desenvolver eventualmente perturbação da sua saúde mental, independentemente de serem resilientes ou não”, vincou o psiquiatra, associado à campanha “Viva! Para lá da Depressão”, que pretende promover a literacia em relação à saúde mental e contrariar os estigmas associados à doença mental.
O médico alertou que o stress laboral intenso e prolongado no tempo pode originar quadros de ´burnout` e, além dos fatores individuais, existem “variáveis no ambiente laboral que mitigam ou agravam a vivência de stress”.
A carga de trabalho é uma delas, assim como a autonomia, idealmente intermédia, em que se possa ter alguma orientação na tarefa a desempenhar e sem uma supervisão castradora, além de flexibilidade e o sentimento de se ser recompensado.
“A recompensa não é só dinheiro. A recompensa financeira é importante, mas o elogio, o reforço positivo, as promoções, a progressão na carreira, a sensação de valorização por parte dos superiores hierárquicos também são importantes”, enfatizou Gustavo Jesus, em declarações à agência Lusa.
Segundo o clínico, “se o ambiente empresarial e a cultura da equipa for uma cultura que não preserva a saúde mental e que propicia o stress, então potencialmente esse stress vai-se tornar fator de risco para desenvolver doença mental” e, no caso do stress laboral, “o primeiro passo é o ´burnout`”.
Se não houver alterações no ambiente de trabalho, o ´burnout` pode evoluir para “um quadro de depressão ou perturbação de ansiedade”.
Gustavo Jesus apontou a exaustão emocional e física como uma das características do ´burnout`, o sentimento de falta de realização profissional, de ter satisfação com o trabalho, é outra, assim como as pessoas começarem a ficar desprendidas das suas tarefas, fazerem sem “vestirem a camisola”.
O psiquiatra explicou que, num quadro de ´burnout`, “as outras áreas da vida da pessoa estão relativamente bem, apesar de se sentir cansada e exausta com o trabalho”.
O principal sinal de alerta de quando esse estado de exaustão física e emocional “se está a transformar em outra coisa” é a perturbação do sono, que começa a ficar alterado.
Quando a depressão ou a perturbação de ansiedade ainda não se instalou, situações em que é necessário tratamento, há medidas de prevenção que podem ser adotadas, como uma dieta mediterrânica, predominantemente anti-inflamatória; exercício físico; meditação para diminuir a ansiedade e aprender “a viver aqui e agora, tentar não sofrer com o que já passou e não estar sempre na expectativa do que vem a seguir”, além de respeitar os tempos de descanso e as horas de sono contínuo, recomenda o psiquiatra Gustavo Jesus.
Estas estratégias podem ser complementares ao tratamento nos casos de doença.
Na perturbação de ansiedade, quando a sensação de ansiedade “é muito intensa, muito duradoura e desproporcional em relação àquilo que a causa, ou até mesmo surgir sem motivo aparente, estamos perante uma doença”, frisou o médico.
O psiquiatra alertou para que se procure ajuda se quem se sente nessa condição perceber que está diferente em relação ao passado.
Gustavo Jesus referiu ainda que nos países do ocidente, incluindo Portugal, a depressão é a principal causa de incapacidade para o trabalho.
LUSA/HN
29/04/2023
O anúncio foi feito hoje pelo hospital, que serve os concelhos de Amadora e Sintra, adiantando em comunicado que a obra, cujo prazo de conclusão está previsto para o final do ano, aumentará a capacidade de internamento das atuais 30 camas para 53 camas.
“Este aumento da capacidade é particularmente importante, porque a instituição não é o hospital de referência para a especialidade de Psiquiatria e Pedopsiquiatria para a totalidade da população do concelho de Sintra”, salienta o Hospital Doutor Fernando Fonseca (HFF).
Atualmente, o Departamento de Saúde Mental do HFF abarca a população do concelho da Amadora e as freguesias de Queluz, Belas, Massamá, Monte Abraão e Casal de Cambra, do concelho de Sintra, que corresponde a cerca de 272.049 habitantes.
A assistência à população das restantes freguesias do concelho de Sintra (cerca de 263.878 habitantes) é da responsabilidade do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, no caso da psiquiatria de adultos, e da responsabilidade do Serviço de Pedopsiquiatria do Hospital Dona Estefânia no caso da Psiquiatria da Infância e da Adolescência, precisa o HFF à agência Lusa.
Segundo o HFF, “o reforço da infraestrutura será necessariamente acompanhado por um reforço dos recursos humanos”, anunciando que está prevista a contratação de 11 médicos psiquiatras, 25 enfermeiros, 10 assistentes operacionais, quatro assistentes técnicos, dois terapeutas ocupacionais, três técnicas de serviço social e dois psicomotricistas.
Realça ainda que o trabalho que desenvolve na área da Saúde Mental se diferencia também no âmbito da saúde de proximidade, pretendendo assim constituir duas equipas comunitárias de intervenção de adultos, para as quais também está prevista a alocação dos recursos humanos necessários.
“Depois de este hospital ter respondido de forma exemplar a uma pandemia, vemos o investimento em Saúde Mental no SNS como uma verdadeira oportunidade. Promover a saúde mental é promover a saúde em geral”, afirma a presidente do Conselho de Administração do HFF, Joana Chêdas, citada no comunicado.
Joana Chêdas sublinha que “a pandemia pôs no radar o tema da saúde mental: Nunca como hoje se falou tanto de saúde mental, em todas as idades e estratos sociais. O SNS tem novas metas e no HFF este investimento e reforço de meios vai permitir-nos chegar muito mais longe e continuar a fazer a diferença no futuro de muitas gerações”.
O Hospital Fernando Fonseca refere que a obra é parcialmente comparticipada pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), acrescentando um investimento adicional de 500 mil euros em equipamentos médicos, hoteleiros e informáticos, financiado também por este programa.
“Com esta obra e com os recursos humanos necessários, todos os cuidados passam a estar assegurados para os concelhos da Amadora e de Sintra numa lógica de proximidade. Assim, o HFF, que é o hospital de referência da população dos referidos concelhos, reforça a sua capacidade assistencial à comunidade”, sublinha no comunicado.
NR/HN/Lusa
15/04/2023
Com versão de Vera San Payo de Lemos, que também assina a dramaturgia, e de João Lourenço, responsável pela encenação, cenário e vídeo – este em conjunto com Nuno Neves -, a peça começou a ser ensaiada no Teatro Aberto ainda antes da estreia do filme “O filho”, em janeiro último, com realização do autor francês. Zeller também assinou o argumento, com Christopher Hampton, com quem já tinha partilhado a escrita de “O pai”, com que venceu o Óscar de Melhor Argumento Adaptado em 2021.
A peça “O filho”, estreada em 2018 em França e, no ano seguinte, em Londres, centra-se na complexa teia de relações familiares entre Pedro e Ana, um casal que acaba por ser divorciar, e Nicolau, um jovem de 17 anos, filho de ambos.
Após “O pai” e “A verdade da mentira”, este é o quarto texto do autor francês a subir ao palco do Teatro Aberto que tem uma versão adaptada do texto original e que apresenta diferenças em relação ao filme homónimo estreado em janeiro último nos cinemas, disse João Lourenço à agência Lusa.
Embora os problemas depressivos de Nicolau sejam anteriores ao divórcio dos pais, só depois deste é Pedro e Ana se apercebem da tristeza profunda em que o filho vive, das suas ausências à escola e das alterações de comportamento que demonstram que o jovem não está bem consigo nem com ninguém, acrescentou o encenador.
Após o divórcio dos pais, Nicolau vive três anos com a mãe, Ana, numa relação marcada por violência psicológica sobre a progenitora, em que esta receia que chegue à física. O jovem acaba depois por ir viver com o pai que, entretanto, voltou a casar-se, com Sofia. Os dois são pais de um bebé de três meses.
Pedro começa a viver momentos de desespero, culpabilizando-se pela depressão por que o filho atravessa, julgando que esta fora provocada pelo divórcio, sem se aperceber, tal como acontecera com Ana, que tem em mãos uma ‘granada’ pronta a explodir e da sua impotência, tal como a mãe, para resolver a situação.
Pedro e Sofia acolhem Nicolau, cuja depressão se vai agravando, a ponto de Sofia temer pela integridade física do filho bebé.
Referências à religião e à obra de Marcel Proust estão implícitas na peça em cenas como aquela em que, já num estado de grande degradação, o filho pede “Pai, não me abandones”, ou numa outra em que “oferece Madalenas à mãe”.
Numa obra “violenta”, propícia para debater a “fragilidade dos adolescentes” e “o aumento de problemas de saúde mental nesta faixa etária após a pandemia de covid-19”, João Lourenço, ao deparar-se “com esta tragédia contemporânea”, sentiu necessidade de acompanhar a carreira do espetáculo com debates sobre o tema, disse à Lusa.
“Para ter mais eficiência e ser ainda mais serviço púbico”, frisou.
Daí que, dia 29, às 19:00, “Um sentido para a vida” seja o tema de debate que tem como convidados a escritora Dulce Maria Cardoso, a médica Nazaré Santos, do Departamento de Neurociências, serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e o jornalista Nuno Rogeiro. A moderar estará o jornalista Tiago Palma.
No Teatro Aberto, a ação desenrola-se num palco rotativo, num cenário quase operático e minimalista, onde pontuam as paredes altas, onde as cenas se sucedem como se fossem sequências de um filme.
João Lourenço recorreu ainda a ecrãs do tamanho dos cenários, nas laterais do palco, que vão abrindo e fechando e projetando pequenos filmes de 40 segundos, reflexo da mente de Nicolau.
A roda das cores é o primeiro impacto visual que o público tem quando entra na sala, para depois a ação se fixar no preto, branco e cinzento.
O negro, que marca a casa onde Nicolau viveu com os pais, o branco da instituição de saúde mental onde acaba por ser internado, e o cinzento da nova casa do pai.
Cleia Almeida (Ana), Pedro Pires (Pedro), Rui Pedro Silva (Nicolau), Pedro Oom (Médico), Pedro Rovisco (enfermeiro) e Sara Matos (Sofia) são os intérpretes de “O filho”.
Com figurinos de Lia Freitas e coreografia de Cifrão, a peça vai estar em cena na Sala Azul até 18 de junho, com récitas à quarta e quinta-feira, às 19:00, à sexta e ao sábado, às 21:30, e aos domingos às 16:00.
LUSA/HN
24/03/2023
As posições foram manifestadas num debate parlamentar em que foram apresentados os projetos de lei desses quatro partidos sobre a disponibilização de serviços de saúde mental nos vários graus de ensino, incluindo o reforço de psicólogos para as escolas públicas e instituições de ensino superior.
Na apresentação do seu diploma, o deputado do PCP Manuel Loff salientou que, de acordo com as recomendações internacionais, o rácio em contexto escolar não deve ultrapassar os 500 alunos por psicólogo, mas em Portugal é de 694 estudantes, “40% mais do que o recomendado”.
Além do reforço desses profissionais nos estabelecimentos públicos de ensino, o projeto de lei do PCP pretende a “recuperação da carreira de psicólogo no âmbito do Ministério da Educação”, adiantou ainda Manuel Loff.
Já o deputado único do Livre, Rui Tavares, avançou que o seu projeto de lei pretende “contemplar de forma clara as obrigações do Estado” nesta matéria, ao determinar que as instituições de ensino superior têm de disponibilizar serviços de saúde mental aos estudantes, alegando que “é preciso prevenir em vez de remediar”.
Inês de Sousa Real, do PAN, alertou que, no caso das universidades, “48% dos estudantes mostram problemas graves do foro psicológico, como depressão, ansiedade e perda de controlo”, adiantando que a sua iniciativa legislativa pretende criar uma rede de serviços de psicologia nas escolas públicas e instituições de ensino superior e uma linha telefónica de apoio no ensino superior.
Pelo Chega, Rita Matias sublinhou que o partido pretende o reforço do acesso a serviços de psicologia a orientação escolar para os alunos do básico e secundário, alegando que “metade das doenças mentais surge entre os 10 e os 19 anos” e que o rácio nas escolas “é de mais de mil alunos por psicólogo”, uma situação que é “mais alarmante nos contextos mais carenciados”.
“Nunca se viu uma crise de saúde mental tão grave nas escolas portuguesas”, disse Rita Matias, para quem esta situação “tem um nome e um responsável, o Governo socialista”.
No debate parlamentar, a deputada do PS, Rosa Venâncio, considerou que, nos últimos 20 anos, as instituições “têm feito um enorme esforço para garantir a resposta adequada aos desafios da saúde mental” dos estudantes, investigadores, docentes e não docentes.
Além disso, a parlamentar socialista, que reconheceu que existem necessidades já identificadas que foram agravadas pela pandemia da covid-19, avançou que em maio será apresentado o plano de prevenção da saúde mental no ensino superior, com vista a ser operacionalizado no próximo ano letivo.
Já Carla Castro, da Iniciativa Liberal, salientou ser necessário um “país com futuro, com esperança e que, na saúde mental, se tenha uma sociedade tolerante e aberta, que saiba em geral prevenir, identificar, não julgar e ajudar a tratar”.
Isabel Pires, do Bloco de Esquerda, considerou que o Serviço Nacional de Saúde ainda está muito aquém do necessário nesta matéria e anunciou que, “genericamente”, a sua bancada acompanha as propostas legislativas sobra esta matéria.
Dinis Ramos, do grupo parlamentar do PSD, lamentou que Portugal “seja o segundo país da União Europeia” com maior prevalência de doença mental na população jovem e adulta.
“A saúde mental dos estudantes portugueses é um assunto demasiado sério para viver de anúncios”, referiu ainda o parlamentar social-democrata, referindo-se ao programa do Governo para o ensino superior.
LUSA/HN
22/03/2023
De acordo com uma comunicação interna da SPP à qual a agência Lusa teve hoje acesso, esta sociedade, em conjunto com as Sociedades de Urgência e Emergência e Medicina do Adolescente, reuniu-se com a Direção Executiva do SNS (DE-SNS), liderada por Fernando Araújo, após lhe ter dirigido um conjunto de propostas.
Uma das sugestões visa o “alargamento do apoio presencial nas três urgências de referência [do país] até às 24 horas”.
Em causa está a Rede Nacional de Serviços de Urgência de Psiquiatria da Infância e Adolescência que está organizada em urgências regionais: Norte, Centro e Região de Lisboa e Vale do Tejo, Região do Alentejo e Região do Algarve.
No Norte a urgência regional de pedopsiquiatria funciona no Centro Materno Infantil do Norte, que pertence ao Centro Hospitalar Universitário de Santo António.
No Centro, a urgência de psiquiatria da infância e adolescência está sediada no Hospital Pediátrico de Coimbra.
Já em Lisboa, no Hospital Dona Estefânia, do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, são atendidos utentes de Lisboa e Vale do Tejo, do Alentejo e do Algarve.
O novo regulamento, que entrou em vigor a 03 de fevereiro, indica que estas urgências têm presença física de uma equipa dedicada apenas das 08:00 às 20:00, sendo a última admissão às 19:00.
Em 02 de março, o diretor de Pediatria do Hospital Dona Estefânia alertou para o aumento de casos de saúde mental e criticou o encerramento noturno das urgências de pedopsiquiatria no hospital.
Gonçalo Cordeiro Ferreira contou à Lusa que, logo no primeiro dia do novo modelo, foram notadas fragilidades.
“Esta madrugada [02 de março], às 06:00/07:00, apareceu um jovem com problemas psiquiátricos, bastante volumoso, com 70 e muitos quilos, muito agressivo e, não havendo pedopsiquiatra, foi muito difícil fazer-lhe qualquer contenção”, relatou o pediatra.
Como não podia estar na sala de espera até que os pedopsiquiatras chegassem, uma vez que “ameaçava destruir a sala, teve que ficar no jardim do hospital à espera (…) porque de facto, era muito difícil conseguir contê-lo e não havia ‘know-how’ capaz de o fazer”, acrescentou.
O diretor também destacou que o recurso aos serviços e às urgências de pedopsiquiatria aumentou exponencialmente no mundo depois da pandemia e que, em Portugal, “as intoxicações medicamentosas voluntárias aumentaram muito de 2020 para 2021”.
“Portanto, temos de ter esta colaboração estreita entre pediatras e pedopsiquiatras para bem desta população que está com muita perturbação mental”, disse.
Nas sugestões dirigidas à DE-SNS, a SPP defende que o atendimento até às 24 horas visa “assegurar esse apoio durante mais tempo e no período em que a procura é inquestionavelmente maior”.
As sociedades de Pediatria, Urgência e Emergência e Medicina do Adolescente também propõem a criação de uma linha de apoio telefónico de âmbito nacional, assegurada por um médico de psiquiatria da infância e adolescência, acessível em exclusivo aos pediatras de todos os serviços de urgência durante as 24 horas.
O objetivo é dar apoio à estabilização de situações graves do foro da saúde mental na criança.
As sociedades propuseram, por fim, a criação de protocolos conjuntos para situações agudas do foro da saúde mental, bem como a criação de consultas de apoio a situações agudas nos serviços de Psiquiatria da Infância e Adolescência que não têm urgência da especialidade.
A SPP também pede “orientações claras (…) no apoio a situações agudas do foro da saúde mental nos adolescentes mais velhos, nos locais onde exista urgência desta especialidade em presença física nos locais ou períodos em que a especialidade de psiquiatria da infância e adolescência não esteja disponível”.
Contactada pela Lusa, fonte da SPP confirmou que decorreu já uma reunião com a DE-SNS, não querendo “neste momento” fazer mais comentários.
A agência Lusa pediu esclarecimentos sobre este tema à DE-SNS e aguarda resposta.
LUSA/HN