A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) lançou um novo relatório que apela a uma resposta global e coordenada para proteger e capacitar as crianças no mundo digital. Num cenário em que 98% dos jovens de 15 anos possuem um smartphone nos países da OCDE, a exposição precoce e prolongada à Internet traz oportunidades de aprendizagem, entretenimento e socialização, mas também riscos significativos para o desenvolvimento e saúde mental dos mais novos.
O relatório “Como é a vida das crianças na era digital?” revela que metade dos adolescentes dedica pelo menos 30 horas semanais a dispositivos digitais, com uma percentagem significativa a ultrapassar as 60 horas. Entre os principais riscos identificados estão o ciberbullying, o uso problemático das redes sociais, a ansiedade associada à ausência de dispositivos e a substituição de atividades essenciais como a leitura, o exercício físico e a interação social presencial. Dados recentes mostram que 27,6% dos jovens admitem partilhar informações falsas online e 17% sentem-se ansiosos sem acesso aos seus aparelhos digitais.
A OCDE alerta que o uso excessivo de meios digitais pode prejudicar o sono, o desenvolvimento físico e o bem-estar emocional das crianças, associando-se a quadros de ansiedade e depressão. Para enfrentar estes desafios, o relatório recomenda o reforço da literacia e competências digitais, a criação de quadros regulamentares eficazes e o desenvolvimento de tecnologias que priorizem a segurança infantil desde a conceção. Destaca-se ainda o papel fundamental das escolas e professores na capacitação progressiva dos alunos, bem como a necessidade de orientar pais e cuidadores para apoiar as crianças na utilização saudável da tecnologia.
O estudo sublinha a importância de envolver as próprias crianças na definição de políticas digitais e a urgência de recolher mais dados sobre a exposição e experiências digitais dos mais novos, para melhor monitorizar e responder aos riscos emergentes. A OCDE propõe ainda que os prestadores de serviços digitais adotem medidas de proteção por defeito, assegurando transparência, privacidade e prevenção do uso comercial dos dados das crianças. A cooperação internacional é vista como essencial para criar normas comuns e garantir a eficácia das medidas de proteção.
Apesar dos avanços na recolha de dados sobre as atividades digitais infantis, persistem lacunas significativas, nomeadamente sobre o tempo de ecrã e os efeitos da exposição digital em diferentes faixas etárias. O relatório defende que colmatar estas falhas é fundamental para melhorar o acompanhamento e a resposta das políticas públicas, promovendo um ambiente digital mais seguro, inclusivo e enriquecedor para todas as crianças.
PR/HN/MM
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