Rui Cernadas Assistente Graduado MGF

A pandemia – moeda de duas faces

01/11/2021

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A pandemia – moeda de duas faces

11/01/2021 | Opinião

Parece claro que o vírus SARS CoV-2 entrou nas nossas vidas, casas, famílias, empregos, tempos livres e bolsos, mudando hábitos, comportamentos, horários, formas de trabalho, de ensino e de relação e, lamentavelmente em muitos casos, roubando-nos parentes e amigos.

E a procissão ainda vai no adro, sejamos claros.

Ainda que com taxas de mortalidade muito baixas, o crescimento exponencial do número de casos permite pensar, muito conservadoramente, que se atingirmos 2 milhões de infeções poderemos atingir com 2% de mortalidade, 40 000 mortos.

O mundo percebeu mal e devagar que o novo inimigo, para além dos novos conceitos de distanciamento social e higienizações, justificou o fecho de fronteiras ou a criação de novos muros e generalizou nas populações o uso de máscaras que, antes e fora dos carnavais, só os políticos pareciam usar para esconder ou disfarçar as baboseiras ou discursos repetidos e vazios de conteúdo programático e estratégico.

 

Os sistemas de saúde foram desafiados perante uma comunicação social que expôs e cobriu à exaustão a evolução da Pandemia. Ficaram patentes as vulnerabilidades dos serviços públicos sanitários e palhaços como Bolsonaro ou Trump conseguiram seguidores e adeptos, entretanto chamados de “negacionistas”.

As hesitações compreensíveis entre salvar a economia e o emprego e a saúde e vidas não ajudaram e a comunicação dos decisores políticos, em Portugal por exemplo, foi quase desastrosa, errática e ridícula. Os esforços para justificar o injustificável, as tentativas de criar confiança nas populações e as respostas tardias ou meramente reactivas, mostraram aos Portugueses e a muitos Povos por esse mundo fora que, se a COVID-19 evoluiu por vagas ou ondas, os governantes surfaram as mesmas ondas, sem nunca as anteciparem, preverem ou explicarem!

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) não envergonhou o País. Bem pelo contrário quando falamos do combate à Pandemia. Mas a capacidade de proteger as equipas e os profissionais ou o comprometimento das respostas assistenciais aos doentes “não-COVID” tornaram-se trágicas.

O subfinanciamento do SNS ficou à vista, confrangedor, assustador e confirmado.

O Governo recordou-se da necessidade de recrutar, incorporar ou contratar médicos e enfermeiros às carradas, apelando aos aposentados também e compreendendo, ou não, que aqueles profissionais não podem ser comprados nas prateleiras das grandes cadeias de supermercados.

Mesmo que se não tenha retratado de os tratar até ao surgimento do vírus sem consideração, respeito e reconhecimento.

Teve até a tentação de lhes chamar “cobardes” depois de antes, aquando da vaga das agressões a profissionais de saúde em 2019 e arranque de 2020, lhes não ter identificado a circunstância de vítimas, nem a aspiração a heróis…

Entretanto muitos doentes, nem se sabe com certeza quantos, passaram a ser acompanhados à distância, por doenças crónicas e com prognósticos diversos e igualmente incertos, com necessidades nem identificadas, nem satisfeitas, no meio das suas comorbilidades, dos isolamentos e medos, das questões sociais e dos constrangimentos económicos, senão desemprego. As listas de espera para primeiras consultas e cirurgias ou tratamentos mais complexos cresce e alonga-se como nunca. As referenciações do lado e parte dos médicos de família está como que congelada, também ela prejudicada pelas questões de acessibilidade às unidades de cuidados primários.

Os desígnios dos profissionais de saúde e as suas preocupações éticas e morais mantêm-se focadas nos cidadãos em geral e, nos seus doentes em particular. O investimento na promoção da saúde e a prevenção da doença – e da COVID-19 – não são dimensões nascidas em 2020.

A sobrevivência do SNS passou a ser uma luta do dia a dia.

Esperemos que o Governo e o Ministério do Saúde, não por qualquer efeito secundário de qualquer vacina ou terapêutica, e menos ainda se possível por qualquer acção directa do vírus, possa passar a seguir o exemplo do pessoal da Saúde.

E passar a ter preocupações concretas e coerentes, éticas e morais com os cidadãos em geral e os doentes em particular.

 

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