Enfermeiros portugueses escolhem Espanha para terem “perspetiva de futuro”

24 de Janeiro 2021

A Espanha tornou-se no ano passado, quando começou a pandemia de covid-19, o país preferido de emigração dos enfermeiros portugueses, que se sentem aí “realizados” e com uma perspetiva de futuro que não tinham no seu país.

“Em Portugal não se reconhece o esforço das pessoas”, disse a enfermeira Fernanda Martins à agência Lusa, acrescentando que só pensa regressar ao seu país natal quando se reformar.

Com 27 anos e o curso terminado em 2016 na Universidade de Gandra, em Valongo (Porto), Fernanda Martins chegou a Espanha há dois anos e, depois de várias tentativas para regressar para Portugal, em 2020 resolveu instalar-se definitivamente em Santander (norte).

Segundo dados da Ordem dos Enfermeiros, no ano passado 1.230 profissionais solicitaram a declaração para exercer a sua profissão no estrangeiro, um número “surpreendente” que corresponde a quase metade dos 2.700 licenciados no mesmo ano.

Fernanda Martins queixa-se que em Portugal a profissão de enfermeiro “é desvalorizada e pouco remunerada”, o que gera “muita frustração”, depois de quatro anos de estudo.

“Aqui sinto-me realizada, ganho quase o dobro do que ganharia em Portugal e faço trabalho de enfermeira e não de auxiliar de enfermagem, como acontece em muitos casos”, afirmou Fernanda Martins que tem um contrato sem prazo definido, ao contrário dos recibos verdes que passava no seu país.

Com 148 pedidos de declaração para exercer no estrangeiro em 2020, Espanha ultrapassou o Reino Unido e a Suíça na lista de países que mais recebem os enfermeiros portugueses.

De acordo com a Ordem dos Enfermeiros, também houve um aumento de pedidos de recrutamento por parte de países como a Bélgica e a Alemanha, “com propostas cada vez mais frequentes e vantajosas”.

Paulo Barbosa, de Penafiel e também de 27 anos, que tirou o curso na Escola Superior de Enfermagem do Porto, é outro profissional do setor que se sente satisfeito por ter vindo para Espanha.

“Ainda tentei trabalhar em Portugal, mas as condições foram sempre muito precárias e com poucas perspetivas de futuro. Decidi procurar uma oportunidade no estrangeiro”, começa por explicar à Lusa Paulo Barbosa.

Assim como a sua colega, está no Centro Hospitalar Padre Menni, em Santander, capital da comunidade autónoma da Cantábria, onde se sente “realizado”, “valorizado” e sem vontade de voltar a trabalhar em Portugal.

“Se calhar num país mais a norte até ganharia mais, mas aqui a cultura é semelhante à nossa, assim como o custo e a qualidade de vida”, disse Pedro Barbosa que está separado da sua família por apenas 600 quilómetros, que faz de automóvel.

Segundo a Ordem, estes enfermeiros juntam-se aos mais de 20.000 que já se encontram no estrangeiro e que, apesar de desejarem regressar ao seu país, não o têm feito devido aos vínculos precários, nomeadamente os contratos de quatro meses que estão a ser oferecidos a estes profissionais desde o início da pandemia.

Pedro Barbosa recebeu uma bolsa para estudar e considera ser “um desperdício para os cofres do Estado” a aposta que é feita em estudantes que depois emigram devido à falta de condições para trabalhar em Portugal.

“Não estão a aproveitar a mão-de-obra de qualidade que temos, muito especializada”, crítica o jovem enfermeiro que, assim como Fernanda Martins, não pensa regressar a Portugal.

Estima-se que, nos últimos 10 anos, 2019 tenha sido, com 4.506 pedidos de declaração para exercer no estrangeiro, o ano em que houve uma maior emigração destes profissionais, apesar de os números terem ultrapassado os 2.500 pedidos nos anos mais difíceis do último resgate à economia portuguesa, de 2012 a 2015.

NR/HN/LUSA

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

MAIS LIDAS

Share This