Comissão Europeia quer preparar UE para “impactos inevitáveis” de alterações climáticas

24 de Fevereiro 2021

A Comissão Europeia apresentou esta quarta-feira uma nova estratégia de adaptação às alterações climáticas, que visa preparar a União Europeia (UE) para os “impactos inevitáveis” do aquecimento global e torná-la mais resiliente aos efeitos adversos do clima.

“Durante muitos anos, evitámos falar demasiado sobre a adaptação, porque parecia que estávamos a admitir uma espécie de derrota perante as alterações climáticas. Mas agora percebemos plenamente que, se queremos ser um continente neutro em carbono até 2050, e se queremos ter sucesso no combate a este desafio incrível – incluindo o desafio da perda de biodiversidade – então precisamos de uma estratégia de adaptação”, disse o vice-presidente da Comissão para o Pacto Ecológico Europeu, Frans Timmermans, em conferência de imprensa de apresentação da estratégia.

A estratégia hoje anunciada engloba três vertentes: tornar a adaptação ao aquecimento global “mais inteligente”, “mais sistémica” e “mais rápida”.

No que se refere a uma adaptação “mais inteligente”, a Comissão prevê uma maior recolha e partilha de dados de maneira a poder desenvolver “modelos mais precisos” sobre desastres naturais.

Segundo Timmermans, os dados permitirão que os agricultores “possam planear melhor as sementes que plantam”, que as famílias que compram casas “possam saber os riscos climáticos que podem enfrentar” e que as cidades saibam como “proteger os seus residentes de acontecimentos climáticos extremos”.

Nesta vertente, o executivo anunciou a criação de um Observatório Europeu para o Clima e a Saúde, que irá “analisar o impacto direto de acontecimentos quentes e frios extremos na propagação de novas doenças”.

No âmbito da adaptação “mais sistémica”, prevê-se um apoio maior ao “nível local”, através do fornecimento de “conselhos específicos” às “comunidades mais vulneráveis”, para que possam “encontrar o conhecimento para planear e os recursos para agir”.

“Também temos de considerar o impacto das alterações climáticas na política fiscal. Os acontecimentos climáticos extremos criam, em média, uma perda de 12 mil milhões de euros anuais na UE. Se não conseguirmos evitar um aumento de três graus na temperatura [até ao final do século], este valor pode subir até aos 170 mil milhões anuais”, informou Timmermans.

A terceira vertente, de adaptação “mais rápida”, visa “criar ligações entre a “adaptação e a implementação”.

“Iremos trabalhar com o Banco Europeu de Investimento para aumentar o financiamento para a adaptação. Também iremos intensificar a nossa colaboração com o setor dos seguros: a diferença de proteção ao clima ainda é elevada e, muito frequentemente, o fardo dos desastres naturais recai em famílias e empresas sem seguro”, apontou o comissário.

Além da dimensão interna da estratégia, a UE prevê também ajudar os parceiros externos a adaptarem-se ao aquecimento global, prevendo “aumentar o financiamento internacional para construir a resiliência climática” e “fortalecer as trocas e a cooperação global”, de maneira a aprender com países que estão “nas fronteiras das alterações climáticas” e que têm “experiências valiosas que podem ajudar a Europa a tornar-se mais resiliente” perante o clima.

“Os impactos climáticos fora das nossas fronteiras irão afetar cada vez mais também a Europa. Há muito que podemos aprender de países como o Bangladesh, ou pequenas ilhas no Pacífico: para eles, a adaptação tem sido uma tarefa existencial há já algum tempo, e existencial no sentido mais literal da palavra”, sublinhou Timmermans.

A UE comprometeu-se a atingir a neutralidade carbónica até 2050, estando, no entanto, a decorrer as negociações entre a presidência portuguesa do Conselho da UE e o Parlamento Europeu (PE) sobre a Lei Europeia do Clima, que implementará na legislação europeia as metas climáticas.

No entanto, os dois parceiros encontram-se divididos nas metas a introduzir relativamente a 2030: enquanto que o Conselho da UE prevê um corte de 55% das emissões, o PE é mais ambicioso e pede que haja um decréscimo de 60% relativamente aos níveis de 1990.

LUSA/HN

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