“Considero que se deve criar um Fundo de Recuperação de cerca de 210 milhões de euros (mais ou menos 10% do PIB), para fazer face a esse programa emergencial”, escreveu o ex-chefe do Governo na sua página no Facebook.
O Produto Interno Bruto (PIB) de 2019 de Cabo Verde foi estimado em 197,8 biliões (milhões de milhões) de escudos (1.790 milhões de euros).
Num texto intitulado “Agendar o Futuro”, José Maria Neves considerou que os recursos poderão ser mobilizados no plano interno – através de medidas fiscais e redução de custos de funcionamento da máquina pública – e junto a parceiros externos bilaterais e multilaterais (doação, renegociação da dívida e empréstimos concessionais).
Sublinhando que especialistas apontam para uma vacina dentro de 12 a 18 meses, José Maria Neves entende que o país deve “aprender a conviver com o vírus” e ir adaptando as medidas de política às circunstâncias.
“O essencial é controlar a propagação e evitar mortes. Temos pela frente um hercúleo trabalho pedagógico e de educação para a cidadania. Só por essa via se conseguirão a adesão e o contributo de todos”, disse.
Para o ex-primeiro-ministro (2001-2016) do Partido Africano da Independência de Cabo Vede (PAICV, agora na oposição), o impacto da pandemia da covid-19 em Cabo Verde será “muito grande” e a “devastação social e económica atingirá proporções gigantescas”.
Contração económica, recuperação lenta do turismo, aumento da taxa de desemprego e da pobreza e redução dos rendimentos das pessoas e das famílias, são alguns dos impactos apontados por José Maria Neves, que considerou ser essencial o apoio às empresas.
Por outro lado, considerou que “o país deve preparar-se para conceber e implementar uma agenda política revolucionária, capaz de transformar profundamente os paradigmas institucionais, socioeconómicos e políticos e responder aos desafios que se nos colocam nos tempos mais próximos”.
Neste sentido, propôs uma agenda de médio e longo prazo, com 10 medidas, que começam como um programa de reconstrução pós-pandemia, envolvendo o apoio à recuperação de empresas e a criação de emprego e de oportunidades a famílias vulneráveis.
Reforma e modernização do Estado e da Administração Pública, transição digital, transformação do sistema educativo e da formação profissional, uma profunda reforma do Sistema Nacional de Saúde e um programa de mobilização de água são outras das medidas que o ex-primeiro-ministro detalha no texto.
“Insisto numa ideia que me é cara: é fundamental um pacto de reconstrução nacional, envolvendo o Governo, os partidos e os principais atores políticos, económicos e sociais, com os consensos e acordos que são essenciais para que o país possa fazer face a tão grave crise”, continuou, defendendo que não é tempo de pensar em eleições, mas sim de “pensar cumprir Cabo Verde”.
Cabo Verde regista 230 casos de covid-19, distribuídos pelas ilhas de Santiago (171), Boa Vista (56) e São Vicente (03).
O país totaliza 56 doentes considerados recuperados, dois óbitos e dois pacientes que viajaram para os seus respetivos países, totalizando, por isso, 170 doentes internados.
As ilhas de Santiago e da Boa Vista, por concentrarem os casos de covid-19 em Cabo Verde, são as únicas que permanecem em estado de emergência, até às 24:00 de 14 de maio.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou cerca de 274 mil mortos e infetou mais de 3,9 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Mais de 1,2 milhões de doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
LUSA/HN
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