Para mais, o objetivo de reduções, aguardado por todos os lados com expectativa, vai assinalar até onde Biden está disposto a avançar, de forma agressiva, no combate à emergência climática.
De um lado, os republicanos acusam Biden de favorecer uma abordagem que elimina empregos, mas à esquerda há quem aponte a insuficiência da ambição para responder à grave ameaça da rutura climática.
A crise climática coloca um desafio político complexo a Biden, uma vez que o problema é complexo de observar e muito mais difícil de apresentar resultados do que os pacotes de medidas de alívio dos efeitos da pandemia ou de investimento nas infraestruturas.
O objetivo que Biden escolher “estabelece o tom para o nível de ambição e o ritmo de redução de emissões ao longo da próxima década”, afirmou Kate Larsen, uma antiga assessora da Casa Branca, que ajudou a desenvolver o plano de ação climática do antigo presidente Barack Obama.
O número tem de ser realizável até 2030, mas agressivo o suficiente para satisfazer cientistas e ativistas que consideram que a próxima década é crucial, uma oportunidade decisiva para inverter a tendência de aquecimento global, acrescentou Larsen, à semelhança de outros cientistas.
Cientistas, ambientalistas e até empresários estão a apelar a Biden para estabelecer um objetivo que permita a redução das emissões dos EUA para menos 50% abaixo dos níveis de 2005 até 2030.
Este objetivo de 50%, que vários analistas consideram um resultado provável das intensas negociações em curso na Casa Branca, iria quase duplicar o compromisso anterior dos EUA e requerer mudanças dramáticas nos setores da energia e transportes, incluindo aumentos significativos na energia renovável, como a eólica e a solar, e cortes profundos nas emissões dos combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo.
Qualquer valor abaixo destes 50% poderia minar a promessa de Biden de prevenir um aumento médio da temperatura superior a 1,5 graus Celsius, consideram analistas, e suscitar críticas fortes de aliados e dos próprios apoiantes de Biden.
O objetivo é significativo, não apenas como meta visível dos EUA para alcançar, mas também para “alavancar outros países”, adiantou Larsen.
“Isto ajuda internamente na batalha que se vai suceder, que é a de concretizar políticas para alcançar o objetivo”, adiantou,
O objetivo para 2030, conhecido como Contribuição Nacionalmente Determinada (DNC, na sigla em Inglês) é uma componente chave do Acordo de Paris, a que os EUA regressaram no primeiro dia da presidência de Biden. Vai ser também uma importante marca no percurso para alcançar o objetivo de Biden de alcançar a neutralidade carbónica até 2050.
“Claramente, a ciência requer pelo menos 50%” na redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030, disse Jake Schmidt, especialista em clima no Conselho de Defesa dos Recursos Naturais (Natural Resources Defense Council, em Inglês), um dos principais grupos ambientalistas do país.
O objetivo de 50% “é ambicioso, mas é viável”, disse em entrevista. É também uma boa mensagem climática, acrescentou: “As pessoas sabem o que significa 50% – é metade”.
Seja qual for o objetivo escolhido por Biden, a cimeira climática em si “prova que os EUA que estão de regresso para se juntarem aos esforços internacionais”, disse Larsen, agora na direção do Rhodium Group, uma entidade independente de investigação.
A cimeira “é o tiro de partida para a diplomacia climática”, depois de um “hiato” de quatro anos sob Donald Trump, acrescentou.
O enviado de Biden para o clima, John Kerry, tem estado a contactar vários líderes internacionais, incluindo o seu homólogo na China, em busca de compromissos e alianças nos esforços climáticos.
O secretário de Estado, Antony Blinken, já disse que os EUA estão a ficar atrás da China, o maior produtor e exportador mundial de painéis solares, turbinas eólicas, baterias e veículos elétricos.
“Se os EUA não recuperarem, vão perder a hipótese de moldar o futuro climático do mundo de uma forma que reflita os seus interesses e valores e perder incontáveis empregos para o povo (norte-)americano”, disse Blinken na segunda-feira, durante um discurso em Annapolis, no Estado do Maryland.
NR/HN/LUSA
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