“Praticamente nada na nossa rotina mudou por causa do vírus. Não falamos muito sobre a pandemia”, disse à agência Lusa a irmã Maria da Trindade, superiora do Carmelo da Santíssima Trindade, na Guarda, com religiosas dos 30 aos 80 anos.
Ali o novo coronavírus não entrou até agora.
“Não temos medo, mas prudência. As compras que nos trazem ficam 24 horas num espaço próprio antes de as arrumarmos. Também, por segurança, não recebemos visitas”, afirmou a irmã Maria, acrescentando: “Sabemos que se uma apanhar [o novo coronavírus], é natural contagiar as outras”.
As carmelitas dizem ainda experimentar momentos de verdadeira generosidade. “Temos recebido muitas ajudas dos nossos amigos, não nos tem faltado nada”.
Já no Mosteiro de Singeverga, em Santo Tirso, a Covid-19 apanhou de surpresa todos os monges.
O abade Bernardino Costa admitiu que “tinha tudo pensado” para o caso de se registar “um, dois, três ou quatro casos”, e a necessidade de “isolá-los”. A realidade, porém, foi outra, e dos 23 monges do mosteiro, 17 já testaram positivo à Covid-19.
“Não entrámos em pânico, mas tomámos decisões desde logo. Fiquei com receio, temos monges com idade avançada, diabéticos. Os funcionários foram dispensados para não haver risco. Encerrou-se a hospedaria. Contactou-se uma empresa de alimentação para nos trazer as refeições ao mosteiro”, explicou Bernardino Costa, ele próprio atingido pela doença e que teve necessidade de ser hospitalizado durante 24 dias.
“Quando se vive em comunidade, partilha-se tudo, o bom e o mau”, resumiu.
Já as religiosas Leonor e Inês, monjas concepcionistas franciscanas, do Mosteiro de Santa Beatriz, em Viseu, com 31 e 22 anos, respetivamente, não deixam de apontar que numa contrariedade “há sempre um sentido e pode sempre tirar-se algo bom. É meio caminho andado para se encarar de outra forma” a situação que se está a viver com a pandemia de Covid-19.
A mesma perspetiva é admitida pelo padre Filipe Santos, que acompanha espiritualmente as irmãs enclausuradas do Mosteiro da Imaculada Conceição de Campo Maior, e segundo o qual a rotina e a missão deste mosteiro não mudaram.
Este mosteiro foi também afetado no início deste ano por um surto que atingiu um “considerável número” de monjas, como informou na ocasião o arcebispo de Évora, Francisco Senra Coelho, em nota, adiantando que as religiosas afetadas estiveram em “isolamento total” nas suas celas.
Agora, a situação já é diferente e “as irmãs já recebem pedidos de oração de gente em desespero. Talvez com a pandemia se tenha intensificado um pouco mais, mas isso já faz parte da sua missão”, considera.
Se a intensidade da oratória não oscila, o foco pode mudar, associando-se a causas específicas, como a proposta que foi feita no início da pandemia de oração pelos profissionais de saúde.
Já a irmã Verónica Benedito, da Aliança de Santa Maria, em Fátima, tem um trabalho contrário ao da clausura. Tem como função o serviço comunitário de “evangelizar segundo a mensagem” dos videntes de Fátima através da presença nas celebrações dominicais, em atividades para a juventude, conferências, palestras e acompanhamento de casais.
Com a limitação do contacto físico, os confinamentos e as restrições governamentais, “os trabalhos têm continuado por Zoom” e a pandemia obrigou a “perceber que agora era prioritária a evangelização via ‘online’”, notou a freira.
A vida e a missão de quem já está enclausurado não muda, reconheceu, por sua vez, o padre Filipe dos Santos, do Seminário de Caparide, em Cascais.
“Para estas irmãs, enclausuradas por opção, o confinamento não trouxe alteração no ritmo do dia a dia. Uma irmã não sente grande diferença deste tempo face ao tempo que não havia pandemia”, frisou.
O sacerdote adiantou, por outro lado, que [as freiras de clausura] “serem na Igreja esta retaguarda silenciosa, mas presente pela oração”, não lhes traz “uma crise”, mas “clarifica a sua vocação”.
LUSA/HN
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