Investigadoras na área do envelhecimento defendem plano de recuperação para os lares

24 de Maio 2021

A pandemia levou a uma perda de capacidades cognitivas e motoras em pessoas mais vulneráveis, por falta de estimulação, nomeadamente nos lares, e é necessário o Governo implementar um Plano de Recuperação para esta área, defendem duas investigadoras.

Rosa Marina Afonso, professora de Psicogerontologia na Universidade da Beira Interior (UBI), com investigações sobre o impacto da Covid-19 nos profissionais das Estruturas Residenciais Para Pessoas Idosas (lares), considera “ser imperativo” pensar “uma fase pós-pandémica” para esta população, mas também para pessoas com deficiência ou em cuidados de longa duração.

À semelhança do que está a acontecer com a economia ou a educação, a investigadora defende a criação, por parte do Governo, de “planos de recuperação que reforcem as estruturas com meios que permitam tentar recuperar os níveis de funcionamento” de algumas pessoas.

Assunção Vaz Patto, neurologista e professora no mesmo estabelecimento de ensino superior, onde leciona cadeiras de Geriatria, frisou que a pandemia veio mostrar “as fragilidades do sistema”, o “problema gravíssimo de idosos dependentes” e afirmou ser “a altura certa” para se pensar em novas respostas, novas maneiras de encarar o envelhecimento, como pensar num envelhecimento ativo e saudável.

A investigadora salientou o agravamento do estado de pessoas que já manifestavam limitações. Com o isolamento, devido à pandemia, há uma degradação “em termos cognitivos e motores, porque as pessoas deixaram de ser estimuladas, e a parte afetiva acaba por influenciar tudo o resto”.

“Eu tenho doentes que simplesmente não conseguem entender porque é que os filhos deixaram de os visitar. Tenho observado nas consultas que há um agravamento muito grande a nível cognitivo e motor, com o sofrimento todo que isto provoca”, destacou Assunção Vaz Patto, em declarações à agência Lusa.

Rosa Marina Afonso lamentou os diferentes ritmos a que o desconfinamento está a ser feito, com prejuízo para os residentes em lares, onde em várias instituições existem ainda muitas limitações e algumas atividades foram interrompidas.

A professora do Departamento de Psicologia e Educação da UBI preconizou a necessidade de “planos de recuperação dessas pessoas ao nível da fisioterapia, de estimulação cognitiva, de retomar os laços intergeracionais”, entre outras áreas de intervenção.

Rosa Marina Afonso vincou o esforço feito pelos funcionários das ERPI, uma profissão “pouco valorizada em termos de salários e de condições de trabalho” e que “foram uns heróis”, agora “esgotados pelo esforço feito”. À agência Lusa, a investigadora acrescentou a dificuldade de a maioria das instituições, individualmente, terem recursos para assegurarem esse reforço de meios para ajudar a recuperar capacidades perdidas.

A investigadora considera dever ser o Estado a “dar ajuda adicional, quer a nível de recursos financeiros, quer na dotação de meios técnicos”.

“Vejo isto como uma necessidade. Há técnicos que se esforçaram imenso e deve haver uma previsão de recursos adicionais para conseguirem continuar o seu percurso”, salientou, à agência Lusa, Rosa Marina Afonso, para quem é fundamental repensar os cuidados prestados e “centrá-los mais em cada pessoa, em vez de ser uma atenção padronizada”.

A docente da UBI sustentou ser necessário “alertar que tem de se fazer uma intervenção muito dignificante junto das pessoas mais velhas e em particular para as que estão nas instituições, mas não só”, porque “as pessoas, à medida que vão envelhecendo, precisam mais desse treino das suas funções”.

“Acho que devia haver um estudo, um Plano de recuperação específico para ERPI, mas alargado a todas as pessoas com vulnerabilidades e que estiveram mais confinadas, não só idosas, porque há por exemplo pessoas com deficiência ou em cuidados de longa duração”, defendeu a docente de Psicogerontologia.

A investigadora chamou ainda a atenção para “as assimetrias” no desconfinamento, tendo em conta as diferentes faixas etárias.

“Fala-se nas crianças que estiveram no ensino ´online`, que é preciso pensar como vão ser supridas estas lacunas. Então e em relação às pessoas que estão nos lares, que têm vulnerabilidades, mas que devem continuar a ter os seus direitos e também ficaram com muitos mais défices?”, questionou Rosa Marina Afonso, que advogou a implementação de “cuidados redobrados”.

Para Assunção Vaz Pato: “Temos de começar a encontrar soluções para o que temos em mãos, que é mau”.

LUSA/HN

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