ARS-Norte centraliza leitura e partilha de exames criando ganhos de tempo e dinheiro

28 de Maio 2021

Ganhos em tempo e dinheiro, bem como evitar a duplicação de exames, são vantagens do e-MCDT, um projeto que a Administração de Saúde Regional do Norte (ARS-N) criou para centralizar a leitura e partilha de radiografias, foi esta sexta-feira divulgado.

“A grande inovação do projeto é que existe um arquivo central de imagens e o relato [análise do exame] é centralizado também. O projeto está operacional em 19 salas de radiografia distribuídas por 16 locais e o objetivo é estender a toda a região e aos hospitais”, descreveu a coordenadora do projeto, Joana Abreu.

Em causa está uma aposta da ARS-N, que em 2018 avançou com o e-MCDT em Moimenta da Beira e, entretanto, o estendeu ao Porto, Gaia, Gondomar, Penafiel, Baião, Cinfães, Arouca, Montalegre, Alijó, Vila Real, Lamego, Barcelos e Póvoa de Varzim.

Até ao momento foram realizados aproximadamente 140 mil exames de radiologia ao abrigo deste programa, cujo nome vem de “Meios Complementares de Diagnóstico” (MCDT).

Além dos cuidados de saúde primários, também o Hospital de Santa Maria Maior, no concelho de Barcelos (Braga), decidiu aderir, e está a ser preparada a integração do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro.

À Lusa, Joana Abreu, diretora técnica das unidades de radiologia da ARS-N, disse ter expectativa de que o e-MCDT alcance outros parceiros de âmbito hospitalar “em breve”.

“Na prática estamos a falar da simplificação do processo que envolve os exames de radiografia convencional, os chamados raio-X”, disse.

Até à chegada desta aposta da ARS-N, os médicos de família requisitavam o exame e o utente tinha de se deslocar a um centro convencionado para o realizar, recolhê-lo mais tarde e deslocar-se de novo ao centro de saúde para o mostrar ao profissional que o pediu.

Coloque-se o cenário de Cinfães, concelho do distrito de Viseu, e do utente Américo Barreto, um antigo metalúrgico de 74 anos que se deslocou ao Centro de Saúde por causa de uma dor forte nas costas e saiu com a necessidade de fazer um raio-X.

“Se não pudesse ter ido à sala de radiografia do meu Centro de Saúde, que agora já funciona, tinha de ir a um privado no Marco de Canaveses que fica a 30 quilómetros e só há dois transportes por dia para ir e vir. Isto é terra de pessoas idosas. Era muito complicado. Assim, nem tive de ir entregar o exame à médica”, descreveu o utente à Lusa.

Recorrer a um convencionado era a prática comum antes do e-MCDT da ARS-N ser espalhado pela região.

Isso acontecia apesar de existirem salas de radiografia e técnicos, mas a inexistência de médicos especializados em todos os locais não permitia a leitura dos resultados.

“O que a ARS-N fez foi centralizar o processo, criando um arquivo único e quem relata os exames efetuados em todos os CDPs [Centros de Diagnóstico Pneumológico] é o CDP do Porto”, descreveu Joana Abreu.

O relatório fica disponível no sistema em quatro a cinco dias.

O processo de Américo Barreto foi levado a cabo pela equipa onde trabalham Gabriela Oliveira, médica de família da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) de Cinfães, e Filipa Soares, técnica de radiologia do Centro de Diagnóstico Pneumológico do mesmo concelho.

Ambas avaliam este projeto da ARS-N como “uma mais-valia” quer para utentes, quer para profissionais, uma vez que agora também foi estabelecida uma espécie de ‘via verde’ entre médicos e técnicos.

“Em menos de uma semana conseguimos ter o exame relatado pelo médico radiologista, o que também é uma enorme vantagem porque diminui possíveis erros de interpretação”, apontou Gabriela Oliveira.

Já Filipa Soares, técnica de radiologia em Cinfães desde novembro de 2009, somou ao acesso direto ao médico radiologista do CDP do Porto “para apoio e esclarecimento de dúvidas” o facto de o equipamento que já se encontrava instalado ter sido rentabilizado.

“E, durante a pandemia, isto foi muito importante porque mesmo para vir cá os utentes tinham medo, duvido que fossem a outros concelhos”, contou a técnica.

Este projeto inclui uma unidade móvel que se desloca para fazer rastreios.

No período mais crítico da pandemia da Covid-19, o CDP do Porto também relatou exames e enviou para centros hospitalares de referência, como o São João e o Santo António.

Dados enviados à Lusa pela ARS-N dão conta de que até à criação deste projeto “não existia nenhum processo que permitisse que os exames da rede convencionada fossem arquivados e partilhados com os médicos do SNS [Serviço Nacional de Saúde]”.

“O projeto de radiologia integra-se num amplo projeto de reorganização dos MCDT, que permitirá reestruturar e consolidar os exames/análises na área de abrangência da ARS-N, intervindo na reorganização dos processos de requisição, execução, armazenamento e disponibilização dos MCDT”, concluiu a fonte.

LUSA/HN

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