A IQVIA, com o apoio da Biogen, divulgou o estudo “Medicamentos Biossimilares no Mercado Português – Impacto e Evolução”, que analisa a utilização hospitalar de medicamentos biossimilares nas especialidades de dermatologia, gastroenterologia e reumatologia em Portugal.
Segundo este documento, os biossimilares nestas áreas têm vindo a crescer em volume nos últimos sete anos em Portugal, representando atualmente cerca de metade da quota de mercado dos medicamentos biológicos em dias de tratamento (49% de quota no segundo trimestre de 2020).
Para Anabela Fernandes, diretora geral da Biogen Portugal, citada no comunicado da Biogen, “mais do que uma tendência crescente – e que se aproxima de outros países como Espanha (54%) e França (53%) – a penetração dos biossimilares no mercado português tem vindo a acelerar à medida que os especialistas e os próprios hospitais ganham experiência e confiança na utilização destas terapêuticas no tratamento de diversas doenças – uma vez que apresentam um perfil de qualidade, segurança e eficácia similar aos seus medicamentos de referência”.
Contudo, acrescenta, “ainda há um longo caminho a percorrer, quer ao nível da aceitação da sua utilização e dos seus benefícios para os doentes, para o sistema de saúde e também para o setor farmacêutico, quer ao nível da regulamentação desta área – basta pensarmos que o Reino Unido apresenta uma quota de mercado para as três moléculas analisadas de 84%”.
Apesar do crescimento em volume, o estudo da IQVIA revela que a mesma tendência não se verifica no valor (preço) dos medicamentos biológicos, que tende a baixar sempre que ocorre uma perda de patente e, consequentemente, um aumento da concorrência com a entrada de biossimilares no mercado.
Mas para os especialistas entrevistados para este estudo – médicos dermatologistas, gastroenterologistas, reumatologistas e diretores de serviços farmacêuticos hospitalares –, esta quebra é um sinal positivo para a saúde como um todo, na medida em que permite uma redução dos custos dos hospitais com terapêuticas – entre 20% a 40% no tratamento de doenças autoimunes –, levando a um alargamento do acesso de doentes ao tratamento, com um menor custo, e a uma maior sustentabilidade do sistema de saúde.
Médicos querem iniciar tratamentos com biossimilares, mas apresentam resistência para efetuar switch
Esta é outra das conclusões da análise da utilização de medicamentos biossimilares em 21 centros hospitalares portugueses. De acordo com o estudo, atualmente, 93% dos gastroenterologistas, 86% dos reumatologistas e 83% dos dermatologistas prescrevem medicamentos biológicos para o tratamento de doenças autoimunes, dos quais 24% em gastroenterologia e 12% em dermatologia e reumatologia dizem respeito a biossimilares.
Ainda que os especialistas digam ser provável iniciarem uma terapêutica com biossimilares junto de um novo doente com doença autoimune – 100% dos gastroenterologistas e 70% dos dermatologistas e reumatologistas afirmam fazê-lo –, o mesmo não acontece na transição do medicamento originador para um medicamento biossimilar em doentes em tratamento. O estudo indica que apenas 7% dos doentes de reumatologia, 5% de gastroenterologia e 2% de dermatologia concretizaram efetivamente o switch para biossimilares.
Para José Pereira da Silva, diretor do Serviço de Reumatologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, “os médicos aceitam cada vez mais o switch para biossimilares, dado que a eficácia, segurança ou tolerabilidade destes medicamentos estão largamente demonstradas pelos ensaios clínicos e prática clínica. No entanto, a adesão efetiva a essa medida depende principalmente das medidas de regulação a nível nacional e hospitalar. O mesmo se passou noutros países: a penetração dos biossimilares é maior nos países onde a orientação política foi mais decidida no sentido da prescrição preferencial do fármaco mais acessível”.
O estudo revela ainda que, para os especialistas, os principais fatores para a adoção de biossimilares são o seu custo reduzido, a decisão do hospital, o modo de administração e o tempo em terapêutica.
Sobre a importância de adotar biossimilares na prática clínica, José Pereira da Silva comenta: “a introdução de biossimilares permitiu tratar um maior número de doentes com medicamentos altamente eficazes, ao mesmo tempo que se baixava a despesa hospitalar. Os recursos da saúde são sempre limitados e insuficientes, impondo uma gestão criteriosa. A adesão aos biossimilares é, sem controvérsia, uma boa medida nesse sentido, possibilitando o tratamento de um maior número de doentes, e a poupança de recursos para investimento em inovação, algo que é essencial para tratar melhor os nossos doentes. Os países mais organizados e mais ricos são, curiosamente (ou talvez não), os que adotaram medidas mais decididas no sentido de promover este caminho”.
Um biossimilar ou medicamento biológico similar é um medicamento desenvolvido a partir de uma substância ativa biológica conhecida e que tem como objetivo disponibilizar uma resposta terapêutica para determinada doença; neste caso, à mesma doença que o medicamento biológico original (medicamento de referência). Um medicamento biossimilar pode surgir no mercado após a perda da patente do seu medicamento de referência, e a sua produção deverá assegurar a biossimilaridade dos dois medicamentos, ou seja, para ser aprovada a sua comercialização, o biossimilar terá de apresentar o mesmo ou similar perfil de qualidade, segurança e eficácia que o medicamento de referência.
PR/HN/Rita Antunes
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