Hipertensão na gravidez associada a maior risco de AVC nos filhos

7 de Julho 2021

Um estudo com 5,8 milhões de crianças identificou uma incidência maior de AVC, quatro décadas mais tarde, naquelas cujas mães tiveram hipertensão arterial ou pré-eclâmpsia durante a gravidez. A investigação foi apresentada em junho na conferência online ESC Heart & Stroke 2021, da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) sobre AVC.

“As nossas descobertas indicam que os distúrbios hipertensivos durante a gravidez estão associadas a um risco acrescido de AVC e de potenciais doenças cardíacas nos filhos, 40 anos anos mais tarde”, referiu a Dra. Fen Yang, autora do estudo e estudante de doutoramento do Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia. “São necessários estudos com um follow-up mais longo para confirmar os resultados e melhorar a compreensão dos possíveis mecanismos subjacentes”.

Estudos anteriores sugeriram que as crianças expostas a distúrbios hipertensivos das mães durante a gestação tinham um risco aumentado de nascer prematuramente, restrição do crescimento fetal e, mais tarde, fatores de risco cardiovascular, incluindo hipertensão, obesidade e diabetes. Mas a evidência de uma ligação direta com as doenças cardiovasculares graves ainda é limitada. Este estudo explorou esta ligação, focando-se na doença cardíaca isquémica e no acidente vascular cerebral.

Este estudo de coorte com base populacional utilizou os registos nacionais de dois países. Crianças nascidas na Suécia (1973 a 2014) e na Finlândia (1987 a 2014) foram seguidas para detetar doenças cardíacas isquémicas e acidentes vasculares cerebrais até 2014. Identificaram-se doenças hipertensivas da gravidez, incluindo hipertensão arterial (com início antes ou durante a gravidez), e pré-eclâmpsia (pressão arterial elevada e lesão de órgãos).

Os investigadores avaliaram os riscos de doença cardíaca isquémica e de acidente vascular cerebral relacionados com situações de pressão arterial elevada durante a gravidez. As análises foram ajustadas aos fatores que poderiam influenciar a relação, tais como o ano de nascimento da criança, sexo, anomalias congénitas e idade da mãe, estado civil, nível de educação, índice de massa corporal, tabagismo durante o período inicial da gravidez e história familiar de doença cardiovascular.

As análises foram repetidas após excluir as crianças nascidas prematuramente ou com diminuição do desenvolvimento fetal, situações que estão associadas a um risco acrescido de doença cardiovascular.

Foram realizadas avaliações de irmãos para controlar o efeito potencial de fatores genéticos e ambientais não medidos. Estas análises incluíram pares de irmãos discordantes tanto para a exposição (perturbações de gravidez hipertensiva) como para o resultado (doença cardíaca isquémica/acidente vascular cerebral).

Entre mais de 5,8 milhões de crianças em estudo, 218.322 (3,76%) nasceram de mães com perturbações hipertensivas durante a gravidez. Ao longo de 41 anos de seguimento, 2.340 (0,04%) foram diagnosticadas com cardiopatia isquémica e 5.360 (0,09%) com AVC.

Os filhos expostos a perturbações maternas hipertensivas durante a gravidez registaram um risco acrescido de doença cardíaca isquémica e de acidente vascular cerebral, da ordem dos 29% e 33%, respetivamente. Estas associações eram independentes do nascimento prematuro e da restrição do desenvolvimento fetal. Nas avaliações dos irmãos, a associação permaneceu para o AVC mas não para a cardiopatia isquémica.

De acordo com a autora do estudo, “a análise dos irmãos sugere que os fatores genéticos ou ambientais partilhados foram os principais contribuintes para a associação entre as perturbações da gravidez hipertensiva e o risco de doença cardíaca isquémica. Contudo, o risco acrescido de AVC persistiu, indicando a possibilidade de efeitos intra-uterinos diretos”.

“Este foi um dos poucos estudos nesta área, sendo necessária mais investigação”, defende a Dra. Fen Yang. “Foi um estudo observacional e não podemos tirar conclusões sobre causalidade. Mas se as nossas conclusões forem apoiadas por estudos adicionais, poderão ser tomadas medidas para prevenir doenças cardiovasculares em crianças expostas a distúrbios hipertensivos durante a gravidez de suas mães. Por exemplo, concentrando-nos na saúde materna e na triagem de crianças com fatores de risco, tais como a pressão arterial elevada no início da vida”.

Informação bibliográfica:

Abstract title: Associations of maternal hypertensive disorders during pregnancy with offspring risks of ischemic heart disease and stroke: a Nordic cohort study.

https://www.alphagalileo.org/en-gb/Item-Display/ItemId/208775?returnurl=https://www.alphagalileo.org/en-gb/Item-Display/ItemId/208775

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