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Autismo, escola em tempos de COVID-19
O Autismo é uma perturbação do neurodesenvolvimento que afeta e prejudica a funcionalidade da criança, do jovem e do adulto.
De uma forma clara pretendo informar e sensibilizar, sobre o que temos de perceber e conhecer para agir, de forma conscienciosa e responsável, junto das famílias e técnicos da educação e de saúde que com eles interagem.
Com características tão especiais e peculiares, estas crianças necessitam de ajuda, de apoio especializado e continuado a nível das suas áreas mais prejudicadas. São estas as áreas da comunicação social revelando-se através de deficits persistentes na linguagem verbal e não verbal nos mais diversos contextos, em que se movimenta, assim como o frágil ou mesmo o ausente entendimento de si e dos outros, assim como o desenvolvimento espontâneo para a aquisição de algo sem ajuda.
De uma forma mais leve, moderada ou mais severa é presente no autista. Outros aspectos como a incapacidade da reciprocidade socioemocional, o que prejudica, de forma muitas vezes agravada, qualquer tipo de interação e de comportamentos socialmente esperados. As habilidades necessárias devido aos comprometimentos que caracterizam o Autismo, não estando presentes espontaneamente, o que desde muito cedo é possível identificar e detectar e necessitam de modelos e intervenções psicopedagógicas e terapêuticas, ajustadas às suas reais necessidades.
A escola desenvolve e sempre desenvolveu um papel crucial pela implementação da inclusão para o Autismo. Sendo a Inclusão pelo acesso à escola, considerada pela sua ideologia, e pelos seus princípios e valores, promover a igualdade de oportunidades e diminuir ou mesmo erradicar preconceitos, crenças distorcidas, mitos sobre o que é ser diferente, introduzindo que a diferença em todos nós, nos faz únicos e especiais, esta situação em que, sem previsão nem preparação prévia de ninguém, nos conduz a refletir sobre vários aspetos e questões importantes, como os benefícios de frequentar a escola, de ser possível socializar e até colocar-nos através do treino da empatia, colocarmo-nos no lugar dos outros, dos professores, das famílias, das crianças no geral e em especial nos Autistas.
Pelos seus interesses, motivações, percepções de si próprios e do mundo tão diferente da de todos nós… que nos é visível através dos seus olhares (com ausência de foco atencional), estes comportamentos tão peculiares, pouco flexíveis, a incapacidade de lidar com a frustração, as dificuldades no planeamento e estruturação diária, de controlo inibitório, na tomada de decisão, e muitas vezes continuados, padronizados e rígidos, generalizados, e incomuns ao que estamos habituados, leva-nos a pensar, como fazer e como lidar nesta fase da nossa vida em que nos debatemos com algo maior a nível individual, grupal e social, pela presença silenciosa de um vírus, que se revela letal e bastante prejudicial fragilizando a nossa funcionalidade, privando-nos do acesso à escola, à socialização, tão importante para o autista; às nossas funções presenciais, ao apoio às famílias, ao exercício das nossas funções plenas, diretas e de forma alguma insubstituíveis.
Sem questionar prioridades atualmente, pela fase pandémica em que vivemos, sem exceção, implicando o nosso bem estar global e a nossa saúde no geral, não nos impede de perceber que o sofrimento, a dor da privação pelas famílias, as dificuldades mais visíveis, que as nossas crianças e jovens sem acesso direto à escola revelam e irão, ao longo dos tempos, ainda manifestar é de considerar.
A escola é muito mais que um espaço de transmissão de informação, de conhecimento, é um espaço feito de pessoas para pessoas que estão em desenvolvimento, a construir-se perante os seus modelos que são os professores, os colegas, os funcionários, em resumo a comunidade educativa em parceria com as famílias. Priorizando inevitavelmente as orientações nacionais e mundiais leva-nos a refletir sobre esta realidade que é o Autismo, do que realmente por exigências maiores e necessárias estão e estamos a ser privados.
O Autismo está cada vez mais entre nós e próximo de todos nós; em casa, nas escolas, em famílias, na sociedade e no mundo em geral. O que é extraordinário pelos tempos em que vivemos pela situação de saúde pública pelo Covid-19 e por questões de atuação rápida para prevenção e minimização de um surto maior de infeção e contágio, a que possivelmente podemos ser alvo e os nossos serviços a nível de saúde, não conseguirem dar a resposta mais célere e adequada nos tempos em que nos encontramos e com os recursos que os nossos serviços de saúde nos possibilitam, leva-nos a repensar a escola, a realidade, as nossas ações, as nossas prioridades, as formas diferenciadas de atuarmos no sentido de minimizarmos um agravamento a nível psicoemocional e de respostas comportamentais em crianças e jovens e demais população que fazem parte de um grupo, que já não é tão minoritário, como inicialmente se julgava pelos dados estatísticos, pelas pesquisas apresentadas do aumento significativo de crianças com Perturbação do Espectro do Autismo, no mundo atual.
O Autismo em fase de Covid-19 vive uma situação junto das suas famílias extremamente difícil! Tudo aquilo que nós enquanto profissionais da educação acreditamos que é importante e emergente ser trabalhado em prol de uma melhor adequação da funcionalidade dos mesmos, vemo-nos agora com enormes restrições em potenciar as suas capacidades, em retirá-los de padrões rígidos de comportamentos, estereotipias, rituais e de isolamento! Não sendo fácil, no entanto é importante não esquecer, que mesmo não sendo o ideal, é possível trabalhar com os mesmos, através de reforço do potencial parental, de habilitar os pais para as tarefas, de promover uma cooperação entre família, escola e profissionais, pelas plataformas digitais, e pelas tecnologias e redes sociais a que temos acesso, ou até ao recurso telefónico e via correio, aproximarmo-nos, orientarmos os pais e juntos, diminuímos algumas dificuldades que lhes são inerentes possibilitando estar próximo… continuando assim a desenvolver atividades e tarefas que se estivessem em contexto escolar possivelmente estariam a realizar, para não serem perdidas as rotinas que lhes são essenciais, como por exemplo os pais estabelecerem horários de despertar, da higienização, os horários de tarefas estruturadas, promoverem momentos lúdicos e de relação diádica e mais alargada, caso a família nuclear o permita, sem colocar em causa as diretrizes de saúde publica. Vamos acreditar que somos capazes.
Vamos acreditar que estamos a fazer o melhor e que as nossas escolas estão em conjunto e em rede a ajudar todos independentemente das suas dificuldades respeitando o potencial de aprendizagem de cada um em particular e de todos no geral. Não podemos retroceder… não podemos segregar. É tempo da escola se reinventar.
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