Porque é que SARS-CoV-2 pode não ser transmitido de forma efetiva através do contacto com superfícies

22 de Maio 2020

Fora de um organismo vivo, na maior parte das condições do meio em que vivemos, os vírus ficam sujeitos a condições físicas e químicas, como variações de temperatura, desidratação, e outras que podem acabar por destabilizá-los e inviabilizar a sua ação

Recentemente, a Organização Mundial de Saúde referiu que não é possível confirmar se o SARS-CoV-2 infeta os humanos após o contacto com superfícies contaminadas. Esta é uma informação aparentemente contraditória face às conclusões de alguns estudos científicos, que revelam que o vírus se mantém ativo durante algum tempo sobre superfícies como plástico ou metal. Miguel Castanho, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) e Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, explica que “os estudos científicos são feitos em condições controladas, tipicamente com superfícies de materiais puros, limpos, em temperatura e humidade controlada. Estes estudos estabelecem que o SARS-CoV-2 tem um potencial de se manter ativo por períodos mais ou menos longos, que variam entre horas e dias. O que a OMS vem dizer é que esse potencial pode eventualmente não se concretizar na maioria das condições práticas do dia-a-dia, isto é, não existe prova que esse potencial esteja a ser efetivamente uma via de contágio muito significativa”.

“Um vírus não tem metabolismo próprio nem se multiplica por si só – para isso precisa de uma célula. Não é considerado vivo por esta razão, embora consiga interferir com a vida. Quando interage com células onde consegue entrar, transforma as células em “fábricas” de novos vírus. Contudo, para interferir com uma célula, os vírus têm de ter composições e estruturas bem definidas. As moléculas que compõem os vírus e a sua organização são relativamente frágeis. Dentro do organismo do hospedeiro as condições são amenas para os vírus: a temperatura varia pouco, o pH é relativamente constante e todo o ambiente é biológico”. Contudo, quando fora de um organismo vivo, na maior parte das condições do meio em que vivemos, os vírus ficam sujeitos a condições físicas e químicas, como variações de temperatura, desidratação, oxidações, adesão a superfícies gordurosas, etc, que podem acabar por destabilizá-los e inviabilizar a sua ação.

Assim, Miguel Castanho acredita que a “transmissão mais significativa e mais favorável aos vírus é a passagem de uma pessoa diretamente para outra pessoa, em partículas exaladas por uma e inaladas por outra. Havendo contágio através dos objetos, ele não será tão significativo; além das condições adversas que os vírus podem enfrentar sobre os objetos, a transmissão é muito indireta: exalação de uma pessoa – mão dessa pessoa – objeto – mão da outra pessoa – cara da outra pessoa – vias respiratórias”. Ainda assim, o investigador reforça que “devemos ser cautelosos e alguns procedimentos simples podem fazer a diferença: uso de máscara sempre que há proximidade de outras pessoas e lavagem das mãos” e, conclui, “não podemos controlar a desinfeção de todos os objetos, mas podemos controlar a lavagem das nossas mãos e mantermo-nos protegidos”.

LUSA/HN

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