Exército avança com projeto para descontaminação de máscaras

23 de Abril 2020

Lisboa, 23 abr 2020 (Lusa) – Uma equipa de militares, empresas e académicos portugueses vai construir um protótipo de uma “câmara de descontaminação” a seco para permitir a reutilização de máscaras respiratórias usadas pelos profissionais de saúde, anunciou hoje o Exército.

Lisboa, 23 abr 2020 (Lusa) – Uma equipa de militares, empresas e académicos portugueses vai construir um protótipo de uma “câmara de descontaminação” a seco para permitir a reutilização de máscaras respiratórias usadas pelos profissionais de saúde, anunciou hoje o Exército.

A tecnologia utilizada consiste num novo “descontaminante gasoso baseado em nanopartículas”, desenvolvido e patenteado por uma `start-up´ nascida na incubadora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a Delox, que estava a ser testado no decorrer de um outro projeto militar de “descontaminação de agentes de bioterrorismo”, já há um ano e meio.

No final do período de testes, a equipa comprovou um alto nível de eficácia do novo agente e pensou que podia utilizá-lo para ajudar ao combate à pandemia de covid-19, disse à Lusa o major veterinário Wilson Antunes, investigador principal, a prestar serviço na Unidade Militar Laboratorial de Defesa Biológica e Química do Exército.

Em parceria com a Delox e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a equipa concorreu ao programa especial da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FTC) para apoiar soluções no combate à covid-19, propondo-se criar um protótipo de uma “câmara de descontaminação transportável”, que possa ser colocada em ambiente hospitalar e nos centros de saúde e descontaminar máscaras para posterior reutilização.

Durante a pesquisa de literatura científica, a equipa deparou-se com um estudo realizado nos EUA, de 2016, que já validava a eficácia do peróxido de hidrogénio gasoso como descontaminante de máscaras respiratórias.

Com o estudo como ponto de partida, Wilson Antunes explicou que “o produto desenvolvido pela Delox é ainda mais eficaz, porque a nova tecnologia reduz a microcondensação”, ao conjugar o agente descontaminante com nanopartículas.

Com esta “descontaminação a seco”, mantém-se a integridade das máscaras respiratórias, permitindo a sua reutilização com total segurança, defendeu Wilson Antunes.

Nos testes já realizados – e cujos bons resultados motivaram a equipa a avançar para esta nova aplicação – a equipa trabalhou com “esporos bacterianos, os microrganismos mais resistentes da natureza, que sobrevivem até à radiação espacial”, explicou o investigador.

“Usámos os esporos bacterianos como agente modelo da descontaminação e como estamos no espectro mais resistente, se destruímos este microrganismo, matamos todos os outros”, sublinhou.

A equipa irá criar um “isolador”, ou seja, uma “caixa estanque, transportável, integrada com o sistema de descontaminação e de ventilação que vai permitir a remoção também do agente descontaminante”, adiantou.

O contrato entre a FTC e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que lidera o consórcio criado para pôr o projeto em prática, vai ser assinado no próximo dia 27, e tem a duração de dois meses, no valor de 29.500 euros, disse o major veterinário Wilson Antunes.

O militar destacou ainda que o fator ambiental foi determinante na decisão de avançar com o projeto: “Nestes meses de pandemia, os consumos em plástico dispararam, em fabrico de equipamentos de proteção individual, sejam máscaras, viseiras e fatos”, materiais de usar e deitar fora, aumentando também a produção de resíduos.

Se a “descontaminação a seco” resultar como os investigadores esperam e for possível a comercialização do produto, “reduz-se a pegada ecológica” do combate à pandemia de covid-19, frisou.

O consórcio foi promovido pelo Laboratório de Defesa Biológica da Unidade Militar Laboratorial de Defesa Biológica e Química, com o apoio do IAPMEI [Agência para a Competitividade e Inovação] e o Hospital das Forças Armadas, onde será testado o protótipo, na fase final do projeto.

A equipa, que integra ainda o Centro de Investigação da Academia Militar, a Delox, a empresa Fardas 3B, e o Instituto Dom Luiz, da Universidade de Lisboa, “detém todas as valências necessárias para a síntese do descontaminante, desenho, produção e testagem dos protótipos à escala laboratorial e operacional”, adiantou o Exército.

Lusa/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

João Paulo Magalhães: É preciso investir na Prevenção, Organização e Valorização dos Médicos de Saúde Pública

João Paulo Magalhães, Vice-Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, defende para o próximo Governo três prioridades essenciais para a Saúde Pública: reforço da promoção da saúde e prevenção da doença, modernização e clarificação da organização dos serviços de Saúde Pública, e valorização das condições de trabalho e carreira dos médicos de Saúde Pública

AICEP aprovou investimentos de 300 ME em quatro empresas

A Agência para o Comércio Externo de Portugal (AICEP) aprovou um pacote de investimento de mais de 300 milhões de euros, em quatro empresas, criando mais de 1.200 postos de trabalho, adiantou hoje o Governo.

Evoluir o SNS: Reflexão de Luís Filipe Pereira sobre o Futuro da Saúde em Portugal

Luís Filipe Pereira, ex-ministro da Saúde, analisa os desafios estruturais do SNS, destacando a ineficiência do Estado nas funções de prestador, financiador e empregador. Defende a transição para um Sistema de Saúde que integre prestadores públicos, privados e sociais, promovendo eficiência e liberdade de escolha para os utentes.

Doze medidas de Saúde para qualquer novo governo

O Professor António Correia de Campos, Catedrático Jubilado e antigo Ministro da Saúde, aponta doze medidas de Saúde para qualquer novo Governo. Nelas, defende que os programas políticos para as legislativas de 18 de maio devem priorizar a integração das várias redes do sistema de saúde, reforçando a articulação entre hospitais, cuidados primários, cuidados continuados e ERPI. Propõe ainda soluções transitórias para a falta de médicos e aposta na dedicação plena para profissionais do SNS

Eixos centrais para a transformação e sustentabilidade do SNS

Ana Escoval, Professora Catedrática Jubilada da ENSP (NOVA) e vogal da Direção da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar, analisa as propostas dos partidos para as legislativas de 18 de maio, destacando a necessidade de inovação, integração de cuidados, racionalização de recursos e reforço da cooperação público-privada como eixos centrais para a transformação e sustentabilidade do SNS

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights