Sociedades científicas do Reino Unido e Espanha emitiram recentemente alertas que dão nota do aparecimento de alguns casos raros de crianças que são internadas por um quadro clínico grave e invulgar. , Tratam-se de doentes que têm um contexto epidemiológico de contacto com a doença COVID-19, por vezes com teste de PCR ou anticorpos positivos para SARS-CoV-2. A apresentação clínica destes doentes em idade pediátrica consiste num síndroma inflamatório sistémico grave que envolve vários órgãos e sistemas, incluindo sintomas gastro-intestinais como dor abdominal e lesões cutâneas, e eventual sobreposição de miocardite e alguns sinais de síndroma de Kawasaki. Este quadro clínico sugere um síndroma de choque tóxico e habitualmente requer internamento em cuidados intensivos.
Neste contexto, a Sociedade Portuguesa de Cardiologia vem reforçar que os dados atualmente disponíveis mostram que a apresentação clínica da COVID-19 em idade pediátrica é apenas muito raramente grave. Não temos, à data em que escrevemos este texto, conhecimento de nenhuma fatalidade no contexto desta eventual nova apresentação da COVID-19.
A doença de Kawasaki é uma vasculite inflamatória sistémica rara, de causa ainda não esclarecida – provavelmente secundária a agentes infeciosos – que causa um síndrome clínico em crianças geneticamente suscetíveis, podendo condicionar envolvimento coronário em 5-10% dos casos tratados. É excecional estes doentes necessitarem de cuidados intensivos em fase aguda. Não existe, neste momento, nenhuma evidência científica que sugira que doentes que tenham tido doença de Kawasaki no passado estejam agora mais suscetíveis de contrair a COVID-19.
A SPC alerta todos, que todas as crianças com sintomas sugestivos da COVID-19 (febre, tosse, dificuldade respiratória) que surjam com dor abdominal, exantema ou palidez cutânea e cansaço importante ou prostração, que contactem o médico assistente e as autoridades de saúde (serviço telefónico SNS 24) para orientação clínica.
Persiste atualmente um grande desconhecimento quanto a estas recentes formas de apresentação da COVID-19 e a SPC sugere que estas situações agora descritas são extremamente raras e devem ser valorizadas com um juízo prudencial, de modo a evitar alarmismos da população.
Prof. Dr. José Diogo Ferreira Martins e Dra. Conceição Trigo,
Cardiologistas Pediátricos
28 Abril 2020
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