Estudo nacional vai investigar relação entre o microbiota intestinal e a severidade da COVID-19

7 de Maio 2020

O novo estudo, vai investigar se a severidade da COVID-19 em indivíduos infetados com o novo coronavírus depende de microrganismos que habitam o intestino humano

Um estudo nacional liderado pela Professora Conceição Calhau, docente e investigadora da Faculdade de Ciências Médicas|NOVA Medical School da Universidade Nova de Lisboa, e financiado pela Biocodex e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), vai investigar se a severidade da COVID-19 em indivíduos infetados com o novo coronavírus depende de microrganismos que habitam o intestino humano. Os doentes serão recrutados em vários hospitais públicos do país e numa das unidades CUF de Lisboa, num total de 60 participantes.

De acordo com a investigadora, a evidência obtida neste estudo, intitulado Gut microbiota, Spark and Flame of COVID-19 Disease, “fornecerá prova do conceito de que o microbiota intestinal pode ser um fator crítico responsável pelo resultado clínico da doença infeciosa COVID-19”. Se os resultados confirmarem a hipótese, está aberto o caminho para que sejam impulsionadas “novas intervenções médicas direcionadas ao microbiota intestinal contra este tipo de vírus, por exemplo, com prebióticos1 ou probióticos2 associados a outras intervenções farmacológicas COVID-19 atualmente em desenvolvimento”.

A Biocodex, com 65 anos de experiência, chegou a Portugal em 2019 e está empenhada em contribuir com o seu know-how sobre o microbiota lado a lado com entidades, universidades e hospitais nacionais. Este é mais um contributo da farmacêutica na pesquisa em microbiota e sua interação com várias patologias.

O sistema imunitário é modulado pelo microbiota intestinal. Cerca de 70% das células produtoras de anticorpos residem no nosso intestino. “O microbiota intestinal tem, por isso, um papel determinante na saúde e particularmente no sistema imunológico, pelo que o perfil do microbiota de pacientes infetados com o novo coronavírus poderá relacionar-se com a vulnerabilidade, desenvolvimento e severidade da doença”, explica a investigadora.

Neste estudo, que conta com um financiamento total de 50 mil euros, os investigadores vão também tentar perceber se os doentes com obesidade, diabetes ou hipertensão são mais suscetíveis à COVID-19, uma vez que está comprovado que estas doenças estão associadas a uma disfunção do microbiota intestinal. Estes doentes, tal como os que apresentam patologia cardiovascular, pertencem aos grupos de risco COVID-19, embora não sejam ainda conhecidos os mecanismos que os tornam mais vulneráveis e com pior prognóstico após a infeção com o novo coronavírus, algo que esta investigação pode vir a clarificar.

A Professora Conceição Calhau revela que os participantes deste estudo serão recrutados no Serviço de Medicina Interna do Hospital São Sebastião (Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga), no Serviço de Cuidados Intensivos Polivalente do Hospital Curry Cabral (Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central), no Serviço de Atendimento Permanente do Hospital CUF Infante Santo, em Lisboa, na Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente do Hospital de São Francisco Xavier (Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental) e na Unidade de Cuidados Intensivos do Centro Hospitalar Universitário de São João. Os critérios de inclusão são ter COVID-19 e mais de 18 anos.

Para explorar as bactérias (espécie, género ou filo) que podem estar representadas nos doentes infetados, em menor ou maior quantidade, será analisado o perfil da microbiota em diferentes estados de doença: doença leve (autoisolamento em casa); doença grave (isolamento no quarto do hospital) e pacientes críticos (Unidade de Cuidados Intensivos hospitalar). A caracterização do microbiota intestinal será feita a partir de amostras de fezes.

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