Diretor de Infecciologia do S. João admite estudo sobre as “cicatrizes” e “sequelas” em recuperados

9 de Maio 2020

O diretor do Serviço de Infeciologia do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, admitiu hoje avançar com um estudo científico sobre as sequelas que a covid-19 deixou nos doentes recuperados, em colaboração os centros de saúde.

Em declarações à agência Lusa no âmbito do acompanhamento de doentes com covid-19 que tiveram alta hospitalar, António Sarmento, diretor do Serviço de Infecciologia do CHUSJ, onde se concentra o maior número de infetados pelo coronavírus em Portugal, demonstrou vontade em iniciar um estudo científico sobre as “cicatrizes” e “sequelas” que a doença do novo coronavírus deixou nos doentes que passaram naquela unidade.

“Teria interesse em termos investigacionais (…) quando as coisas acalmarem, nós chamarmos ou convocarmos alguns dos doentes, para fazermos um estudo científico e interesse da comunidade, e realmente com meios que o médico não tem no seu centro de saúde, já para avaliar a percentagem de sequelas que existiu e quais foram [essas sequelas)”, disse o infecciologista e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

O médico e investigador referiu, todavia, que não pode assegurar que todos os doentes vão ser seguidos no Hospital de São João sejam chamados, até porque a maioria que teve a doença está “bem”.

O estudo dos doentes de “forma sistemática” e com “metodologia científica” seria feito “em “colaboração com os médicos de família e com o hospital”, acrescentou o especialista.

As sequelas das doenças geralmente manifestam-se ao fim de semanas ou mesmo meses, explica António Sarmento.

No caso da covid-19, uma doença que sublinha é “nova” e desconhecida”, é “impossível, para já, no mundo alguém dizer, seja na América, seja cá, com que sequelas as pessoas vão ficar.

“Não sabemos”, assume António Sarmento, reconhecendo, todavia que é “provável que fiquem com as sequelas duma pneumonia”, sendo que as “mais prováveis” “serão sequelas pulmonares à semelhança de outras infeções pulmonares e que podem aparecer ou não doentes.

O diretor do Serviço de Infecciologia do São João do Porto ressalva ainda que há “sequelas de cuidados intensivos” que são “comuns a qualquer patologia que obrigue a internamento em cuidados intensivos”, mas que depois são “reversíveis”.

Uma pessoa que esteve parada, sedada e ligada a um ventilador pode ter “sequelas neuromusculares”, “sequelas pulmonares” e podem ser “sequelas psiquiátricas ou psicológicas”, e, por esses motivos pode sentir “atrofias musculares”, “cansaço brutal”, “falta de forças”, “stress pós traumático”, que tem a ver com uma sedação prolongada, descreveu.

Segundo António Sarmento, o CHUSJ não têm capacidade para seguir todos os doentes internados no Serviço de Infeciologia, no pós alta hospitalar.

“Nós estamos, neste momento, a ter talvez a melhor mortalidade da Europa, com resultados muito bons à custa do esforço brutal que se tem feito que é tratar aqueles casos que iriam morrer (…) e tentarmos o mais possível impedir a propagação na comunidade”.

“Numa altura de emergência, com dezenas ou centenas de doentes a aparecerem nos hospitais e com outros doentes em situação não covid que estão a ser tratados, não podem os hospitais assegurar tudo e mais alguma coisa. As tarefas têm se de dividir”, acrescentou, assumindo que no São João se assegura o tratamento na doença ativa, internando se for grave, e menos grave acompanhando no domicílio.

Numa segunda fase, o acompanhamento tem de ser feito pelo médico do doente.

“O Hospital São João faz o acompanhamento dos doentes enquanto eles estão positivos em casa. Telefonando de dois em dias, falando com a pessoa, mas depois quando os testes dão negativo e deixam de ter a infeção aguda os doentes passam a ser seguidos pelo médico assistente [médico de clínica geral, médico de família], porque os hospitais são “uma parte apenas do Sistema Nacional de Saúde”.

Em Portugal, morreram 1.114 pessoas das 27.268 confirmadas como infetadas, e há 2.422 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

A região Norte é a que regista o maior número de mortos (639), seguida da região de Lisboa e Vale do Tejo (233), do Centro (214), Algarve (13), dos Açores (14) e do Alentejo que regista um caso, adianta o relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24:00 de quinta-feira, mantendo-se a Região Autónoma da Madeira sem registo de óbitos.

LUSA/HN

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