Madrid reabre esplanadas depois de quase dois meses

25 de Maio 2020

A população de Madrid pode, a partir de desta segunda-feira, sair de casa para se encontrar com familiares e amigos, nomeadamente nas esplanadas, depois de passar 10 semanas fechada em casa num dos confinamentos mais rigorosos de todo o mundo.

“Nem imagina a alegria que tenho em estar aqui a tomar um café, depois de mais de dois meses fechado em casa”, disse à agência Lusa Manuel, um idoso que ao final da manhã estava sentado numa esplanada, com meia dúzia de amigos, todos reformados, na Praça de Legazpi, não muito longe do centro da capital espanhola.

O dia começou muito cedo para os empregados de restaurantes e bares fechados desde 15 de março e que abriram com regras muito estritas de limpeza e com o acesso limitado a 50% da ocupação normal.

As esplanadas de Madrid Rio, um passeio ajardinado ao longo do rio Manzanares, estavam abertas, mas com poucas pessoas no final da manhã.

“Passe por aqui no final do dia. Vai estar cheio e não vamos ter lugar para todos, porque reduzimos o número de mesas”, disse Maria, responsável de uma esplanada, acrescentando que vão criar um sistema para obrigar as pessoas a não ficar sentadas muito tempo, “porque todos têm direito a desfrutar e é preciso ganhar o dinheiro que estamos a perder há semanas”.

As regiões espanholas mais atingidas pela pandemia de covid-19 de Madrid, Barcelona e Castela e Leão iniciaram hoje a primeira fase do desconfinamento gradual que o resto do país iniciou há quinze dias.

Aos madrilenos é a partir de hoje possível reunir-se em grupos de até dez pessoas nas suas casas ou nas esplanadas de bares e restaurantes, que podem abrir os seus espaços no exterior e aceitar 50% da capacidade normal.

Nesta “fase um” pode-se visitar amigos e familiares nas suas casas, mas não pessoas idosas ou grupos de risco, com sintomas de covid-19 ou a cumprir uma quarentena.

Os grandes parques da capital espanhola, como o Retiro, a Casa de Campo e o passeio Madrid Rio também estão abertos desde esta manhã.

No entanto, toda a população terá ainda de continuar a usar a máscara, que é obrigatória nos edifícios e na via pública, quando não for possível manter uma distância de segurança de dois metros.

Muitos pequenos comércios decidiram manter-se encerrados até à próxima fase do desconfinamento, que em Madrid deverá ser daqui a duas semanas.

“Para muitos pequenos comerciantes que têm empregados não compensa abrir agora, pois iriam perder dinheiro”, explicou à Lusa José Manuel, dono de um pronto-a-vestir no Passeio das Delícias, não muito longe da estação de comboio de Atocha, a maior de Madrid.

O comerciante trabalha sozinho e deixa entrar um cliente ou, no máximo, dois de cada vez, tendo de desinfetar todas as peças de roupa que forem experimentadas.

José Manuel teve dois filhos que apanharam o novo coronavírus, um deles teve mesmo de ser hospitalizado durante uma semana, mas está otimista em relação ao futuro, convencido de que “o pior já passou”.

De um total quase 125.000 pessoas atingidas pela pandemia de covid-19 em Espanha, mais de 42.000 (34%) estão em Madrid, que também foi a região que mais mortes teve associadas à doença, quase 9.000 (31%) em mais de 28.500 óbitos.

Uma parte importante do país, 22 dos 47 milhões de habitantes de Espanha, passou hoje à segunda fase do desconfinamento, com os restaurantes a reabrir também no interior, sempre com limite de clientes, e os passeios e exercício físico no exterior sem estarem limitados a certas faixas horárias.

Com o calor a começar a fazer-se sentir, as praias dos arquipélagos das Baleares (Mediterrâneo), Canárias (Atlântico) e uma grande parte da Andaluzia (sul), que passaram à “fase dois”, foram reabertas e têm de respeitar medidas de segurança rigorosas.

O Ministério da Saúde espanhol recomenda que se limite o número de visitantes nas praias, delimitando espaços para cada grupo e espaçando os guarda-sóis a quatro metros de distância.

Neste momento, só os habitantes locais podem beneficiar destas medidas, uma vez que as viagens entre regiões continuam a ser proibidas e os estrangeiros que desembarcam em Espanha devem observar um período de quarentena de quinze dias.

As medidas de restrição da mobilidade dos cidadãos foram impostas com a entrada em vigor do estado de emergência no país em 15 de março último, que foi prorrogado na quarta-feira passada pelo parlamento espanhol, até 06 de junho próximo.

O rigor e a lentidão do início do desmantelamento das medidas de confinamento levaram à insatisfação de uma parte da população, que se foi manifestando progressivamente através de “caçaroladas” (bater em panelas).

Os partidos de direita começaram por apoiar os pedidos feitos quinzenalmente de extensão do estado de emergência, mas na semana passada votaram contra a última proposta feita pelo Governo de esquerda.

O partido de extrema-direita Vox organizou no último sábado manifestações em automóvel nas principais capitais de província do país para protestar contra a forma como o executivo tem gerido a crise da covid-19.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou quase 345 mil mortos e infetou mais de 5,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios.

Os Estados Unidos são o país com mais mortos (97.722) e mais casos de infeção confirmados (mais de 1,6 milhões).

Seguem-se o Reino Unido (36.793 mortos, mais de 259 mil casos), Itália (32.785 mortos, mais de 229 mil casos), Espanha (28.752 mortos, mais de 235 mil casos) e França (28.367 mortos, mais de 182.500 casos).

LUSA/HN

 

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