Aníbal Marinho Presidente da APNEP Médico Intensivista CHUP Porta-voz da Campanha ONCA em Portugal

Malnutrição em Portugal, porque somos tão poucos a tentar resolver um problema tão grande?

06/01/2020

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Malnutrição em Portugal, porque somos tão poucos a tentar resolver um problema tão grande?

01/06/2020 | Opinião

A malnutrição Traduz-se na perda de peso não programada, sob a forma de massa muscular, fundamental para a recuperação, mobilidade e autonomia do doente.

Está diretamente associada ao aumento dos reinternamentos e a elevadas taxas de morbilidade e mortalidade, comprometendo a eficácia de muitas terapêuticas farmacológicas e cirúrgicas. A boa notícia é que malnutrição é reversível, desde que o doente seja sujeito ao rastreio nutricional, ou seja, desde que a malnutrição seja identificada precocemente e instituída uma intervenção nutricional individualizada tendo em conta a condição clínica, necessidades nutricionais (com recurso à nutrição clínica) e preferências do mesmo.

Embora seja uma realidade conhecida e amplamente estudada, é ainda ignorada, subdiagnosticada e subtratada pelos profissionais de saúde, com consequências graves para os doentes e para o SNS.

Desde 2016, que a APNEP (Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica) assumiu o compromisso de inclusão efetiva da nutrição clínica nos cuidados de saúde, numa missão conjunta com os parceiros científicos e políticos, de 18 países, que integram a campanha ONCA (Optimal Nutritional Care for All). Esta campanha tem como objetivo que todos os indivíduos malnutridos ou com risco de malnutrição sejam sistematicamente rastreados, avaliados e tenham acesso a cuidados nutricionais adequados, equitativos e de alta qualidade.

Acreditamos que promover a formação específica em nutrição, de profissionais de saúde, é um passo importante para reverter a elevada prevalência da malnutrição em Portugal: dados preliminares indicam que 2 em cada 4 adultos internados estão em risco de malnutrição em contraste com a média europeia de 1 em cada 4, o que constitui uma situação de alarme.

A APNEP é segunda sociedade de nutrição entérica e parentérica, membro da ESPEN (European Society for Clinical Nutrition and Metabolism), que maior número de cursos pós-graduados promove anualmente, no entanto estamos conscientes que temos de fazer mais e melhor.

A integração de módulos de nutrição, de forma obrigatória, sistematizada e uniformizada na formação universitária de todos os profissionais de saúde, torna-se crucial para que possam entender a importância da nutrição na saúde e doença, e efetivamente gerirem a terapêutica nutricional.

Em conjunto com membros da ESPEN e outros parceiros relevantes, a APNEP assinou no este ano, o “Manifesto NEMS for the Implementation of Nutrition Education in the Undergraduate Medical Currriculum”. O desafio será implementar, no currículo universitário e de forma homogénea, módulos de nutrição para os profissionais de saúde que integram as equipas multidisciplinares.

Aguardamos a publicação da Norma Clínica DGS “Implementação da Nutrição Entérica e Parentérica no Ambulatório e Domicílio em Idade Adulta”, já aprovada, e a qual acreditamos ser um passo essencial na garantia de que todos os indivíduos tenham acesso a cuidados nutricionais adequados, equitativos e de alta qualidade.

Temos uma preocupação mediática e constante em promover o aumento da esperança de vida da população, mas esse aumento tem forçosamente de ser complementado com um aumento da qualidade de vida. Temos de nos preocupar em recuperar os nossos doentes para uma vida ativa com qualidade ou pelo menos com a dignidade a que todo o ser humano deve ter direito. O acesso a uma nutrição adequada deverá ser um direito de todos os doentes.

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