Os dados compilados até 31 de maio pelo gabinete de cibercrime da PGR evidenciam um “incremento extraordinário”, segundo o relatório divulgado, indicando que foram recebidas este ano um total de 268 denúncias (das quais 56 foram encaminhadas para inquérito), muito acima das 193 reportadas (e 67 encaminhadas para inquérito) em todo o ano de 2019 e superior a todos os anos desde 2016, quando se iniciou esta contabilização.
“Quanto à evolução de 2019 para 2020 (e apenas considerando as denúncias entradas até 31 de maio de 2020), a progressão é já de 139% denúncias a mais”, pode ler-se na nota divulgada pelo gabinete de cibercrime. O efeito na cibercriminalidade da propagação do coronavírus SARS-CoV-2 no país, que levou ao confinamento da população a partir de março, é ainda fortemente suportado pela evolução mensal detalhada no relatório.
Nos meses de janeiro e fevereiro repetiu-se o número de denúncias: 20. Todavia, março trouxe consigo a pandemia e um salto para as 46 denúncias, ou seja, uma subida de 230% face ao mês anterior. Já em abril, no qual foram inscritas 131 denúncias, o crescimento situou-se nos 285% em relação a março. Por fim, maio assinala já um ajustamento, com 51 denúncias, ou seja, menos 61% do que em abril, mas ainda assim o segundo mês com mais registos desde 2016.
No que toca ao tipo de cibercriminalidade, continuam a predominar as fraudes na utilização da aplicação de pagamentos MB WAY, a difusão de mensagens de ’email’ e SMS contendo ‘malware’ (vírus informáticos), as campanhas de ‘phishing’ e a extorsão por email.
O gabinete esclarece ainda que, na estatística dos cibercrimes, além dos crimes informáticos clássicos, constam burlas em plataformas de vendas ‘online’, divulgação ilícita de fotografias, crimes contra a honra, difusão de pornografia infantil ou crimes contra o direito de autor.
“Uma boa parte destas práticas criminosas, que já existia anteriormente, ganhou um novo espaço nas redes de comunicação e informação. Porém, as estatísticas da Justiça, em geral, aglomeram os crimes segundo os tipos legais (por exemplo burlas, crimes contra a honra, crimes contra o direito de autor), não considerando autónoma ou separadamente aqueles que ocorrem online. Por isso, não é fácil aperceber, do ponto de vista estatístico, a real dimensão da cibercriminalidade”, refere o documento.
Os reflexos da pandemia de covid-19 ao nível digital foram também enfatizados pelo Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS). Em resposta enviada à Lusa, a entidade responsável pela segurança digital das entidades do Estado, coordenada por Lino Santos, defende que “este período veio reforçar a ideia de que a cibersegurança é uma componente fundamental para a estabilidade das organizações” na sociedade.
“É certo que durante o período de pandemia se verificou um aumento no número de incidentes registados por parte do CERT.PT [Coordenação da Resposta a Incidentes], mas esta é uma situação que surge em linha com outros dados nacionais e internacionais”, informou o organismo, revelando que nos “meses de março e abril de 2020, o CERT.PT registou 288 incidentes: 138 em março e 150 em abril”, ao passo que no período homólogo de 2019 registaram-se somente 112 incidentes.
O CNCS adiantou também que o incidente mais frequente neste período foi o ‘phishing’, com 57 infrações desse tipo em março e 62 em abril, muito acima dos apenas 18 registados em fevereiro, de acordo com os dados facultados. Face ao mesmo período do ano passado, assinala-se um crescimento em todos os meses, com os 17 incidentes de ‘phishing’ em fevereiro, 23 em março e 17 em abril de 2019.
No entanto, o organismo considerou que “as entidades estatais e as empresas souberam responder de forma adequada” a uma transição forçada e rápida para um cenário de teletrabalho alargado e uma maior dependência dos meios digitais em tempo de pandemia.
Portugal contabiliza pelo menos 1.447 mortos associados à covid-19 em 33.261 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) divulgado na quarta-feira. Relativamente ao dia anterior, há mais 11 mortos (+0,8%) e mais 366 casos de infeção (+1,1%).
O número de pessoas hospitalizadas desceu de 432 para 428, das quais 56 se encontram em unidades de cuidados intensivos (menos duas). O número de doentes recuperados é de 20.079.
Portugal entrou no dia 03 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, que sexta-feira foi prolongado até 14 de junho, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.
LUSA/HN
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