Investigador diz que alteração paradigmática de atividade física mudou hábitos

Investigador diz que alteração paradigmática de atividade física mudou hábitos

“Houve e tem havido uma alteração paradigmática da norma social” durante os últimos 20 anos, garante à Lusa o professor catedrático, que coordenou um consórcio que analisou, com recurso a tecnologia, a atividade física dos portugueses em 2008 e 2018.

Este estudo mostra que em 2018 cerca de 71,2% dos adultos portugueses cumpre as recomendações definidas em 2020 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o que contraria os 73% que o Eurobarómetro de finais de 2022 diz não fazerem qualquer atividade, ou “quase nunca”.

Os números foram obtidos por fenotipagem digital e definem 150 minutos de atividade física como valor médio semanal, estudados em 2008 e 2018 em mais de seis mil pessoas por um consórcio que agrega a Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, Universidade do Porto, Universidade de Coimbra, Universidade de Évora e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Para assentar uma ideia mais diversa em termos geográficos, o investigador lembra dois exemplos, como um caminho pedonal marítimo em Espinho, no qual encontra, em qualquer final de dia, “dezenas ou centenas de pessoas, uns a caminhar e outros a correr”.

“Fui treinador de voleibol muitos anos, ia muito a Espinho. Lembro-me da vida que se fazia. As pessoas iam para o café. Houve aqui um trabalho, e deve ser realçado. Nos últimos 20 anos, houve uma alteração da norma social relativamente à atitude quanto ao desporto de lazer, atividade física de lazer. Onde estavam as pessoas antes desse passadiço? No café”, concretiza.

O mesmo se passa, exemplifica, no passeio marítimo de Oeiras, no distrito de Lisboa, e Bettencourt Sardinha realça o papel “dos municípios” em Portugal, em criar e requalificar estes espaços para que as pessoas possam ter “mais prazer na atividade física” e tirá-las de casa.

“Naturalmente, queremos, e tem de haver, políticas dedicadas aos jovens, aos adultos. Eu diria até assim de forma talvez até mais objetiva: políticas centradas nas escolas, com o transporte ativo. Porque não políticas de ‘design’ urbanístico? Hoje vivemos numa era ecológica, a quarta era. As pessoas não fazem só porque faz bem à saúde. É porque têm espaço para fazer e conviver com os outros. Se calhar, políticas no âmbito dos cuidados de saúde”, sugere.

O professor catedrático lembra também a necessidade de “políticas de comunicação”, seja na ideia de que o desporto e a recriação física é para todos, seja na mudança de hábitos no local de trabalho.

“Cada vez mais, em alguns países, em vez de estarem sentadas todos os dias, [as pessoas empregam] a utilização de secretárias de altura variável, com interrupções do comportamento sedentário”, reforça.

Programas comunitários são outra das sugestões apontadas, “essencialmente crítico para as pessoas mais velhas”, que tenham menos autonomia e se sintam melhor em grupo, com “confiança no que estão a fazer”.

“Um adulto de 40 anos pega em si e vai correr, vai caminhar. Uma pessoa de 70 ou 75 anos também o pode fazer, mas há uma necessidade de alguma interação social. É preciso programas comunitários, que por esse país fora são disponibilizados pelos municípios”, lembra.

Esta fruição, reforça, mostra que Portugal “está numa circunstância similar a outros países” no que toca à atividade física, o que os dados comprovam.

“Há uns anos, com os dados de 2008, quando comparámos Portugal com Inglaterra, Noruega e Suécia, (…) em termos médios, sobre adultos e idosos, vemos que 62% dos portugueses cumpriu com as recomendações”, comenta.

Em Inglaterra, este valor descia aos 54%, na Noruega era de 69% e na Suécia de 64%, o que prova que um “sistema de monitorização fiável e avançado” pode melhorar as comparações e evitar ‘sentenças’ demasiado duras, mesmo que estes valores possam ser melhorados, diz.

LUSA/HN

PCP defende urgência de construção de um novo hospital no Oeste

PCP defende urgência de construção de um novo hospital no Oeste

O PCP considera urgente a construção de um novo hospital para o Oeste, considerando inaceitável que a falta de acordo dos municípios sobre a sua localização sirva de justificação para o adiamento da respetiva construção.

Num comunicado conjunto, as Direções da Organização Regional (DORL) de Lisboa e de Leiria do PCP defendem que “a construção de um novo hospital na região Oeste é uma urgência das populações”, criticando que, num “processo que se arrasta há décadas”, os governos PS e PSD nunca tenham assumido, “de facto, o objetivo da construção” da referida unidade.

“A não inscrição deste objetivo nos diferentes planos de investimento público por parte de sucessivos governos comprova-o”, afirma o PCP no comunicado.

O partido relembra que, aquando da discussão do Orçamento do Estado para 2023, propôs um Plano Plurianual de Investimentos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), com atribuição de 8.000.000 euros para a elaboração do programa e dos projetos de execução do novo hospital do Oeste, cujo investimento total se estima na ordem de 172.000.000 euros.

O PCP propôs ainda a requalificação e modernização das instalações dos Hospitais de Peniche, Caldas da Rainha e Torres Vedras (as três unidades que integram o Centro Hospitalar do Oeste – CHO), com a atribuição de 10.000.000 euros, num investimento total estimado em 120.000.000 euros, propostas chumbadas com os votos contra do PS e do Chega.

Numa altura em que os municípios das Caldas da Rainha e de Óbidos (no distrito de Leiria) defendem a construção do novo hospital na confluência destes dois concelhos e a maioria dos autarcas da região defendem a construção no Bombarral, o PCP considera inaceitável que “as diferentes posições dos municípios sobre esta matéria sirvam de justificação para o contínuo adiamento” da decisão que deve ser “da exclusiva responsabilidade do Ministério da Saúde”.

Sem se pronunciar sobre a localização, o PCP defende a urgente entrada em funcionamento de “uma unidade com mais de 400 camas, que alargue as especialidades ou valências existentes e garanta capacidade de internamento hoje não existente para várias especialidades”.

Só assim, no entender do PCP, “se poderá inverter a perda de resposta efetiva do CHO, que hoje responderá a apenas cerca de 55% das necessidades hospitalares da população asseguradas pelo SNS”.

Para os comunistas, a construção do novo hospital deve ser acompanhada pela intervenção urgente nas três unidades do CHO, quer ao nível dos edifícios quer em novos equipamentos e na contratação de profissionais.

A existência de um novo hospital “não se desliga da necessidade de atrair e fixar médicos, enfermeiros, técnicos e outros trabalhadores para o seu correto funcionamento, o que exige medidas de fundo, designadamente a valorização dos salários, das carreiras e profissões, pode ler-se no comunicado.

O PCP rejeita ainda que a futura unidade venha a ser uma Parceria Pública Privada (PPP) e defende que, em alternativa, deve garantir “um modelo de gestão pública, com autonomia e a participação de profissionais e utentes, em vez de mais uma negociata para favorecer os grupos económicos do negócio da saúde”.

O partido, que promete continuar a exigir o novo hospital, conclui apelando à mobilização das populações, dos utentes e dos profissionais do setor para lutar por esse objetivo.

NR/HN/Lusa

Estudo diz que risco de morrer é maior do que antes da pandemia

Estudo diz que risco de morrer é maior do que antes da pandemia

No Relatório de Monitorização da Mortalidade de 2022, hoje divulgado, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) diz que o aumento do risco de morrer relativamente aos anos pré-pandemia “não parece explicado pelo envelhecimento populacional, que até 2019 parecia ser o principal fator associado ao aumento da taxa bruta de mortalidade”.

Os peritos do INSA referem que, com os dados disponíveis, não é possível saber se o aumento do risco de morte é totalmente explicado por eventos como os picos de gripe, Covid-19 e períodos de calor e frio extremos ou se “outros fatores associados à pandemia” poderão ter contribuído indiretamente para o aumento da mortalidade ou para potenciar o efeito dos restantes fatores.

Para responder a estas questões, o INSA diz que é necessário conhecer as causas de morte específicas durante o período da pandemia, “identificando potenciais diferenças em relação ao período pré-pandemia”, de modo a que seja possível “identificar os fatores determinantes associados às potenciais variações encontradas nas principais causas de morte”.

Os autores do relatório dizem ainda que, ao contrário do que se observava antes da pandemia, “a taxa de mortalidade padronizada aumentou a partir de 2020 e ainda não regressou aos valores pré-pandemia”.

O documento diz que foram observados períodos de excesso de mortalidade por todas as causas, “de duração e magnitude variável”, em todas as regiões de saúde, sendo que os períodos ocorridos no verão foram os que atingiram um maior número de regiões.

A região Norte foi aquela na qual se observou um maior número de semanas com excesso de mortalidade, distribuídas por quatro períodos ao longo do ano 2022.

O Alentejo, Algarve e Açores foram as regiões nas quais se observou um menor número de semanas com excesso de mortalidade, refere o INSA, que salienta que as regiões autónomas apresentam geralmente um menor número de períodos de excesso de mortalidade relativamente às regiões de Portugal Continental, “provavelmente pelo menor efeito dos fenómenos climáticos extremos”, pelo que – sublinha – “o padrão de mortalidade deste ano é distinto do habitualmente observado nas Regiões Autónomas”.

Em todas as regiões de saúde, comparando a mortalidade por todas as causas e a mortalidade por todas as causas excluindo os óbitos por Covid-19, verifica-se que na primeira metade do ano vários dos períodos de excesso de mortalidade “não teriam sido identificados ao excluir a mortalidade por Covid-19”, o que indica que a Covid-19 terá sido um dos principais fatores a contribuir para o excesso de mortalidade até julho.

No entanto, no segundo semestre de 2022, o relatório indica que os excessos de mortalidade se mantêm, mesmo excluindo os óbitos por Covid-19. Esta situação – refere o INSA – “sugere a existência de outros fatores responsáveis pelos excessos de mortalidade observados” na segunda metade do ano.

O relatório de monitorização da mortalidade, que analisou o período 03 de janeiro de 2022 e 01 de janeiro deste ano, aponta para 124.602 óbitos em Portugal (124.909, considerando o ano civil de 2022) e um excesso de 6.135 mortes.

Do total de óbitos, 42.790 foram registados na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) e 55.368 no grupo etário com 85 e mais anos de idade.

A semana do ano em que menos se morreu (1.919 óbitos) foi entre 26 de setembro e 02 de outubro. Ao contrário, aquela com valor máximo de mortos foi a de 12 a 18 de dezembro (2.919).

LUSA/HN

Comida vegana quer sair de um nicho e tornar-se normal na gastronomia portuguesa

Comida vegana quer sair de um nicho e tornar-se normal na gastronomia portuguesa

Entre abril e outubro, cinco restaurantes portugueses vão receber jantares ‘pop-up’ exclusivamente veganos, uma iniciativa que pretende ser uma “declaração de que é preciso normalizar, de que não há locais especiais ou inacessíveis para o que quer que seja na gastronomia”, disse à Lusa Paulo Amado, da Edições do Gosto, que organiza o ‘Dirty Vegan Show’.

“O que queremos com o ‘show’ é normalizar a ideia de comida vegetal. Queremos que seja disponível, acessível”, prosseguiu.

A gastronomia vegetariana tem conquistado um papel de destaque, nos últimos meses, em Portugal: o restaurante ‘Encanto’, de José Avillez, foi o primeiro vegetariano da Península Ibérica a receber uma estrela, na edição de 2023 do Guia Michelin Espanha e Portugal, enquanto o chef David Jesus (‘Seiva’, Leça da Palmeira) conquistou o prémio Destaque do Ano atribuído pelo blogue de gastronomia Mesa Marcada.

Para Paulo Amado, abrem-se atualmente duas possibilidades.

Por um lado, “está a valorizar-se aqueles que fazem uma afirmação exclusivamente vegetal, que é um caminho frutífero, mas mais longo”, e, por outro, há esta aposta “numa normalização, o que quer dizer que é preciso valorizar o que já se faça só de vegano”.

O nome do festival, adiantou, tem também “algo de provocativo”.

“Comida vegetariana, macrobiótica, vegana parecem segmentos como algo esotérico, isolado, não disponível. O que nós queremos, dentro desta lógica de normalização, é comer com as mãos comida muito saborosa, divertida, só que só tem proteína vegetal”, explicou.

O pontapé de saída do ‘Dirty Vegan Show’ foi dado hoje, em Lisboa, com um almoço preparado por seis chefs: David Jesus, Pedro Abril (‘Musa’, Lisboa), Diogo Pereira (‘Raya’, Alandroal), Natália Finger (‘Planto’, Lisboa), Juliana Penteado (‘Juliana Penteado Pastry’) e Bruno Rocha (‘Bairro Alto Hotel’).

David Jesus considerou que o crescimento da comida vegetal decorre da maior preocupação com a sustentabilidade, quer a nível ambiental quer nutritiva.

“A nossa base de sabor é vegetal e isso tem sido uma tendência também impulsionada pelo mercado estrangeiro”, comentou à Lusa.

No ‘Seiva’, exemplificou, serve em média 70 pessoas por dia e 90% do público é omnívoro, mas os clientes regressam ao restaurante porque “é muito bom”.

“A comida vegetal cria apetite, cria gula e é muito competente e isso é que é importante”, sustentou.

Bruno Rocha, do Bairro Alto Hotel, tem apostado nos pratos vegetarianos na sua cozinha, porque acredita que “é preciso não ceder a todos os caprichos dos clientes, é preciso também educá-los”, nomeadamente respeitando a sazonalidade dos produtos.

Se os clientes estrangeiros estão “mais familiarizados” com estas opções, já o público português tem “um caminho longo a percorrer”, porque “ainda há esse estigma de que não vão ficar saciados”, considerou.

O ‘Dirty Vegan Show’ vai decorrer nos restaurantes ‘Fava Tonka’ (20 de abril), ‘O Marmorista’ (18 de maio), ‘Seiva’ (06 de junho), ‘Musa Marvila’ (12 de julho) e ‘D’NX Gastronomic Lab’ (19 de outubro).

LUSA/HN

Número de mortes por má alimentação pode ultrapassar as provocadas pelo tabaco em 2030

Número de mortes por má alimentação pode ultrapassar as provocadas pelo tabaco em 2030

Os alertas constam do novo Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS) 2022-2030 da Direção-Geral da Saúde hoje apresentado e que refere que o gasto da saúde com as doenças relacionadas com o excesso de peso equivale a 207 euros anuais por pessoa.

Segundo o documento, os 10% da despesa de saúde que o país dedica ao tratamento destas doenças é superior à média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (8,4%), valor que representa 3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

As projeções para 2030 indicam também que, do total de mortes previstas, a percentagem atribuível a erros alimentares será de 13,8% e 12% ao excesso de peso e obesidade, “ultrapassando o tabagismo cuja percentagem projetada de óbitos atribuível será de 11,1%”.

O plano estima que entre 2020 e 2050 o excesso de peso e as doenças associadas possam vir a contribuir para uma diminuição da esperança média de vida em cerca de 2,2 anos.

“A alimentação inadequada é uma das principais causas evitáveis de doenças crónicas, perda de qualidade de vida e mortalidade prematura em Portugal. Estima-se que, nos próximos anos, a alimentação inadequada possa ultrapassar o tabaco no `ranking´ dos fatores de risco modificáveis que mais condicionam a carga da doença a nível nacional”, alerta ainda o documento.

A alimentação inadequada, uma das principais causas evitáveis das doenças crónicas não transmissíveis, como a obesidade, cancro, doenças cérebro-cardiovasculares e diabetes tipo 2, contribuiu para 7,3% dos anos de vida perdidos por incapacidade e para 11,4% da mortalidade em 2019.

Os dados agora divulgados sobre a alimentação dos portugueses indicam também que 76% da população portuguesa ingere sal acima do nível máximo tolerado e 24,3% tem um consumo de açúcares superior ao valor máximo recomendado pela Organização Mundial da Saúde, percentagem que é muito superior nas crianças (40,7%) e nos adolescentes (48,7%).

Além disso, 56% da população portuguesa não atinge o consumo diário recomendado de fruta e hortícolas, sendo a percentagem de “inadequação particularmente preocupante no grupo das crianças (72%) e dos adolescentes (78%)”.

De acordo com o documento, os alimentos ultra processados contribuem para cerca de 24% da ingestão energética diária total e 29% do consumo alimentar total diário é proveniente de um conjunto de alimentos que não estão incluídos na roda dos alimentos (bolos, doces, bolachas, snacks salgados, pizzas, refrigerantes, néctares e bebidas alcoólicas).

“A obesidade, enquanto doença crónica e simultaneamente fator de risco para o desenvolvimento de outras doenças, atinge 28,7% da população adulta portuguesa (cerca de dois milhões de pessoas), sendo que mais de metade da população apresenta excesso de peso (67,6%)”, sublinha ainda o documento da DGS.

O plano destaca também que a obesidade e outras doenças crónicas associadas à alimentação inadequada não atingem por igual todos os grupos da população, uma vez que dados disponíveis sugerem que a obesidade, diabetes e hipertensão arterial “afetam de forma desproporcionalmente as pessoas com maior vulnerabilidade socioeconómica”.

O PNPAS foi criado em 2012 como um programa de saúde prioritário e o documento agora divulgado integra as novas linhas de orientação estratégica desenvolvidas no contexto do novo Plano Nacional de Saúde 2021-2030.

LUSA/HN