Estudo confirma que o COVID-19 pode ser gatilho para doença semelhante a síndrome de Kawasaki nas crianças

9 de Junho 2020

Um teste desenvolvido por especialistas em Birmingham foi submetido como prova de que o COVID-19 é a causa de uma síndrome inflamatório multi-sistémica recentemente detetada em crianças que testaram negativo no teste PCR.

Os dados levantam a possibilidade de que crianças infetadas pelo vírus, ainda que assintomáticas, podem estar em risco de desenvolver esta nova condição.

Nas últimas semanas têm surgido registos de crianças com sintomas semelhantes aos da síndrome de Kawasaki – uma condição rara observada geralmente antes dos cinco anos de idade que causa febre persistente, hematomas e inflamações nos vasos sanguíneos.

Esta nova condição foi apelidada de Síndrome Pediátrico Inflamatório Multi-Sistema – Temporariamente associado com SARS-CoV-2 (PIMS-TS, da sigla inglesa) e afetou até à data cerca de 100 crianças no Reino Unido, existindo mais casos espalhados pela Europa e Estados Unidos.

Esta pesquisa mais recente demonstra o valor de um teste aos anticorpos desenvolvido na Universidade de Birmingham, para confirmar o diagnóstico de crianças hospitalizadas com sintomas consistentes com estes do PIMS-TS. Todas as crianças testaram negativo para SARS-CoV-2 e PCR.

Este trabalho de pesquisa foi o produto da colaboração entre a Universidade de Birmingham, do Birmingham Women’s and Children’s NHS Foundation Trust, do Hospital Universitário de Birmingham NHS Foundation Trust, da Universidade de Southampton e do The Binding Site Group Ltd.

O teste ao sangue, que demonstra a presença de diferentes tipos de anticorpos ao vírus, mostrou que todas as crianças tinham um alto nível de anticorpos contra o SARS-CoV.2. O padrão de anticorpos indicou que a infeção ocorreu semanas ou até meses antes. O que significa que o teste aos anticorpos pode ser utilizado no diagnóstico do PIMS-TS, mesmo que o vírus não seja diretamente detetável no paciente.

Dr. Alex Richter, o principal investigador e consultor de Imunologia no Instituto de Imunologia e Imunoterapia da Universidade de Birmingham, diz que “ao concentrarmo-nos no desenvolvimento de um trabalho de princípios académicos desenhamos um teste sensível aos anticorpos que pode ser utilizado para detetar alguma exposição a infeções causadas pelo SARS-CoV-2. O teste vai ser utilizado para compreender como é que várias pessoas sofreram de COVID-19 nas nossas comunidades, mas encontrámos um outro uso ao identificar PIMS-TS nestas crianças doentes”.

O professor Adam Cunningham, coautor do estudo e professor de Imunidade Funcional no Instituto de Imunologia e Imunoterapia da Universidade de Birmingham explica que “foi um privilégio trabalhar com estes colegas dentro da Universidade de Birmingham e do Hospital para Crianças de Birmingham apra adaptar o teste para ajudar médicos a diagnosticar esta condição e permitir uma escolha que garanta os tratamentos mais eficazes”.

Dr. Barney Scholefield, consultor de cuidados intensivos no Hospital de Birmingham para Crianças e Mulheres (Children’s NHS Foundation Trust) e investigador no Instituto de Inflamações e Envelhecimento da universidade disse que, “ter acesso a conhecimentos de ponta na imunologia e o novo teste sensível aos anticorpos da Universidade e Birmingham tem sido essencial em permitir um rápido diagnóstico e tratamento destas crianças criticamente doentes com PIMS-TS”.

Já a Dra. Fiona Reynolds, chefe médica no Hospital de Birmingham para Crianças e Mulheres (Children’s NHS Foundation Trust), explicou que “oferecer tratamentos de classe mundial aos nossos pacientes e famílias é uma paixão não só de agora, mas também para o futuro. Participar em projetos de investigação tais como este é mesmo muito importante para ajudar a compreender melhor esta doença e, mais importante, como oferecer o melhor tratamento”.

NR/HN/João Daniel Ruas Marques

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