Ciclistas sub-23 são mais vulneráveis aos efeitos do confinamento

11 de Junho 2020

Devido à impossibilidade de treinar na estrada, usaram rolos mais de quatro vezes por semana, quando antes os utilizavam menos de uma vez por semana

Eva León Zarceño e Antonio Moreno Tenas, professores de Psicologia do Desporto do Departamento de Ciências do Comportamento e Saúde da Universidade Miguel Hernández de Elche (UMH), analisaram o impacto do confinamento nos ciclistas de competição.

Entre as conclusões do estudo, destaca-se que o confinamento tem um impacto mais significativo no ânimo e na manutenção das rotinas diárias dos ciclistas da categoria sub-23, quando comparados com ciclistas das categorias “elite” e “master”.

A investigação, realizada mediante um questionário on-line, focou aspetos como a utilização de acessórios de treino, mudanças nas rotinas dos treinos, uso de app e o impacto emocional do confinamento. O estudo contou com a participação de mais de 350 ciclistas com idades compreendidas entre 18 e 71 anos.

Entre os participantes contavam-se 69 mulheres (19,5%) e 284 homens (80,5%), nas categorias de “juniores” (2,5%), “sub-23” (30,9%), “elite” (21%), “profissionais” (3,4%) , e “master” (42,2%). Alguns dos participantes residem em Portugal, Andorra e Reino Unido.

Os dados do estudo foram compilados durante o primeiro mês da quarentena da Covid-19. Participaram ciclistas de 172 equipas – de elite / sub-23 e profissionais – além de clubes de ciclismo, principalmente das categorias de bicicleta de estrada e BTT. Em menor grau, também houve participantes de ciclocross, pista, ciclismo adaptado e BMX.

Entre as conclusões deste estudo, León Zarceño e Moreno Tenas destacam que os ciclistas aumentaram a frequência semanal dedicada aos exercícios funcionais (cerca de três dias por semana), bem como a duração de cada sessão (entre 1 e 2 horas). Em contrapartida, o tempo dedicado à musculação não registou alterações – um dia por semana – mas diminuiu a duração da sessão. Devido à impossibilidade de treinar na estrada, usaram rolos mais de quatro vezes por semana, quando antes os utilizavam menos de uma vez por semana.

Em relação ao impacto emocional nos desportistas, o confinamento tem uma maior incidência no humor e na manutenção de rotinas diárias dos ciclistas da categoria sub-23. Nesse sentido, os ciclistas sub-23, em comparação com ciclistas de “elite” e “master”, têm mais pensamentos negativos sobre o seu futuro desportivo e em relação ao que poderá correr durante a atual temporada e, em comparação com os “master”, nestes dias sentem mais irritabilidade, fadiga, stresse e sentimentos de tristeza.
Em comparação com os “elite”, durante o confinamento os ciclistas sub-23 têm mais dificuldade em manter as rotinas diárias e dormir. Por isso mesmo, manifestam emoções mais negativas e mostram-se menos otimistas.

Os investigadores da UMH também analisaram as mudanças que a situação de confinamento provocou nas várias modalidades de exercício, incluindo exercícios funcionais, rolo/bicicleta indoor, treino em estrada, corrida e musculação. Em todos eles, tanto ao nível da frequência como da duração, se detetaram diferenças nos hábitos e rotinas de treino.

Especificamente, nos exercícios funcionais, a frequência semanal passou de 1 a 2 dias por semana para praticamente 3 dias por semana, e a sua duração aumentou de 1 hora por sessão para entre 1 e 2 horas. Além disso, o uso do rolo passou de menos de 1 dia por semana antes do confinamento para mais de 4 vezes por semana, e os tempos de treino aumentaram de 1 hora para entre 1 e 2 horas por sessão. Por último, em relação à musculação, manteve-se, em média, um dia por semana, e cerca de uma hora por sessão.

O professor da UMH e psicólogo desportivo especializado em ciclismo, Antonio Moreno Tenas, explicou que “os ciclistas estavam preparados para uma situação como esta, já dispunham de rolos, dado que treinam ao ar livre e, ocasionalmente, as condições meteorológicas não são propícias. Os rolos também são usados para o aquecimento; portanto, a maioria já tinha os meios técnicos necessários para continuar o treino no local do confinamento”. Apesar disso, acrescenta que “uma intervenção psicológica eficaz pode ajudar a minimizar o impacto emocional do confinamento, aliviar o desconforto provocado pelas preocupações e incertezas e facilitar o estabelecimento de novos objetivos e compromissos pessoais que aumentam o interesse e a motivação”.

O estudo também analisa a utilização de app, assim como de plataformas de treino com bicicletas virtuais (como Zwift, Bkool, etc.), verificando-se um aumento do seu uso para treinar no local de confinamento.

Under-23 cyclists are more vulnerable than both elite and master cyclists to the effects of confinement

NR/HN/Adelaide Oliveira

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