Cientistas conseguiram treinar sistema imunitário para não atacar células saudáveis em doenças autoimunes

12 de Junho 2020

Cientistas de Birmingham conseguiram treinar o sistema imunitário para prevenir que este atacasse células saudáveis. Os avanços foram feitos durante um estudo que tem como alvo as doenças autoimunes.

O sistema imunitário do corpo humano pode ser reprogramado para prevenir que reconheça as suas próprias proteínas que, quando atacadas pelo corpo, podem causar doenças autoimunes como esclerose múltipla. Foram as descobertas de um novo estudo conduzido no Reino Unido.

As doenças autoimunes são causadas quando o sistema imunitário perde o foco em lutar infeções ou doenças e, em vez disso, começa a atacar células saudáveis dentro do próprio corpo. No caso da esclerose múltipla, o corpo ataca as proteínas presentes na mielina – um tecido gorduroso que envolve os nervos e funciona como isolamento – que leva os nervos a perderem controlo dos músculos.

Liderados por uma equipa multidisciplinar da Universidade de Birmingham, os cientistas examinaram os intricados mecanismos das células-T (ou glóbulos brancos) que controlam o sistema imunitário, e descobriram que estas podem ser treinadas para que parem de atacar as próprias células do corpo. No caso da esclerose múltipla, isto previne o ataque da proteína básica da mielina ao reprogramar o sistema imunitário para que reconheça estas proteínas como parte do mesmo organismo.

Apoiado pelo Concelho de Pesquisa Médica, o estudo divido em duas partes publicado na Cell Reports foi uma colaboração entre dois grupos de pesquisa liderados pelo professor David Wraith, do Instituto de Imunologia e Imunoterapia e pelo professor Peter Cockerill do Instituto do Cancro e Ciências Genómicas.

A primeira etapa, liderada pelo professor Wraith mostrou que o sistema imunitário pode ser enganado em reconhecer a proteína básica da mielina ao ser exposto a repetidas doses de um fragmento da proteína altamente solúvel a que os glóbulos brancos consigam responder. Ao repetir estas injeções do mesmo fragmento de proteína básica da mielina, o processo através do qual o sistema imunitário aprende a distinguir entre as proteínas exteriores e externas ao organismo pode ser copiado.

Este processo, que é algo semelhante à imunoterapia utilizada para dessensibilizar pacientes com alergias, mostrou que os glóbulos brancos reconheceram as proteínas básicas da mielina e mudaram de ataca-las para proteger o organismo.
A segunda fase foi conduzida pelo professor Peter Cockerill, que sondou dentro dos glóbulos brancos que reagem à proteína básica da mielina para mostrar como os genes são reprogramados em resposta a esta forma de imunoterapia, para que basicamente seja possível reprogramar todo o sistema imunitário.

A exposição repetida ao mesmo fragmento de proteína ativou uma resposta que torna os genes que silenciam o sistema imunitário em vez de o ativar. Estas células ganharam então memória desta exposição à proteína básica da mielina e introduziram os genes para quem uma resposta imunitária fosse impedida. Quando os glóbulos brancos se tornaram tolerantes, outros genes que funcionam para ativar o sistema imunitário permaneceram silenciosos.

“Estas descobertas têm implicações importantes para os muitos pacientes que sofrem de condições autoimunes difíceis de tratar”, explicou o professor David Wraith.

Já o professor Cockerill disse que, “este estudo levou-nos a compreender finalmente a base subjacente à imunoterapia que dessensibiliza o sistema imunitário. Testes clínicos mais avançados vão ser necessários para determinar se as imunoterapias específicas a um gene podem, de facto, trazer benefícios duradouros”.

“Se essa fase for bem sucedida, o estudo que publicamos será o primeiro estudo a definir o mecanismo pelo qual é possível fazer as células T tolerantes a uma proteína própria ao organismo num contexto que pode conduzir a avanços na batalha para superar a autoimunidade”, acrescentou o professor Cockerill

 

NR/HN/João Daniel Ruas Marques

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