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A propósito da COVID-19: o invisível ganha visibilidade (um mês depois)!
Portugal e os portugueses têm inúmeros aspectos interessantíssimos e esses aspectos convivem, lado a lado, com alguns aspectos menos interessantes. Vem isto a propósito de ter decorrido um mês após um meu pequeno texto, aqui publicado, sobre a “pilotagem” do combate à COVID-19 na Região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) na actual pandemia.
De forma já mantida identifica-se um número importante de casos de COVID-19 na região de LVT (de facto, nas regiões mais populosas e menos abastadas da áreametropolitana de Lisboa) e, salpicadamente, “cachos” de casos com cadeias de transmissão, inicialmente em aglomerados de empresas, em trabalhadores da Construção Civil e Obras Públicas e, agora também e de novo, em Hospitais e em
Lares para não referir as “festas”, ao que parece muitas realizadas na “clandestinidade”.
Muito escarcéu e “especulação” sobre se será uma segunda vaga? Os transportes públicos serão “os maus da fita”? As consequências de um “desconfinamento” precoce? E, por exemplo, o “desleixo” dos cidadãos no uso de máscara e na “desintegração” do distanciamento físico? …
E, mais uma vez, o que tem isso a ver com a Saúde Ocupacional (ou se se preferir com a Saúde e Segurança do Trabalho), área que estudo e investigo há mais de quarenta anos? Tudo!
A teoria da “culpa” mais uma vez derrota a “teoria do risco”! Florescem as “proibições” e a obrigação do cumprimento por parte dos “culpados” e “renasce” a ameaça do “castigo” na forma de coimas “agressivas” nos limites da lei. Tal como em matéria da prevenção dos riscos profissionais, e na impossibilidade de os “domesticar”, os riscos passam a ser mais da responsabilidade dos trabalhadores do que do trabalho. Também na actual pandemia, o vírus (que faz a sua parte, porque sem pessoas deixa de ser activo) é ultrapassado pela figura do “cidadão incumpridor” que passa a alvo das acções de contenção/mitigação (já não sei bem a diferença …).
E nós? Fazemos a nossa parte?
A proteção da saúde e da segurança dos trabalhadores, realizada por Serviços de Saúde Ocupacional competentes, com profissionais competentes, em número suficiente, e com formação específica adequada, são insubstituíveis para “combater” os riscos profissionais, tanto em acções centradas no ambiente de trabalho como nos trabalhadores. Será que, se fizermos a translação para o combate à pandemia, não encontramos algumas explicações para o nosso (relativo) insucesso?
Nada está perdido! o “milagre” dos Portugueses está em perigo, mas não está extraviado. Talvez esteja aí o busílis do que actualmente se passa!
O que caracteriza a Saúde Pública são formas organizadas de protecção da saúde das populações tal como na Saúde Ocupacional são formas organizadas de protecção da saúde (e da segurança) de quem trabalha. Proponho que, sem deixar de estarmos receptivos a uma “ajudinha” de iniciativas “milagreiras”, deixemos os milagres para outras áreas sociais e nos concentremos mais nas melhores estratégias de acção (“policy”). É que sem boas políticas públicas de saúde e sem bons profissionais de saúde (não apenas clínicos!) não “levaremos a carta a Garcia”.
ou, se se preferir, não seremos eficazes no combate à pandemia, por mais difícil que esse combate possa parecer. E é indispensável que o façamos de forma competente.
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