Os resultados dos ensaios clínicos em humanos às primeiras vacinas mostram efeitos secundários como dores de cabeça e desmaios. Segundo o investigador do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (IMM) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Miguel Castanho estes efeitos secundários fazem parte do processo da criação da vacina, e que “são ocorrências desta natureza, a par de outras dificuldades frequentes, que levam a que o desenvolvimento de uma vacina tome, em média, 15 anos no total”.
Face ao longo período que demora a desenvolver uma vacina, alguns especialistas como Miguel Castanho têm vindo a levantar questões quanto à eficácia das mesmas. Na China foi aprovada uma vacina para uso exclusivo do pessoal militar e, na Rússia, foi anunciada a produção em massa a partir de setembro de uma outra vacina. Para Miguel Castanho, “o desenvolvimento muito rápido de uma vacina contra a Covid-19 vai exigir uma apresentação muito transparente sobre a eficácia e segurança da mesma, sobretudo para quem mais precisa de ser protegido: a população de idade mais avançada”.
Ainda assim, o perigo de uma segunda vaga – cada vez mais iminente e que poderá chegar ainda antes do inverno – e os paralelismos com a gripe espanhola, que se fez sentir precisamente nessa altura, têm levantado preocupações entre os especialistas e a própria OMS. Miguel Castanho desvaloriza esses riscos e comparações dizendo que “esta conjugação de fatores, aliada à debilidade das tecnologias médicas da altura, teve consequências trágicas. Não é o que estamos a viver agora, e estes acontecimentos não são diretamente extrapoláveis para a COVID-19, mas devem deixar-nos alerta.”
Quanto ao aumento exponencial de casos em Portugal, Miguel Castanho justifica-o através do desconfinamento. No início, “foi o sentimento de medo que assegurou a disciplina verificada durante a quarentena. Os exemplos de Espanha e Itália eram elucidativos. A disciplina do confinamento desse período inicial conteve, de facto, a expansão das infeções virais”.
“Passámos da euforia triunfalista dos primeiros tempos a um sentimento de incredulidade. Não existe um plano de ação fixado pela positiva para encontrar as verdadeiras causas dos focos existentes e, por consequência, não há planeamento sólido de estratégias de mitigação”, explicou o investigador assegurando que “faltam medidas pró-ativas assumidas para melhor caracterizar e combater o que está a suceder. Ser proibicionista não basta”.
PR/JM
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