O inquérito envolveu mais de 2.000 pessoas com Parkinson, e os seus familiares, amigos e cuidadores, sobre a sua experiência do confinamento.
As respostas revelaram que:
●mais de um terço sentiu maior lentidão de movimentos, rigidez ou fadiga;
●mais de um quarto sentiu um aumento de tremores, ansiedade ou problemas de sono.
Cerca de 10% também relataram um aumento das alucinações. Estas podem ser provocadas por uma série de motivos, mas geralmente surgem devido aos efeitos secundários dos medicamentos para a doença de Parkinson, especialmente quando os doentes não estão bem controlados.
Parkinson é uma doença neurológica que causa tremores musculares, lentidão de movimentos e rigidez muscular. Os doentes podem também registar ansiedade e depressão. Sabe-se que o stresse pode exacerbar os sintomas do movimento e outras dificuldades, tais como o sono.
De acordo com Jane Simpson e Fiona Eccles, da Universidade de Lancaster, os resultados do inquérito também revelaram que:
●Cerca de um terço (34%) dos doentes referiram que o acesso reduzido ao exercício físico teve um grande impacto nas suas vidas;
●Cerca de um terço (34%) viu as consultas com a sua enfermeira ou o seu médico de família canceladas. Mais de metade não teve acesso a consultas telefónicas ou online;
● Quase metade (48%) dos doentes que recebiam cuidados sociais e apoio domiciliário antes do confinamento, recebeu menos cuidados durante as restrições impostas pela pandemia.
Muitas pessoas com Parkinson têm um risco acrescido de doença grave se contraírem a Covid-19 e fazem parte da categoria dos indivíduos clinicamente vulneráveis. Embora algumas pessoas com Parkinson optem por se proteger, não são classificadas como extremamente vulneráveis e, portanto, não são elegíveis para o aumento do nível de apoio.
O inquérito concluiu que, além das preocupações com a solidão e o isolamento, os doentes relataram um aumento dos níveis de stresse, particularmente no que diz respeito ao acesso à alimentação, se não houvesse vizinhos ou família para ajudar. Esse stresse exacerbou os seus sintomas físicos.
O coronavírus também teve impacto na saúde mental dos inquiridos. De acordo com as medições, realizadas com uma escala validada, a pontuação média de saúde mental e bem-estar das pessoas com Parkinson que responderam ao inquérito, foi mais de 5 pontos inferior à pontuação média da população em geral, em tempos anteriores ao confinamento, com muitos doentes a dizerem que precisaram de apoio emocional neste período.
O aumento das responsabilidades também teve um impacto negativo na família, nos amigos e nos cuidadores. Cerca de 68% tiveram de assumir mais responsabilidades desde que começaram as restrições ligadas à pandemia, 42% disseram que as restrições estavam a afetar negativamente a sua saúde mental e 34% a sua saúde física.
Jane Simpson, da Universidade de Lancaster, afirmou: “Vamos prosseguir este inquérito para saber qual o efeito da flexibilização das restrições nos doentes, familiares, amigos e cuidadores dos doentes de Parkinson.
As mudanças que as pessoas tiveram que fazer podem ter sido severas e perturbadoras para as suas rotinas, habituais e bem planeadas, e agora difíceis de recuperar. Consequentemente, estamos preocupados com os efeitos, a longo prazo, deste período de confinamento. Pensamos que o aumento dos sintomas é o resultado de muitos fatores – falta de acesso aos profissionais de saúde, perda dos regimes estabelecidos para a medicação, do exercício físico e de outras atividades sociais, bem como o stresse geral que este período está a provocar”.
Durante a pandemia, os serviços de saúde do Reino Unido têm vindo a adaptar-se para tentar chegar à comunidade de doentes de Parkinson de novas formas, incluindo aulas de exercício físico online e informação atualizada.
Katherine Crawford, responsável da instituição “Parkinson’s UK” , afirmou: “Infelizmente, estes resultados mostram quão duramente a comunidade de doentes de Parkinson tem sido atingida pela crise do coronavírus, tanto física como emocionalmente. Sabemos que cerca de um milhão de doentes, familiares, amigos e prestadores de cuidados, precisaram mais do que nunca dos nossos serviços durante a pandemia. Em resposta, reforçámos a nossa capacidade de ajuda, construímos a comunidade Parkinson online e assegurámos que as pessoas que normalmente recebiam apoio presencial continuem a tê-lo. À medida que começamos a sair do confinamento para um ‘novo normal’, é vital que possamos continuar a apoiar todas as pessoas afetadas pela doença para, juntos, conseguirmos que os doentes retomem o controlo da sua vida”.
NR/HN/Adelaide Oliveira
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