É comum a disseminação do vírus da gripe em ambiente hospitalar

16 de Julho 2020

Um em cada quatro pacientes com influenza numa dada estação mostrou sinais de ter sido infetado durante atendimento hospitalar. A descoberta foi feita no âmbito de  uma tese da Universidade de Gotemburgo sobre a disseminação da influenza em hospitais e como remediar este problema.

Um dos estudos na tese é baseado numa revisão dos registos médicos de todos os 435 pacientes adultos hospitalizados no Hospital Universitário Sahlgrenska, que tiveram confirmação laboratorial do vírus da influenza durante a época 2016-2017.

Destes pacientes, 114 casos (26%) foram classificados como relacionados com a prestação de serviços de saúde. Estes pacientes tinham sido admitidos por outras razões, e os sintomas de gripe não se fizeram sentir antes de 48 horas após a admissão.

Uma análise genética detalhada do vírus foi também realizada através de amostras. A análise mostrou uma relação genética próxima entre vírus da gripe em amostras obtidas de pacientes da mesma ala hospitalar no espaço de uma semana.

“Para além da associação no tempo e espaço, uma espécie de prova de ADN, como a de um local de um crime, foi utilizada. No geral. Há fortes evidências que apoiam a transmissão e infeção dentro do hospital”, diz Martina Sansone, Doutorada recentemente pela Academia Sahlgrenska, da Universidade de Gotemburgo, e consultora em doenças infeciosas e higiene hospitalar no Hospital Universitário Sahlgrenska.

Grande proporção de infeções associadas à prestação de cuidados de saúde
“A proporção que ficou infetada dentro do hospital foi ainda mais elevada do que julguei que pudesse ser – e apesar de tudo, este é o meu trabalho”, continua. “Esta área de investigação não está especialmente bem explorada”.

Vinte e seis pessoas no grupo de estudo morreram. A maioria eram pacientes mais velhos com doenças cardíacas ou pulmonares, e a época gripal 2016-2017 foi uma considerada relativamente grave.

Baseada inteiramente nos seus estudos de doutoramento – incluindo um surto gripal no Hospital Kungälv – Sansone conclui que a infeção com influenza em recintos hospitalares é comum.

A escassez de camas é identificada como um fator chave no contexto. A falta de quartos “single” conduz também à maior transferência de doentes dentro do hospital, o que, por sua vez, pode contribuir para a disseminação da infeção.

“Tem havido um foco exagerado em medir e cortar os tempos de espera nas urgências. Às vezes a decisão de hospitalizar os doentes é tomada demasiado rápido, antes do diagnóstico estar completo e de sabermos o risco da pessoa ser infeciosa. Acho também que às vezes é difícil para o staff perceber que um paciente pode ser perigoso para outro”.
Lição relacionada com o COVID-19

Os paralelos com o COVID-19 são óbvios para Sansone. Os sintomas das vias respiratórias são comuns e podem ser pouco acentuados. Também na época da gripe, o planeamento cuidado pode ser adiado para pacientes que precisem de estar isolados no ambiente hospitalar.

“Na suécia os nossos hospitais têm estado extremamente acessíveis a membros familiares bem como a outras pessoas, com imensa gente a entrar e a sair. Porque não ter alas para a gripe separadas, da mesma maneira que temos alas para a COVID-19?”, pergunta.

“As necessidades cruciais são, para nós, a redução dos contactos, a realização de testes à gripe atempados nas urgências, e o aumento das taxas de vacinação. Hoje, cerca de 50% da população mais velha é vacinada contra a gripe na Suécia, bem abaixo do objetivo da Organização Mundial de Saúde de 75%”, acrescenta.

 

NR/HN/João Daniel Ruas Marques

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