Bebés prematuros: Alta exposição ao ruído na incubadora podem levar a perda de audição

21 de Julho 2020

Os altos níveis de ruído podem levar a dificuldades auditivas ou mesmo a perda de audição – sendo a incidência entre 2% a 10% para os bebés prematuros, por oposição aos apenas 0,1% ou 0,2% em crianças nascidas dentro do termo.

O que ouvem os bebés prematuros enquanto estão na incubadora? Essa é a questão a que está a tentar responder uma equipa interdisciplinar da Universidade Médica de Viena, conduzida por Vito Giordano (neurocientista na Divisão de Neonatologia, Cuidados Intensivos de Pediatria e Neuropediatria no Centro Compreensivo para Pediatria (CCP) da Universidade Médica de Viena) e pelo psicólogo musical Matthias Bertsch da Universidade de Musica e Artes Performativas no recente estudo “O Som do Silêncio” publicado no jornal Frontiers in Psychology. Este estudo mostra como os bebés prematuros estão expostos a um alto nível de ruído na incubadora, particularmente se estiverem em apoio respiratório na unidade de cuidados intensivos neonatais (UCIN).

De acordo com dados da OMS, aproximadamente 15 milhões de bebés nascem prematuramente todos os anos, a proporção varia entre os 5% e os 18% dependendo do país de origem. Apesar das melhorias gerais na medicina de cuidados intensivos, muitos bebés prematuros lidam com implicações que ficam para a vida. A experiência de audição intrauterina difere fortemente da carga sonora extrauterina encontrada na UCIN.

“São principalmente barulhos de baixa frequência (abaixo dos 500 Hz) que são transmitidos e filtrados pelo corpo da mãe. Vários estudos indicaram que o nível de ruido dentro da UCIN excede repetidamente o volume recomendado de 35 dB. Os sinais do equipamento de monitorização, falar alto, a abertura repentina de portas e procedimentos médicos resultam num elevado nível de barulho de fundo que alcança picos bem acima dos 100 dB”, explica Giordano.

Ainda assim, os altos níveis de ruído podem levar a dificuldades auditivas ou mesmo a perda de audição – sendo a incidência entre 2% a 10% para os bebés prematuros, por oposição aos apenas 0,1% ou 0,2% em crianças nascidas dentro do termo. “Os bebés prematuros na incubadora sentem falta do filtro natural e da absorção do barulho de fundo que se dá no ventre da mãe. Novos estímulos acústicos e/ou barulhos têm um impacto demarcado na maturação pós-natal do sistema auditório, como apontado pelo especialista da Universidade Médica de Viena. Ainda assim, o silêncio, que leva à provação, um sentimento de isolamento, é tão mau como os estímulos altos. O problema não é novo: hoje em dia, conceitos educacionais e indicadores visuais para reduzir o barulho são já padrão nas alas neonatais”.

Tornar os ruídos da incubadora audíveis para todos
O objetivo do estudo recém-publicado foi primeiramente gravar as dinâmicas de som dentro da incubadora e, depois, permitir que outros compreendam a experiencia auditiva dos bebés prematuros. “Toda a gente, especialmente os médicos, as enfermeiras, os terapeutas musicais e os pais podem agora imaginar como soa estar dentro de uma incubadora ao ouvir exemplos do som por eles próprios. Lá dentro tudo soa bem diferente de cá fora, já que a incubadora age como um amplificador dos baixos, i.e. as frequências abaixo dos 250Hz são significativamente mais altas”, explica o psicólogo musical Matthias Bertsch.

O resultado do estudo mostrou que a incubadora tem um “efeito protetor”, especialmente contra as frequências médias e altas, mas amplifica os sons de frequências mais baixas. Para além disso, a tampa da incubadora não oferece proteção praticamente nenhuma contra o barulho. Existe um aumento nos sons de frequência alta quando a porta é deixada aberta, e existe um alto volume de som gerado pelo aparelho de apoio respiratório. “O que os ouvintes acham particularmente surpreendente o quão alto estes aparelhos respiratórios pode tornar-se dentro da incubadora, mesmo que a circulação de ar seja apenas aumentada um pouco. Num nível superior com o rugido associado, o aumento é tal que é equivalente ao de um aspirador a um metro de distancia (75dB)”, explica o autor do estudo. Neonatologistas estão assim aconselhados a definir a circulação do ar no aparelho de apoio respiratório para o mínimo necessário.

“Sentimos que é importante angariar atenção para este problema, não só com as mesas de medição dos níveis acústicos, mas com resultados audíveis e compreensivos”, ressalvam os autores. As consequências da exposição prematura ao barulho podem variar e resultar, por exemplo, em dificuldade na habilidade de discriminar o discurso do restante barulho em comparação com crianças nascidas no termo, que foi demonstrado num estudo paralelo realizado pelo mesmo grupo. Este foi conduzido em julho de 2019 sob supervisão da neurologista Lisa Bartha-Doering no Centro Compreensivo para a Pediatria (CCP) e publicado no jornal Developmental Cognitive Neuroscience (https://www.meduniwien.ac.at/web/ueber-uns/news/detailseite/2019/news-im-juli-2019/sprachentwicklung-beginnt-schon-im-mutterleib/ ).

“As conclusões deste estudo mostram que é importante investir em novas tecnologias”, explica Angelika Berger, diretora da Divisão de Neonatologia, dos Cuidados Intensivos de Pediatria e Neuropediatria, “e as nossas equipas de investigação estão atualmente a trabalhar em tecnologias novas para melhorar o conforto acústico e resultados a longo-prazo nos nossos pacientes mais pequenos”.

NR/N/João Daniel Ruas Marques

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