O cancro de cabeça e pescoço (CCP) pode surgir na cavidade nasal ou oral, faringe, laringe e glândulas salivares, e mais de 90% são designados de carcinoma espinocelular ou epidermóide. Neste grupo não estão incluídos os tumores do cérebro ou do esófago. Por ano, são diagnosticados cerca de 830.000 novos casos no mundo, sendo a 8ª neoplasia mais frequente. As pessoas mais afetadas são as fumadoras e as que têm um consumo elevado de álcool. Outros fatores que aumentam o risco de CCP são as infeções pelo vírus Epstein-Barr e pelo vírus do papiloma humano (HPV). Os homens são 2 a 4 vezes mais afetados que as mulheres.
Atualmente 2 em cada 3 doentes são diagnosticados com doença avançada e menos de 50% viverão mais do que 5 anos. Os progressos recentes na terapêutica multimodal (radioterapia, cirurgia, quimioterapia e imunoterapia) têm permitido aumentar a taxa de sobrevivência, sendo que o plano de tratamento de cada doente depende de vários fatores, incluindo a localização do tumor, o estadio, a idade e estado geral do doente.
No caso de doença avançada com metastização em outros órgãos, a primeira linha de tratamento é com quimioterapia em combinação de dois ou mais fármacos, sendo um deles um platino (cisplatina ou carboplatina). Quando a doença deixa de responder, é ponderada a mudança dos fármacos, designado de 2ª linha de tratamento.
Atualmente existem 2 fármacos de imunoterapia aprovados em Portugal para o tratamento em 2ª linha do CCP metastizado, o pembrolizumab e o nivolumab. A imunoterapia, também designada de imuno-oncologia, actua potenciando o sistema imunológico do doente para erradicar as células cancerígenas.
A eficácia do nivolumab foi estudada num ensaio clínico com doentes cuja doença aumentou num período até 6 meses após o tratamento com platino. Os resultados demonstraram um ganho de sobrevivência global (SG) em cerca de 2 meses e meio e menos efeitos secundários graves, em comparação com a realização de quimioterapia (metotrexato, docetaxel ou cetuximab).
O pembrolizumab foi inicialmente avaliado num estudo com cerca de 500 doentes com CCP com metástases e resistentes à quimioterapia baseada em platino. Demonstrou de igual forma aumentar a SG e com respostas mais prolongadas, em comparação com o grupo de doentes que recebeu a terapêutica convencional.
Mais recentemente o pembrolizumab foi aprovado para o tratamento de 1ª linha do CCP recorrente ou metastizado cujo tumor expressa uma molécula (PD-L1), em monoterapia ou em combinação com quimioterapia (platino e 5-fluorouracilo). Verificou-se um aumento superior a 2 meses na SG com a imunoterapia, em relação ao tratamento comparador (cetuximab combinado com o mesmo esquema de quimioterapia), com benefício mais evidente nos tumores com PD-L1 mais elevado.
Atualmente existem vários outros estudos a decorrer para observar o papel da imuno-oncologia em fases mais precoces da doença.
Estamos, portanto, a caminhar para um novo paradigma do tratamento do CCP avançado, onde a imuno-oncologia tem demonstrado aumentar a sobrevivência e com um perfil de toxicidade mais favorável. Contudo, nem todos os doentes são candidatos ou respondem a este tipo de tratamento, e apesar de alguns doentes alcançarem respostas duradouras, não representa a cura para o CCP. Interessa ressaltar a importância de vigiar os sinais e sintomas de alerta em cada um de nós, de forma a permitir o diagnóstico em fase precoce da doença que está associado a melhor prognóstico e taxas mais elevadas de cura.
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