Campanha da Pulmonale alerta para estigmatização de doentes com cancro do pulmão

31 de Julho 2020

A certeza de que o tratamento do cancro do pulmão tem evoluído, bem como apelos aos doentes para que não se escondam e à sociedade que não os estigmatize, são motes da nova campanha que a Pulmonale lança sábado.

Através de seis vídeos que juntam testemunhos de doentes e profissionais de saúde na abordagem a temas como o diagnóstico precoce, os ensaios clínicos, a jornada do doente, as novas terapêuticas, a participação do doente e o suporte na doença oncológica, a campanha nacional “O caminho é para a frente” vai ser lançada sábado no Dia Mundial do Pulmão.

Em declarações à agência Lusa, a presidente da Associação Portuguesa da Luta Contra o Cancro do Pulmão – Pulmonale, Isabel Magalhães, recordou que “por norma o doente com cancro do pulmão tende a esconder-se e a não dar a cara devido à estigmatização de que é vítima”.

“Normalmente o cancro do pulmão é diagnosticado numa fase tardia e até há uns anos era tido como uma sentença de morte. Uma grande parte do doente com cancro do pulmão foi fumador e acha que a sociedade vai fazer um julgamento sobre a sua conduta. Tudo isto faz com que o doente se feche e tenha muita dificuldade em manifestar-se e em defender os seus próprios interesses enquanto doente”, descreveu Isabel Magalhães.

A presidente da Pulmonale defendeu, assim, uma “quebra” de “barreiras e ideias feitas”, sublinhando também que “muita coisa mudou e nos últimos 10 anos”, período em que “têm acontecido grandes evoluções na área oncológica e no tratamento do cancro do pulmão em particular”.

Isabel Magalhães é economista e foi convidada a associar-se à Pulmonale, à qual preside desde o ano passado, há cerca de uma década pelo especialista nesta doença, António Araújo, diretor do serviço de oncologia médica do Centro Hospitalar Universitário do Porto e professor catedrático do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto.

Também para o especialista “há um estigma muito grande sobre os doentes com cancro do pulmão, por este estar muito associado ao consumo de tabaco. Isso não pode acontecer”.

Assinalando que os avanços terapêuticos alcançados nos últimos anos no tratamento do cancro do pulmão permitiram “triplicar ou quase quadruplicar” a esperança de vida de doentes que antes encaravam o diagnóstico como uma sentença de morte, António Araújo destacou que longe vai o tempo em que se associava esta doença apenas à “velhinha” quimioterapia ou às cirurgias “de peito aberto”.

“E não só nos estádios iniciais, em que se passou da cirurgia com o tórax aberto às cirurgias minimamente invasivas, que se registaram avanços. Nos estádios mais avançados também tivemos um grande avanço, o que se traduziu-se num ganho substancial de quantidade e qualidade de vida. Somam-se os medicamentos com muito menos efeitos colaterais e novas técnicas e terapias”, enumerou o médico do CHUP.

De acordo com o também professor catedrático do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, além da radioterapia, técnica a partir da qual se consegue debitar uma taxa de radiação muito elevada no local e só no local pretendido, e das chamadas terapias dirigidas ou personalizadas, “há cerca de três anos começou a usar-se a imunoterapia que veio mudar o paradigma de tratamento de cancro, particularmente o cancro de pulmão”.

Em causa está um tipo de cancro considerado a doença oncológica com maior mortalidade a nível mundial, sendo em Portugal o quarto cancro com maior incidência e o primeiro que mais mata.

Estatísticas de 2018 indicam que foram detetados cerca de 5.200 novos casos de cancro de pulmão em Portugal e registados cerca de 4.600 óbitos nesse ano.

Outro número conhecido é o que indica que 80% a 85% dos casos de cancro de pulmão estão associados ao consumo de tabaco.

“A associação trabalha muito a questão da prevenção. Fazemos sensibilização para o não tabagismo e para a cessação tabágica atempada. Mas esta doença também atinge não fumadores e muitas vezes jovens”, alertou Isabel Magalhães, mostrando preocupação com o facto de que a falta de associação a outras causas ou uma interpretação ligeira dos sintomas atrase diagnósticos.

São sintomas do cancro do pulmão: a tosse e expetoração fortes ou o surgimento de sangue na expetoração, o cansaço, o agravamento da falta de ar, dor torácica ou no peito, entre outros.

A campanha “O caminho é para a frente” vai estar disponível no ‘site’ e nas redes sociais da Pulmonale, bem como do patrocinador e parceiros dos vídeos, nomeadamente da MSD Portugal.

Nota relacionada com a campanha conta que esta procurará ser transversal, falando dos sintomas que tardam em aparecer porque “o pulmão não dói”, até aos cuidados paliativos, cuidados associados ao “acolhimento, amparo e acompanhamento dos doentes e das famílias”.

LUSA/HN

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