A Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) realizou um inquérito em agosto a 4.136 médicos dentistas, de um total de 10.653 membros com inscrição ativa, para aferir o impacto da pandemia nesta área profissional.
Entre as medidas adotadas pelos médicos dentistas para mitigar os efeitos do encerramento temporário dos consultórios e da redução do número de consultas, 33% disseram que reduziram ou abdicaram do salário enquanto sócios-gerentes, 15% reduziram horários de trabalho e quase 11% mantiveram funcionários em ‘lay-off’.
De acordo com o inquérito, 71% das clínicas e consultórios de médicos dentistas sofreram quebras na faturação entre 20% e 40% nos meses de maio e junho. Quase 20% dos inquiridos reportaram uma quebra superior a 40%, e 35% registaram uma descida entre 21% e 40%, valores comparativos com o mesmo período de 2019.
Esta análise, segundo a OMD, pretendeu fazer um primeiro balanço do impacto que a Covid-19 está a ter nos consultórios e clínicas de medicina dentária após a reabertura da atividade.
Os médicos dentistas estiveram parados entre meados de março e 4 de maio, atendendo apenas situações urgentes ou inadiáveis na sequência de normas emitidas devido à pandemia.
Entre os que responderam ao inquérito, perto de 68% referiram que o número de consultas diminuiu após a reabertura.
Para 46% dos que participaram no inquérito, o número de consultas diárias baixou entre uma a cinco e para 35% houve uma redução de seis a 10. Para quase 14% houve uma quebra superior a 10 consultas diárias.
Segundo a OMD, para a reabertura das clínicas e consultórios de medicina dentária foram adotadas uma série de medidas de prevenção de contágio da Covid-19 que obrigam, entre outras, à desinfeção dos gabinetes entre consultas.
De acordo com o inquérito 45% dos médicos dentistas reportam um aumento de entre 15 e 30 minutos no intervalo entre consultas, 30% até 15 minutos e 15% mencionam um intervalo superior a 30 minutos.
Há 48% de inquiridos que relatam menor disponibilidade financeira dos doentes para prosseguir tratamentos planeados.
O bastonário da OMD, Miguel Pavão, salienta que esta é “uma época sem precedentes na medicina dentária”
“Se podemos concluir que o impacto nestes primeiros meses é enorme, não sabemos o que irá acontecer no futuro, nomeadamente, se existir uma segunda vaga” da pandemia de Covid-19, frisou.
Questionados sobre a sua situação salarial e apoios sociais durante o período em que as clínicas e consultórios de medicina dentária estiveram com a atividade limitada, 46% dos médicos dentistas disseram que não auferiram qualquer rendimento ou receberam apoio social.
Do total de inquiridos 8% receberam até 250 euros, perto de 18% até 499 euros e outros tantos obtiveram até 999 euros.
Quase 80% dos inquiridos aderiram ao regime de ‘lay-off’ simplificado para os funcionários e 26% beneficiaram do programa ‘Adaptar’ para microempresas ou PMEs.
Menos de 5% dos médicos dentistas conseguiram aderir ao ‘lay-off’ para sócios-gerentes e 9% pediram apoios, mas não os conseguiram.
Para o bastonário é “urgente que o Governo adote medidas específicas para a medicina dentária”.
“Há linhas de apoio que devem ser adaptadas às necessidades e requisitos da medicina dentária, que não se enquadra em apoios já existentes. No caso dos médicos dentistas, o Governo tem muito trabalho a fazer. Deveria ter olhado de imediato para as empresas desta área, tendo em conta que foi o próprio executivo, através do Ministério da Saúde, que suspendeu a nossa atividade”, frisou,
Quase 91% dos médicos dentistas que participaram no inquérito têm microempresas e quase 7% são PMEs com menos de 10 funcionários.
“É urgente apoiar estas empresas, sob pena de a situação económica que o País atravessa resultar em mais prejuízos. É importante lembrar que 98% dos cuidados de saúde oral prestados à população são realizados por privados, é a saúde oral da população que está em risco e Portugal já tinha antes da pandemia um dos piores índices de acesso a cuidados de saúde oral da Europa”, disse Miguel Pavão.
A pandemia de Covid-19 já provocou pelo menos 787.918 mortos e infetou mais de 22,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.788 pessoas das 54.992 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
LUSA/HN
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