Pandemia vai criar várias velocidades na mobilidade global – OIM

11 de Setembro 2020

O diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), António Vitorino, acredita que a pandemia de covid-19 vai criar várias velocidades de mobilidade das pessoas, entre os países, que deixará para trás os menos desenvolvidos.

Durante uma conferência sobre o “impacto da pandemia na Agenda 2030 – o caso das migrações”, organizada pelo Instituto Camões, a que a Lusa assistiu, Vitorino disse estar preocupado com o impacto da atual crise sanitária global, referindo o exemplo do modo como os migrantes estão a ser vítimas de políticas discriminatórias, no apoio dos Estados aos cidadãos.

“Um dos grandes problemas num futuro próximo vai ser o da mobilidade das pessoas”, disse Vitorino, mencionando as preocupações das autoridades sanitárias na procura de bloqueio da propagação do novo coronavírus.

E as restrições de mobilidade afetam, inevitavelmente, os milhões de migrantes que ficam em situação mais difícil com esta pandemia.

“Em vez de ter diminuído, o fluxo de migrantes entre África e a Europa aumentou, nos últimos meses”, explicou o diretor da OIM, acrescentando que se verificou mesmo um fluxo nos dois sentidos, com alguns migrantes a tentar regressar aos seus países de origem, perante os sinais de agravamento da crise sanitária.

Na conferência, que teve um auditório presencial nas instalações do Instituto Camões, mas que foi transmitida por vídeo, António Vitorino está particularmente preocupado com o facto de alguns países não se demonstrarem capazes de lidar com o controlo da mobilidade em tempos de pandemia, aumentando o fosso entre os mais e os menos desenvolvidos.

Vitorino salientou ainda a forma como alguns países deixaram os migrantes ilegais fora dos sistemas de saúde.

“Singapura, por exemplo, não considerou os imigrantes ilegais como cidadãos aptos a serem acolhidos pelos sistemas sanitários”, exemplificou o dirigente da OMI, para dizer que esta questão discriminatória afeta muitos outros países e está a ter um impacto negativo no combate à pandemia.

“Em Singapura, muitos dos surtos da pandemia ocorreram exatamente nas comunidades de migrantes ilegais”, explicou Vitorino.

O diretor-geral da OIM salientou o esforço das organizações internacionais no combate à pandemia, procurando exatamente centrar o seu apoio nas diferentes comunidades de migrantes, com vários milhões de dólares.

Muito deste dinheiro, contudo, está a ser retirado do programa Agenda 20-30, comprometendo os objetivos deste projeto.

“O esforço financeiro que está agora a ser feito vai, certamente, prejudicar o programa Agenda 20-30 no final desta década”, reconheceu António Vitorino.

No Instituto Camões esteve presente a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, que questionou Vitorino sobre as lições que se podem tirar desta pandemia, no seu impacto nos migrantes.

“Tenho mais dúvidas do que certezas, sobre essa matéria”, respondeu Vitorino, dizendo que é importante que esta pandemia não deixe ninguém para trás, nomeadamente os imigrantes.

“Boris Johnson [o primeiro-ministro britânico] deu um bom contributo para isso, quando reconheceu que a sua vida tinha sido salva por dois imigrantes, técnicos de saúde, um português e uma neo-zelandesa”, disse Vitorino, referindo-se ao primeiro-ministro britânico.

Mas o diretor-geral da OIM referiu ainda o esforço que alguns países, como a Itália, estão a aproveitar esta ocasião de crise sanitária para regularizar a situação de milhares de imigrantes ilegais.

NR/HN/LUSA

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