“Sem eletricidade o elevador não funciona. Os meus joelhos são delicados e não posso estar a subir e a descer quando preciso de algo do supermercado. Fica tudo mais complicado ainda porque na situação atual (crise e pandemia da covid-19) é preciso ir a vários sítios para conseguir o que necessitamos”, disse Beatriz Conceição de Sousa, 75 anos, à agência Lusa.
A luso-venezuelana vive em Sabana Grande (leste de Caracas) e explicou que “se não fosse a ajuda dos vizinhos não saberia o que fazer para subir e descer sete andares com compras essenciais”.
“Não pensei que a minha velhice seria assim. Sou viúva, os meus dois filhos estão fora (emigraram), o dinheiro não rende e há sempre um problema para resolver, se não é a falta de água, é o gás ou a eletricidade e sem luz há o medo de que alguém tente entrar no edifício e no apartamento”, referiu.
Em El Recreo, também no leste de Caracas, o Centro Comercial City Market colocou “um aviso” a informar que as falhas elétricas poderão “persistir durante mais tempo”, recomendando aos clientes para que tomem precauções acrescidas”.
As estações do Metro de Chacaíto e Sabana Grande estão encerradas há três dias devido às falhas elétricas e vários populares disseram à Lusa temer que “as falhas se expandam e prolonguem” no tempo.
O padeiro José Martins, filho de portugueses, admitiu que é “com grande esforço” que “tenta manter as portas dos negócios abertos”, mas precisa “de luz para fazer doces”.
“Sem luz não produzimos e o que está feito estraga-se. Falha a internet e as comunicações. Algumas pessoas pagam com notas de dólares, mas, ainda assim, não compensa estar aberto porque significa perdas”, disse.
Na quarta-feira, falhas no abastecimento de energia provocaram apagões em pelo menos 17 dos 24 Estados do país, incluindo o Distrito Capital.
Nalgumas localidades o serviço elétrico foi restituído, mas através do Twitter, os utilizadores queixam-se de que foi por pouco tempo.
Através das redes sociais e das rádios locais, inúmeras pessoas dão conta de que, além de Caracas, registaram-se “apagões parciais” e “oscilações” da eletricidade nos estados de Anzoátegui, Zúlia, Bolívar, Carabobo, La Guaira, Maracay, Cojedes, Falcón, Sucre, Barinas, Lara, Guárico, Arágua, Nova Esparta, Miranda e Táchira.
Através do Twitter, a empresa estatal Corporação Elétrica Nacional da Venezuela (Corpoelec) informou que há técnicos a trabalhar para resolver avarias no centro, norte, sul e leste de Caracas, e também no vizinho estado de Miranda.
Na Venezuela são frequentes as queixas dos consumidores sobre os apagões elétricos, durante várias horas e em diversos estados do país.
Em 07 de março de 2019, ocorreu o maior apagão da história da Venezuela. Uma falha na Central Hidroelétrica Simón Bolívar deixou o país totalmente às escuras durante pelo menos cinco dias.
O Comité de Afetados pelos Apagões registou, entre os meses de janeiro e julho de 2020, 48.659 apagões no país, mais do dobro das 23.860 falhas registadas em 2019.
LUSA/HN/NR
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