Rufino Silva é médico oftalmologista com mais de 30 anos de experiencia e o atual vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, associação à qual concorre agora ao cargo de presidente. Conhecedor da Sociedade, por dentro e por fora, o Dr. Rufino é até à data o único candidato oficializado. Com uma lista que integra alguns dos mais consagrados médicos oftalmologistas do país, estabelecidos do Minho ao Algarve, o candidato pretende investir ainda mais na formação contínua destes profissionais de saúde e promete escutar as suas necessidades.
Healthnews (HN) – O Dr. é atualmente o vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO), e candidata-se agora ao cargo de presidente. Em retrospetiva, o que destacaria do seu mandato enquanto vice-presidente?
Dr. Rufino Silva (RS) – Fui no último biénio vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, termina agora em dezembro o mandato. Durante o primeiro ano foi possível realizar as atividades a que nos tínhamos proposto, mas no segundo ano, devido à pandemia, houve uma interrupção. Veio o confinamento e a partir daí foi difícil manter todas as atividades programadas e tivemos que cancelar grande parte da atividade científica que estava programada. Isto foi algo comum a várias sociedade a nível internacional.
Há um aspeto que queria ressaltar, é que ainda antes do confinamento a SPO emitiu um comunicado aos oftalmologistas com as medidas e normas de segurança que deveriam seguir nos seus atos médicos; portanto, na clínica, no consultório, nos hospitais… E que ainda hoje se mantêm. Na altura houve quem julgasse que pudessem ser demasiado drásticas mas, de facto, vieram-se a provar as necessárias e as adequadas. Mais tarde o colégio da especialidade também se associou e emitiu normas semelhantes, e trabalhou-se em conjunto com o colégio da especialidade para que todos os oftalmologistas se sentissem seguros na sua atividade, e para que preservassem a saúde e segurança dos doentes também.
HN – E qual é a relevância e a importância da SPO, sobretudo agora, no contexto de pandemia?
RS – A SPO tem como uma das suas funções a formação científica dos seus sócios, a preservação da saúde da população, ajudar a definir normas de funcionamento e estabelecer parcerias com as entidades regulamentares e governamentais. Neste momento de grande instabilidade e insegurança, e em que é preciso improvisar com segurança, a SPO tem uma grande importância. E porquê? Porque reúne o saber. São cerca de 1.100 oftalmologista, que fazem um corpo clínico enorme e de grande experiência que pode, e está, a ser muito útil para a sociedade.
HN – O Dr. conhece bem e por dentro a SPO. No seu ponto de vista, quais são os pontos fortes, os pontos fracos, e aquilo que há que mudar?
RS – Há um aspeto que a Sociedade faz tradicionalmente que consiste em organizar congressos que tenham que ver com a formação científica, e é uma sociedade muito produtiva nesse aspeto. Temos várias subespecialidades dento da especialidade, e durante o ano estas especialidades vão efetuando esta atividade formativa com os próprios membros e com colaborações internacionais. Ora, isto foi interrompido a partir de março, mas não é porque a sociedade tenha falhado, foi apenas porque a realidade o impôs.
Aquilo que pretendemos, e vamos fazer quando assumirmos o nosso mandato no próximo biénio, é investir de forma inovadora na formação. Repare que neste período ficámos todos mais familiarizados com as novas tecnologias e mesmo com algumas que já existiam mas das quais estávamos afastados. Tivemos que adotá-las no ensino e também na medicina, pelo que para nós é agora quase normal. Claro que o contracto direto é sempre melhor e preferível, gostaríamos todos de viajar e confraternizar com os nossos colegas a nível nacional e internacional, mas além de estabelecer estas reuniões, o que gostaríamos de fazer seria inovar na formação. Portanto, todos os conteúdos produzidos – até porque somos uma sociedade muito rica profissionalmente, com colegas de grande nível internacional – têm que ser organizados. Este saber, dos nossos colegas, tem que ser organizado e tem que ser estruturado.
É esse o nosso grande investimento. É tornar a formação contínua dos nossos oftalmologistas não só dependente dos congressos, mas também de plataformas internacionais e nacionais, com conteúdos das mesmas origens, que ficarão devidamente acessíveis, à distância de um clique. Alguns destes conteúdos seriam criados por nós, outros seriam obtidos em parcerias com plataformas e colegas a nível internacional, com quem temos relações.
HN – É essa a principal medida que pretende implementar?
RS – Absolutamente, a formação é mesmo muito importante.
Vamos também defender a saúde da população. Isto tem que ver com o ato médico da oftalmologia ser exclusivo a médicos oftalmologistas. Estes são médicos que têm uma formação extensíssima: têm a faculdade de seis anos, mais um ano ou dois de internato e depois mais quatro de faculdade. Só ao fim destes 10 a 12 anos é que está apto a atuar como profissional de saúde na área da oftalmologia de maneira autónoma. Isto exige mesmo muito conhecimento, e nós queremos que a saúde ocular dos portugueses seja de grande qualidade.
HN – Mas os obstáculos a esta qualidade de que fala são o quê, a proliferação e diversidade de oferta de serviços por parte dos optometristas?
RS – Esse pode ser um exemplo. Nós queremos que cada profissional tenha o seu ramo, e portanto não podemos colocar alguém que não está preparado para fazer o diagnóstico de uma doença a realizar um tratamento. Os médicos prescrevem, mas não vendem.
Tem que haver uma separação. Estamos preparados para prevenir, diagnosticar e tratar, e os outros técnicos profissionais estarão preparados para executar e vender. Há técnicos que trabalham com os oftalmologistas, e tudo é perfeitamente correto, desde que trabalhemos em cooperação, embora com os campos bem definidos. Isto é um benefício enorme para a saúde dos portugueses.
HN – E que mais medidas gostaria de apresentar?
RS – Nós temos sempre um grande respeito por quem veio antes de nós. Estas são pessoas que dão o seu tempo, o seu melhor e de forma gratuita, em prol dos outros membros da sociedade. Portanto, eu estou convencido de que todos deram o seu melhor, assim como nós daremos o nosso melhor. Cada equipa trás ideias inovadoras que vai tentar implementar. Para nós falta ter acesso de forma muito simples e prática à melhor informação disponível. Vamos defender também a saúde dos portugueses prestada pelos oftalmologistas, e vamos auscultar os oftalmologistas e manter um contacto direto com eles ao longo do ano., 365 dias. Estas são as medidas que queria apresentar agora.
Para fazer isto precisamos de uma equipa que seja forte. É assim mesmo a equipa que vamos apresentar, que, aliás, já está selecionada, como é do domínio público. Tratam-se de oftalmologistas de grande mérito profissional, pessoal e associativo a nível nacional e internacional, provenientes do Minho ao Algarve, que conhecem bem a oftalmologia portuguesa e cada oftalmologista – são escolhidos entre os melhores.
Queremos que esta direção seja forte, que transmita estabilidade, segurança e que seja capaz de inovar, porque é preciso imaginação para inovar. É preciso aproveitar este momento de alguma instabilidade e insegurança para fazer dele uma força. É aí que vamos conseguir inovar. Temos uma equipa ágil e dinâmica, forte e estável e estou confiante de que vamos conseguir.
HN – E quem são alguns destes profissionais que já fazem parte da sua lista?
RS – Temos connosco o Dr. Pedro Menéres do Hospital de Santo António, o Prof. Manuel Falcão do Hospital de São João, a Profª. Lilianne Duarte do Hospital de Sta. Maria da Feira, O Dr. Fernando Trancoso Vaz do Hospital Amadora Sintra, vice-presidente, e a Dra. Ana Vide Escada do Hospital Garcia de Orta, em Almada. É esta a comissão central, mais a Dra. Ana Magriço do Centro Hospitalar de São José, que será a Secretária Geral.
Há um grande entusiasmo por parte da nossa equipa e há também a perceção de que a sociedade precisa neste momento de uma equipa que seja capaz de gerir este processo neste tempo. Tem que ser uma equipa que transmita ao mesmo tempo uma noção de estabilidade e fortaleza, de segurança e que seja capaz de inovar. E eu considero que a nossa equipa tem todas estas caraterísticas. São pessoas de reconhecido mérito às quais se juntarão muitos mais outros que não vou mencionar ainda, e que serão capazes do melhor. O que queremos é auscultar cada sócio e integrar novas ideias conceitos e conhecimentos.
Entrevista de João Ruas Marques
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