Consultas de psiquiatria aumentaram em Portugal, ao contrário de outros países

9 de Outubro 2020

As consultas de psiquiatria e psiquiatria da infância e da adolescência subiram nos primeiros meses do ano em Portugal, ao contrário do que aconteceu em outros países, segundo o diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental.

Um inquérito divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a propósito do Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala em 10 de outubro, revela que a pandemia de Covid-19 interrompeu ou suspendeu serviços essenciais de saúde mental em 93% dos países do mundo, numa altura em que a procura por estes cuidados de saúde está a aumentar.

Para o diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental (PNSM), Miguel Xavier, o estudo indica que terá acontecido na área da saúde mental o que aconteceu na maior parte das especialidades médicas em que houve uma diminuição da prestação de cuidados associada à pandemia.

“Ao contrário dos outros países, em Portugal nos primeiros meses do ano, vários deles já de pandemia, o número de consultas em psiquiatria e psiquiatria da infância e da adolescência não baixou, subiu”, observou o psiquiatra, adiantando que houve “um cuidado expresso” para que não houvesse uma interrupção de cuidados aos doentes que são seguidos em serviços de psiquiatria.

A este propósito, lembrou a norma na Direção-Geral de Saúde relacionada com os internamentos dos doentes Covid-19 que alertava para a necessidade dos serviços de psiquiatria se manterem como estavam para dar resposta ao que as autoridades de saúde pensavam que “iriam ser as necessidades aumentadas da população”.

“Isto tanto resultou que o número de consultas aumentou em relação ao ano passado”, salientou, referindo que a população que não é seguida em serviços de psiquiatria, mas que teve durante a fase da pandemia sofrimento psicológico, sintomas de depressão, ansiedade, insónia, foi seguida nos centros de saúde.

“Se me pergunta se a resposta de Portugal foi suficiente para o aumento das necessidades (…) em relação aos cuidados primários eu não consigo dar-lhe uma resposta cabal”, afirmou Miguel Xavier, adiantando que essa resposta será conhecida dentro de alguns meses.

Para Miguel Xavier, o “mais expectável era que, tal como aconteceu nos restantes campos da medicina, houvesse um retraimento no número de consultas”.

“Isto não é um assunto que só diz respeito à psiquiatria e a Portugal, isto tem a ver com toda a medicina e com todo o mundo”, mas “é indiscutível que há uma necessidade acrescida decorrente do sofrimento psicológico das pessoas”, disse.

Mas, ressalvou, nem todo o sofrimento psicológico necessita de cuidados de saúde, faz parte da vida e é importante que a população perceba isso para “ficar tranquila e não haver dramatismos nesta área”.

“Há estudos longitudinais realizados desde o início do período de confinamento até ao fim que mostram que os sintomas depressivos e ansiosos da população iam diminuindo”, porque as pessoas se vão habituando a lidar com o sofrimento, disse o diretor do PNSM.

Contudo, há um conjunto de pessoas em que “não se verificou uma diminuição tão acentuada” dos sintomas depressivos e ansiosos, nomeadamente as que estavam desempregadas.

Esta situação alerta para um aspeto “muito importante” e que já era conhecido: “o impacto do contexto económico no sofrimento psicológico das pessoas”.

A pobreza, o desemprego, a desigualdade social são “fatores determinantes, não exclusivos, mas importantes e relevantes, no aparecimento do sofrimento psicológico”.

Por isso, defendeu Miguel Xavier, “a resposta às questões de saúde mental provocadas por uma crise, como a pandemia, têm de ser enquadradas do ponto de vista da saúde, mas também a nível do apoio social às pessoas que estão em situação mais precária”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Secretária de Estado visita ULS Coimbra e valida plano de inverno

A Secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, visitou hoje a ULS de Coimbra, onde conheceu as obras de requalificação da urgência e o plano de contingência para o inverno 2024/2025, que já apresenta resultados positivos na redução de afluência

Violência doméstica: Cova da Beira apoiou 334 vítimas

O Gabinete de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica e de Género da Cova da Beira acompanhou, este ano, 233 casos de adultos na Covilhã, Fundão e Belmonte, e 101 crianças e jovens, num total de 334 pessoas.

MAIS LIDAS

Share This