Descoberta nova estratégia tratamento da Covid-19 com recurso a drogas metálicas

19 de Outubro 2020

Investigadores descobriram que uma classe de medicamentos metálicos atualmente utilizados no tratamento de outras doenças infeciosas está a demonstrar eficácia para suprimir potencialmente a replicação do vírus SARS-CoV-2 e alivio dos sintomas associados ao vírus em modelos animais.

Uma equipa de investigação liderada pelo Professor Hongzhe SUN, Norman e Cecilia Yip, do departamento de Química na Faculdade de Ciências, e pelo Porfessor Kowk Yung YUEN, Henry Fok, professor de doenças infeciosas no Departamento de Microbiologia, Li Ka Shing da Faculdade de Medicina da Universidade de Hong Kong (HKU), descobriu uma nova estratégia antiviral para o tratamento da Covid-19.

A descoberta promove uma recente e já disponível opção terapêutica com alto potencial clinico para infeções por SARS-CoV-2. Este trabalho inovador foi publicado online no jornal Natural Microbiology. Uma patente relacionada foi pedida nos Estados Unidos.

Metodologia do estudo e descobertas

Geralmente, compostos metálicos são utilizados enquanto agentes anti microbianos e as suas atividades antivirais raramente têm sido exploradas. Depois de analisar uma série de compostos relacionados com drogas metálicas, a equipa de investigação identificou o critrato de bismato ranitidino (RBC), um medicamento anti úlcera que contem o metal bismute e é comumente utilizado no tratamento da infeção associada à Helicobacter pylori, como um potente agente anti-SARS-CoV-2, tanto in vitro como in vivo.

O RBC atua na vital e não-estrutural proteína 13 (Nsp13), um helicase viral essencial para que o SARS-CoV-2 se replique, ao deslocar os iões de zinco cruciais na junção do zinco com os iões de bismuto, para potencialmente suprimir a atividade do helicase.

Foi demonstrado que o RBC reduz de forma significativa as cargas virais em mais de 1.000 vezes nas células infetadas por SARS-CoV-2. Em particular, num modelo de hamster sírio dourado, o RBC suprimiu a replicação de SARS-CoV-2 para reduzir as cargas virais em cerca de 100 vezes tanto nas vias respiratórias superiores como inferiores, e mitigar a pneumonia associada ao vírus. O RBC reduz demarcadamente o nível de marcadores de prognóstico das outras citoquinas pro-inflamatórias e quimocinas em casos graves de Covid-19 de hamsters infetados, comparado com o grupo de controlo tratado com Remdesivir.

O RBC exibe uma baixa citotoxicidade com um alto índice de seletividade de 975 (quanto mais alto o número, mais segura a droga), quando comparado com o Remdesivir que tem um baixo índice de seletividade de 129. A descoberta indica uma grande janela entre a citotoxicidade da droga e a atividade antiviral, o que permite uma grande flexibilidade no ajuste das dosagens para tratamento.

A equipa investigou o mecanismo do RBC na SARS-CoV-2 e revelou pela primeira vez os helicases vitais de Nsp13 como um alvo drogável para o RBC. Irreversivelmente, este acaba por expulsar os iões de zinco no domínio da ligação para alterá-la para a ligação de bismuto através de uma rota de deslocação distinta metálica. O RBC e os seus bi-compostos disfuncionalizam o helicase Nsp13 e inibem potencialmente tanto a ATPase e as atividade de entrelaçamento do ADN desta enzima.

As descobertas da equipa salientam as helicases virais como um alvo de tratamento, e o alto potencial clinico dos medicamentos com bismute e outras drogas metálicas para tratamento de infeções por SARS-CoV-2. Esperançosamente, ao seguir este avanço importante mais agentes antivirais de medicamentos já disponíveis possam ser identificados para o potencial tratamento de infeções de Covid-19. Eles podem estar na forma de regimes de combinações (cocktails) com medicamentos que exibem atividades anti SARS-CoV-2, incluindo o RBC, dexametasona e interferão-β1b.

AG/JM/HN

 

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