Um quarto dos portugueses tem sempre ‘stock’ de antibióticos em casa

18 de Novembro 2020

Um quarto dos inquiridos num estudo nacional sobre antibióticos diz ter sempre um 'stock' destes medicamentos em casa, sendo que a esmagadora maioria provém do último tratamento.

O inquérito nacional, divulgado no Dia Europeu do Antibiótico, aponta também que cerca de metade dos participantes refere que devolve na farmácia os antibióticos que sobram, mas 30% confessa que o guarda para uma próxima necessidade.

São os mais jovens (quase metade) que guardam mais antibióticos e os mais idosos que alegam entregar os que sobram na farmácia, refere o inquérito “Consumo de Antibióticos”, realizado pelo Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica para o Grupo de Infeção e Sepsis (GIS).

Consequentemente 16% dos inquiridos afirma ter antibióticos armazenados em casa, sobretudo homens (21%) e jovens (27%), enquanto 25% diz ter sempre um stock em casa.

Para o presidente do GIS, Paulo Mergulhão, guardar os antibióticos tem “duas consequências perversas”.

“Primeiro, a utilização desregulada de antimicrobianos e segundo é potencialmente inseguro para quem toma esse antibiótico porque o facto de nós usarmos determinado antibiótico para tratar uma infeção acarreta o risco de criarmos resistências nas bactérias que convivem connosco a esse mesmo antibiótico”, explicou.

O médico intensivista disse, a este propósito, que pelo menos em infeções graves os médicos tendem “a tentar não usar a mesma classe de antimicrobianos duas vezes seguidas”.

Defendeu ainda que os antibióticos que sobram devem ser devolvidos na farmácia até por uma “questão ecológica”.

Segundo o estudo, apenas 36% da amostra identifica corretamente que os antibióticos tratam infeções provocadas por bactérias, 35% afirma não saber e os restantes referem que tratam infeções provocadas por vírus ou todo o tipo de infeções.

“São as mulheres e os mais jovens que melhor conhecimento demonstram sobre o consumo dos antibióticos. 39% das mulheres face a 33% dos homens identificou corretamente as infeções tratadas por antibióticos em contraste com apenas 24% dos mais idosos”, indica o estudo.

Três em cada quatro participantes estão cientes da presença de antibióticos em atividades para além da medicina humana, como na medicina veterinária e na agropecuária.

Dois terços afirma conhecer o conceito de resistência aos antimicrobianos, sem diferença entre homens e mulheres, mas com um muito maior desconhecimento nos idosos, com 44% a desconhecer este assunto.

A grande maioria (95%) dos que conhecem o conceito consideram este problema sério e 85% afirma que é “um assunto extremamente relevante para a saúde pública”.

Já 93% identifica o consumo de antibióticos como estando relacionado com aparecimento da resistência aos antimicrobianos.

O estudo revela que 22% dos participantes conhece alguém que tenha tido uma infeção resistente aos antibióticos: 4% o próprio e 18% um familiar ou amigo, um número que surpreendeu Paulo Mergulhão, porque, afirmou, “salienta a dimensão do problema da resistência aos antimicrobianos”.

Apenas 16% acha possível obter antibióticos nas farmácias sem prescrição médica, sendo este número maior nos homens e nos mais jovens.

O inquérito, que decorreu entre 7 e 24 de setembro deste ano e que teve uma amostra de 1.178 pessoas com 15 ou mais anos, visou apresentar “um retrato inédito sobre os hábitos e comportamentos das famílias portuguesas face aos antibióticos, avaliando também a sua perceção sobre os riscos da sua incorreta utilização”.

“De uma forma geral, os inquiridos revelaram um comportamento muito razoável face aos antibióticos, não deixando de ser necessária atenção a alguns comportamentos de camadas mais envelhecidas da população”, adverte o estudo.

Esta análise sugere “um possível impacto positivo” de programas e campanhas nacionais, como a ‘Tome a Atitude Certa’, lançada há um ano e que visa a consciencialização para “a prática de comportamentos diferentes e mais conscientes na toma de antibióticos”.

LUSA/HN

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