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O lado ‘bom’ da pandemia
Parece incrível como já passou mais de meio ano desde o início da pandemia do COVID-19 em Portugal. Altura em que todos vimos a nossa vida alterada e a nossa realidade de ‘pernas para o ar’. Acho que é isso que qualquer doente crónico sente no dia do seu diagnóstico, daí também dizerem que nós, doentes crónicos, estamos mais preparados para lidar com esta situação. Somos mais resilientes e adaptamo-nos melhor às mudanças diárias e desafios, afinal é mesmo essa a nossa realidade todos os dias.
Como doente crónica com Esclerose Múltipla estes tempos foram bastante desafiantes a todos os níveis, quer físicos, mentais e pessoais. Acho que ainda estou a aprender a viver neste ‘novo mundo’ com todos os medos e desafios que ainda nos assolam e que vão estar connosco nos próximos tempos. Vimos neste tempo a nossa saúde posta ainda mais em causa, a dificuldade do acompanhamento médico, consultas, tratamentos, a fisioterapia que deixou de existir, as juntas médicas que foram suspensas… nós como doentes crónicos acabámos por nos sentir abandonados e deixados num ‘pendente’ sem fim à vista.
E a realidade é que até à data ainda não se vislumbram grandes melhorias, pois muito ainda está parado ou recomeça timidamente e muitos de nós ainda estamos desacompanhados e deixados a navegar ao sabor da pandemia. Mas será tudo negativo? E se olhássemos para o lado positivo de tudo isto e de como uma situação completamente inesperada surtiu alguns efeitos positivos para nós e para toda a sociedade em geral? Se há uns meses atrás tínhamos todos de ir mensalmente ao hospital levantar a nossa medicação o que era uma medida completamente desajustada e desnecessária do ponto de vista logístico, agora vimos um projecto nacional em pleno funcionamento e os próprios centros hospitalares a criarem plataformas de entrega da medicação ao domicílio ou na farmácia da zona de residência. O que é que bloqueou esta situação que já era pedida há tanto tempo? A realidade é que rapidamente o sistema de adaptou a esta resposta por isso não havia justificação para a demora na mesma.
E se antes o acesso ao teletrabalho era dificultado por todas as entidades patronais e as pessoas com incapacidade viam muitas vezes a sua vida profissional posta em causa ou até mesmo o processo de adaptação do seu posto de trabalho dificultado, a realidade é que em menos de um mês tínhamos um país completamente adaptado e ajudado ao teletrabalho e a usufruir de todos os aspectos positivos do mesmo. Quando o acesso ao trabalho era vedado a muitas pessoas pela sua condição de saúde, agora pode ser uma oportunidade para integrar o mundo profissional, com as entidades a verem o teletrabalho como algo fidedigno e muitas vezes mais seguro e vantajoso. Acho que todos podemos aprender com estas mudanças. Estamos a viver numa nova realidade, e apesar de todos os medos e receios que temos no nosso futuro, acredito que há muito de positivo que surgiu deste novo mundo.
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