“As reuniões que tivemos até agora com colegas chineses têm sido muito produtivas e muito boas e a minha impressão é que os chineses, tanto a nível governamental, mas também a nível da população, realmente querem saber o que aconteceu”, disse Fabian Leendertz, do Instituto Robert Koch, na Alemanha, citado pela agência France-Presse.
Leendertz é um dos dez cientistas escolhidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), após um longo processo de seleção, para tentar rastrear a origem do novo coronavírus e descobrir como é que este foi transmitido aos seres humanos.
Um ano após a descoberta dos primeiros casos, na província de Wuhan, no centro da China, os cientistas vão deslocar-se ao país asiático, pela primeira vez, numa missão que deve durar entre cinco e seis semanas, incluindo duas a cumprir quarentena.
Eles serão acompanhados por Peter Ben Embarek, um especialista da OMS em segurança alimentar e zoonoses.
“Não é uma questão de encontrar um país ou autoridades responsáveis. É uma questão de entender o que aconteceu para reduzir os riscos no futuro”, insistiu Fabian Leendertz, em entrevista à AFP.
O especialista sublinhou que a transmissão do vírus de animais para seres humanos ocorre todos os anos, em todos os países do mundo.
“É apenas azar que este vírus seja tão pernicioso”, apontou. Uma vez na China, “começaremos em Wuhan, porque é onde os dados mais consistentes estão disponíveis. A partir daí, seguimos todas as pistas onde quer que nos levem”, garantiu.
Para preparar a chegada da missão internacional à China, um epidemiologista e especialista em saúde animal da OMS esteve no país este verão.
Desde então, os dez especialistas têm-se reunido regularmente com cientistas chineses.
Apesar de tudo, Leendertz alertou que “não se deve esperar que, depois desta primeira visita à China em janeiro, a equipa volte com resultados conclusivos”.
No entanto, ele espera voltar da China com um “plano concreto” para uma segunda fase da investigação. Leendertz explicou que “grande parte do trabalho”, em particular o aspeto “prático”, vai ser feito por especialistas chineses.
“Estamos aqui para orientar e levar transparência” ao resto do mundo, notou.
Se os cientistas acreditam que o hospedeiro original do vírus é um morcego, ninguém ainda identificou o animal intermediário que permitiu a contaminação humana.
Segundo Leendertz, será preciso, por um lado, “voltar atrás no tempo”, e examinar os vários vestígios guardados pelas autoridades chinesas, e ver se há casos anteriores, para além daqueles identificados no final de 2019.
Outra abordagem será determinar o papel desempenhado pelo mercado de Wuhan, onde animais exóticos eram vendidos vivos.
O especialista em micro-organismos altamente patogénicos diz que tem “certeza” de que os cientistas descobrirão o que aconteceu, “mas não amanhã”.
“Pode demorar um pouco”, apontou.
Ele quer também que a “política fique o mais longe possível” da investigação, numa referência às críticas feitas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que acusou Pequim de omitir informação e a OMS de se curvar à vontade das autoridades chinesas.
LUSA/HN
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