Vacina russa Sputnik V é mais utilizada na América Latina

6 de Fevereiro 2021

Países latino-americanos como Argentina, México e Bolívia têm vindo a virar-se para a Rússia para assegurar vacinas para a covid-19, perante as dificuldades de obter as produzidas em países ocidentais.

Os próprios países ocidentais, incluindo da União Europeia, ultrapassaram o inicial ceticismo em relação à vacina Sputnik V, depois da revista científica Lancet ter publicado um estudo que estima em 91% a eficácia do imunizante produzido nos laboratórios estatais russos, que já se comprometeram com o fornecimento a vários países latino-americanos.

A vacina russa está em utilização ou a aguardar aprovação em Argentina, Bolívia, México, Venezuela, Paraguai, Nicarágua e Panamá, para além de 11 outros países em todo o mundo, numa lista que integra aliados estratégicos do Kremlin, como o Irão, Sérvia e Hungria.

Enquanto os fabricantes das vacinas mais procuradas, Pfizer e Moderna, têm dificuldades em assegurar o fornecimento mesmo a países ocidentais, os países do hemisfério sul têm encontrado outra flexibilidade por parte dos laboratórios estatais russos, Gamaleya, e, muitas vezes, do próprio presidente russo, Vladimir Putin.

Graças à disponibilidade russa para fazer chegar centenas de milhar de doses da Sputnik V, a Argentina conseguiu arrancar a vacinação da sua população na mesma altura que a maioria dos países europeus, a 29 de dezembro de 2020.

Até ao momento, a Sputnik V é a única vacina utilizada pelas autoridades argentinas, tendo já chegado ao país duas remessas, cada uma de 410 mil unidades, ainda assim longe das 5 milhões de doses que deveriam ser fornecidas em janeiro, ao abrigo de um acordo com o Fundo Russo de Investimento Direto.

O contrato com a Rússia prevê um fornecimento total de 20 milhões de doses, que poderão ser aumentadas para 25 milhões, a que se somam 22,4 milhões da vacina AstraZeneca, além de uma opção de compra de 9 milhões de doses do fundo Covax das Nações Unidas.

Kirill Dmitriev, diretor do Fundo russo, afirmou na semana passada que decorrem negociações com dois laboratórios argentinos para produzir localmente a vacina, de forma a ultrapassar as dificuldades de abastecimento.

Depois de ter conseguido ser, a 24 de dezembro, o primeiro país latino-americano a iniciar a vacinação contra a covid-19, recorrendo à vacina Pfizer, o México também tem vindo a virar-se para a Sputnik V, por forma a acelerar o processo, numa altura em que o número de mexicanos mortos pelo novo coronavírus ascende já a 160 mil.

Um dia depois de contrair covid-19, Andrés Manuel López Obrador, presidente mexicano, ligou ao seu homólogo russo a 25 de janeiro, conseguindo mais 24 milhões de vacinas, para os 130 milhões de habitantes do país.

“Conversamos com o presidente (…) Vladimir Putin, que se mostrou genuinamente afetuoso. Convidei-o a visitar o México e agradeci-lhe pela decisão de nos enviar 24 milhões de doses de Sputnik V nos próximos meses”, anunciou Obrador através das redes sociais.

Na semana passada, a Sputnik V chegou também à Bolívia, dando início ao processo de vacinação num dos mais pobres países da região.

Das 5,2 milhões de doses prometidas por Moscovo, chegaram ao país alguns milhares, tendo sido aplicadas as primeiras 4.000.

As vacinas Oxford/ AstraZeneca começarão a chegar apenas em abril, através da Covax.

O Brasil, maior país sul-americano, lançou hoje o edital para a construção, no Rio de Janeiro, do Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde (CIBS) que, segundo o Ministério da Saúde, será o maior centro de fabrico de produtos biológicos latino-americano.

O CIBS, que pertencerá à estatal Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e ao Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), “será fundamental para que o Brasil alcance a autossuficiência” na produção de imunizantes, anunciou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

A Fiocruz é responsável pela produção da vacina de Oxford/AstraZeneca no país sul-americano.

De acordo com o ministro, além desse imunizante, a tutela encontra-se a negociar com outros laboratórios, como o indiano Bharat Biotech, que produz a Covaxin, e o Instituto Gamaleya, da Sputnik V.

LUSA/HN

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