Ministro dos Negócios Estrangeiros admite à CNN responsabilidades do Governo no pico da crise

12 de Fevereiro 2021

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, admitiu esta sexta-feira responsabilidades do Governo no agravamento da pandemia de Covid-19 em Portugal, no mês de janeiro, pelo relaxamento de medidas no Natal.

Numa entrevista ao programa Connect the World with Becky Anderson, do canal televisivo CNN Internacional, Santos Silva disse acreditar que a estirpe do novo coronavírus inicialmente detetada no Reino Unido foi o principal fator por detrás do pico de novos casos de contágio em Portugal, em janeiro.

Contudo, o chefe da diplomacia portuguesa reconheceu que o relaxamento de medidas de combate à pandemia no Natal também pode ter contribuído para a grave situação da crise sanitária em Portugal.

Quando a jornalista perguntou a Santos Silva se o abrandamento nas medidas de contenção no Natal e no Ano Novo estariam por detrás do pico de contágios e de mortes em janeiro, o ministro corrigiu-a e lembrou que a suavização de restrições apenas aconteceu durante o período natalício, “quando as pessoas puderam ir visitar a família”.

Santos Silva atribuiu o agravamento da situação pandémica ao aparecimento em Portugal da nova estirpe inicialmente detetada no Reino Unido, que “representa cerca de metade dos novos casos” no território, mais do que ao relaxamento das medidas.

“Na altura, julgámos que havia condições para facilitar. Mas, na verdade, acreditamos que a nova variante do Reino Unido foi a principal razão”, acrescentou Santos Silva.

Questionado sobre se, com essa resposta, o ministro dos Negócios Estrangeiros português estava a rejeitar qualquer responsabilidade sobre eventuais “erros cometidos” pelo seu Governo, Santos Silva esclareceu que não estava a demarcar-se de culpas.

“Claro que o Governo assume a responsabilidade”, disse Santos Silva, referindo-se ao facilitar de regras na altura do Natal.

O chefe da diplomacia portuguesa também admitiu o “impacto devastador” da pandemia na economia portuguesa, sobretudo porque a crise sanitária está a “afetar particularmente os setores do turismo e da aviação”.

“Na indústria e na agricultura as coisas estão bem”, disse Santos Silva, mostrando confiança em que a economia portuguesa possa recuperar ainda este ano, embora sabendo das dificuldades que se colocam aos empresários portugueses.

“Sou otimista, mas realista”, disse Santos Silva.

O ministro dos Negócios Estrangeiros também reconheceu que o plano de vacinação em Portugal está atrasado, como no resto da Europa, dizendo que apenas 4% da população foi para já vacinada.

“Mantemos a intenção de ter 70% da população adulta vacinada até setembro”, explicou Santos Silva, atribuindo a responsabilidade pelos atrasos atuais à falta de fornecimento de vacinas por parte das empresas farmacêuticas.

“O fornecimento de vacinas está muito aquém do que foi contratualizado” pela União Europeia, disse Santos Silva, que tem agora também responsabilidades neste processo, no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia.

Depois de ver imagens de uma peça jornalística sobre as dificuldades dos hospitais portugueses durante o período crítico de janeiro, Augusto Santos Silva disse que o sistema de saúde em Portugal foi sujeito “a uma enorme pressão”, mas acrescentou que “nunca chegou a colapsar”.

O chefe da diplomacia portuguesa disse que os números da pandemia estão agora muito melhores, como resultado do confinamento a que o país foi sujeito desde final de janeiro, mas disse que as medidas de contenção terão de se prolongar “provavelmente, até depois da Páscoa”.

Santos Silva disse ainda que Portugal é um dos países do mundo a realizar mais testes para o novo coronavírus e que está com uma política de controlo da propagação da pandemia muito apertada, nomeadamente através do fecho de fronteiras.

A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.368.493 mortos no mundo, resultantes de mais de 107,7 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 14.885 pessoas dos 778.369 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Promessas por cumprir: continua a falta serviços de reumatologia no SNS

“É urgente que sejam cumpridas as promessas já feitas de criar Serviços de Reumatologia em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde” e “concretizar a implementação da Rede de Reumatologia no seu todo”. O alerta foi dado pela presidente da Associação Nacional de Artrite Reumatoide (A.N.D.A.R.) Arsisete Saraiva, na sessão de abertura das XXV Jornadas Científicas da ANDAR que decorreram recentemente em Lisboa.

Consignação do IRS a favor da LPCC tem impacto significativo na luta contra o cancro

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) está a reforçar o apelo à consignação de 1% do IRS, através da campanha “A brincar, a brincar, pode ajudar a sério”, protagonizada pelo humorista e embaixador da instituição, Ricardo Araújo Pereira. Em 2024, o valor total consignado pelos contribuintes teve um impacto significativo no apoio prestado a doentes oncológicos e na luta contra o cancro em diversas áreas, representando cerca de 20% do orçamento da LPCC.

IQVIA e EMA unem forças para combater escassez de medicamentos na Europa

A IQVIA, um dos principais fornecedores globais de serviços de investigação clínica e inteligência em saúde, anunciou a assinatura de um contrato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para fornecer acesso às suas bases de dados proprietárias de consumo de medicamentos. 

SMZS assina acordo com SCML que prevê aumentos de 7,5%

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) assinou um acordo de empresa com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que aplica um aumento salarial de 7,5% para os médicos e aprofunda a equiparação com a carreira médica no SNS.

“O que está a destruir as equipas não aparece nos relatórios (mas devia)”

André Marques
Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

DGS Define Procedimentos para Nomeação de Autoridades de Saúde

A Direção-Geral da Saúde (DGS) emitiu uma orientação que estabelece procedimentos uniformes e centralizados para a nomeação de autoridades de saúde. Esta orientação é aplicável às Unidades Locais de Saúde (ULS) e aos Delegados de Saúde Regionais (DSR) e visa organizar de forma eficiente o processo de designação das autoridades de saúde, conforme estipulado no Decreto-Lei n.º 82/2009.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights