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+COVID-19: um ciclo vicioso, virtuoso, perigoso ou apenas guloso?
Em cerca de quatro a cinco semanas não só os novos casos desceram vertiginosamente como, ainda que com menos vertigem, o mesmo sucedeu com os internamentos (enfermaria ou cuidados intensivos) e até os óbitos. Tal não obsta a que a nossa taxa de letalidade se tenha agravado cerca de 25% em pouco mais de seis semanas, para cerca de 2%.
Para quem grafava, rabiscava ou perorava sobre o rigor do distanciamento físico associado às escolas abertas não pode haver melhor e mais veloz resultado, independentemente de muita especulação e pouco conhecimento científico (e muita opinião mais ou menos erudita) sobre as respectivas relações efeito/resposta. As esperadas mutações do vírus, cada vez mais frequentes, estão agora ao rubro e assim se manterão no percurso pandémico/endémico que se espera pouco “tumultuoso”.
Mas como é que um resultado tão bom (tão virtuoso) se pode transformar em algo perigoso ou mesmo lambão? Voltamos à tendência do “oito ou oitenta” muito arreigada na nossa sociedade e à aversão crónica pela prevenção, ou não nos caracterizasse a habilidade para o improviso a que o povo chama “desenrascanço”. Isso é um perigo indiscutivelmente, já que se erguerão rapidamente inúmeros movimentos de pressão para o rápido caminho para a “normalidade” que acarretam o risco do fenómeno ioiô tão frequente na nossa forma de estar e, para alguns de nós, extremamente incomodativo.
Oxalá o badalado, e pouco praticado, princípio da precaução não se fine na sua evocação, como costuma ser a regra. Na área científica da Saúde Ocupacional e da Medicina do Trabalho (e também na Saúde Ambiental) usa-se, há muito, um conceito para tal atitude, o denominado “factor Segurança” (para evitar a sua designação em inglês). Uma boa maneira de reduzir esse perigo (que é um conceito bem diferente de risco) é rebaptizar esse factor como “” factor cagaço” que é muito melhor compreendido e interpretado que a aborrecida e desenxabida “Segurança”, mas com igual expectativa de resultado virtuoso.
A atitude, bem machista, do “agora só com uma mão, agora com três dedos, agora com um dedo, agora sem dedos” (ou do mais aristocrata danger is my business) parece ser inimiga do tal princípio da precaução. De facto, quer se olhe para as pessoas, quer se olhe para as unidades monetárias, o referido princípio da precaução não pode deixar de nortear o nosso comportamento colectivo. Não é isso que todos fazemos quando estamos em situação de grande incerteza ou enfrentamos algo desconhecido ou, pelo menos, ainda mal conhecido?
Não é essa a nossa actual situação?
Valerá a pena correr riscos desnecessários ou não é o mesmo povo que diz que mais vale prevenir que remediar?
Dito de outra forma, propõe-se irmos “devagar, que temos pressa”!
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