Após avaliar o plano, que esteve em consulta pública até segunda-feira, o movimento, uma iniciativa da Ordem dos Médicos e da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, considera em comunicado que “nem todos os portugueses merecem a inclusão neste plano, que é omisso quanto à recuperação dos doentes não-covid”.
“O Governo quer que o PRR (…) seja o plano de todos os Portugueses, dando resposta aos desafios que enfrentamos e que, em conjunto e com determinação, vamos superar”, mas não menciona os doentes que em 2020 não tiveram acesso a cuidados de saúde que foram cancelados por causa da pandemia de Covid-19, lamenta.
O Movimento diz que aguardava “com expectativa” o PRR, “um instrumento europeu temporário concebido para impulsionar a recuperação económica e social, tendo presentes os danos causados pela pandemia Covid-19”, tendo em conta a atividade assistencial não Covid-19 que ficou por fazer.
Com base nos dados do Portal da Transparência, o movimento lembra que foram realizadas menos 7,8 milhões de consultas médicas presenciais nos centros de saúde, menos 3,6 milhões de contactos presenciais de enfermagem, menos 1,3 milhões de consultas hospitalares, menos 126 mil cirurgias e menos 25 milhões de exames de diagnóstico, além de milhares de rastreios oncológicos.
“Perante estes números, é seguro afirmar que muitos doentes ficaram por diagnosticar, o que vai conduzir a diagnósticos em estadios mais avançados e, muito possivelmente, a situações já dificilmente recuperáveis”, alerta o movimento.
Nesse sentido, defendem “é um imperativo nacional ter um plano de recuperação para estes doentes, que não se verifica”, assim como também “não se verifica ainda uma visão estratégica para o sistema de saúde português”.
Para o movimento, sendo a área da saúde uma das mais afetadas pela pandemia, e tendo o plano disponíveis cerca de 14 mil milhões de euros a executar até 2026, tornava-se “essencial compreender de que modo é que as verbas disponíveis poderiam ser utilizadas na reforma do sistema de saúde”.
“No entanto, o que se faz é aproveitar os fundos europeus para concretizar promessas antigas, algumas já iniciadas e projetadas há 15 anos, perdendo-se a oportunidade de responder aos imensos desafios que se apresentam ao Serviço Nacional de Saúde e que a pandemia veio evidenciar”, critica o movimento, que lamenta o plano não incluir estratégias destinadas ao setor social para proteger os idosos.
Para o movimento, o plano “identifica a fragmentação de cuidados, mas perpetua medidas independentes para os diferentes níveis de cuidados, em vez de fomentar a sua integração” e “não acautela como será feita a gestão do conjunto de profissionais de saúde esgotados, depois da dedicação exemplar e irrefutável no combate à pandemia”.
Assim, propõe várias medidas que considera relevantes para um plano de recuperação, nomeadamente a recuperação de doentes não-Covid, através da análise dos dados dos centros de saúde, e o aumento do acesso a todos os cuidados de saúde, através de um programa excecional para a resolução de listas de espera para cirurgias, consultas e exames complementares de diagnóstico e terapêutica.
A criação de uma via verde de oncologia para “identificação rápida” de potenciais diagnósticos que ficaram por realizar, e a a emissão de credenciais eletrónicas para realização de rastreios oncológicos no setor convencionado são outras medidas propostas.
Lusa/HN
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