“Vai abrir um portãozinho de um portal enorme, onde passamos a ser os motores do nosso próprio progresso na saúde. A nossa intervenção na saúde é muito ativa e não temos noção disso”, disse à agência Lusa a investigadora e docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) Goreti Sales, que coordena o projeto “BioMark@UC”.
O projeto junta a Universidade de Coimbra, o Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto e instituições da Suécia e da Finlândia, contando com um financiamento europeu de 4,4 milhões de euros.
“Nós sabemos que quando alguém tem stress fica doente. Ou seja, numa condição de stress, que é mental, fico com uma doença. Também sabemos que quando as pessoas fazem meditação ficam com saúde – isso está documentado cientificamente. Neste contexto, temos dois paradigmas. Tanto posso com a mente movimentar-me na direção da saúde, como na da doença, mas nenhum de nós sabe explicar porque é que isso acontece”, notou.
O projeto centra-se nessa zona pouco explorada e estudada sobre a forma como a mente pode influenciar o estado de saúde da pessoa.
“As melhorias [com meditação] não acontecem por mágica ou por um passo de milagre. Há uma alteração fisiológica no corpo. De facto, quando controlamos a mente, tem que haver uma informação transmitida da mente para o corpo”, frisou.
Nesse sentido, o projeto está à procura de uns mensageiros – vesículas extracelulares – que são “responsáveis por levar a informação do cérebro à periferia”, procurando perceber qual desses mensageiros poderá estar associado a um estado de saúde ou de doença, aclarou.
Goreti Sales aponta para o seu próprio caso: “Durante anos andei a queixar-me de sintomas e ninguém descobria o que era. O meu corpo dizia há muitos anos que tinha doença de Crohn, mas a medicina não conseguia detetar esses sinais”.
“Fazendo meditação, poderia contrariar os indicadores. Há padrões de doença que não são exclusivamente mentais, nomeadamente as genéticas programadas, não há mente que lhes valha. Mas grande parte das questões e da velocidade da evolução da doença são mentais”, vincou.
Para isso, o projeto vai contar com um ensaio clínico de grande dimensão, com a participação de cerca de 700 ex-doentes oncológicos do IPO do Porto, que estão nos cinco anos de seguimento após a doença.
“Vamos procurar nesses indivíduos o que vai mudar neles, que mensageiros novos vão aparecer no seu processo de meditação”, explicou.
Segundo Goreti Sales, o projeto vai também desenvolver um dispositivo para identificar os níveis do tal mensageiro que poderá indicar saúde.
“Se um determinado mensageiro vai estar com níveis mais elevados em pacientes com meditação, significa que ter um aumento desse mensageiro é um prenúncio de melhoria da saúde. As pessoas vão ser acompanhadas nos seus parâmetros clínicos e psicológicos e no final vamos concluir se tivermos um determinado mensageiro alto a pessoa está a caminhar na direção da saúde”, referiu.
Goreti Sales acredita que poderá haver outras estratégias, mas terão que ser cientificamente validadas, estando o projeto só centrado na meditação, cujos benefícios já estão documentados.
O projeto começou há dois anos e deverá prolongar-se por mais três.
LUSA/HN
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