“O que me preocupa é que as consequências nem sempre são levadas a sério como deviam”. “Lacunas graves” podem surgir “em termos de aquisição de competências” e em algumas disciplinas, pode haver “consequências muito graves” e “comprometer a escolaridade perigosamente”. A afirmação é do Psiquiatra Eduardo Sá em entrevista ao Publico, estávamos em meados de fevereiro último.
No mesmo sentido, ia também o psiquiatra Diogo Guerreiro, doutorado na área da saúde mental na adolescência, que ao mesmo diário afirmava que “estes períodos de confinamento também afetam “a vertente psicossocial” – “a maturação, a maturidade”, a forma “como lidam com o stress, a rotina” – e a “socialização”. Como? “O nosso desenvolvimento enquanto seres humanos é feito através da forma como socializamos uns com os outros, nos adolescentes é fundamental a relação com professores e outros colegas. Estes confinamentos põem uma série de crianças e jovens em risco.
Em resposta às preocupações de médicos, professores (e também dos pais), o Governo decidiu começar a desconfinar, começando pelo ensino básico. “as crianças não aguentam ficar mais tempo fechadas em casa”, apontou o primeiro ministro. Estávamos a 15 de março. Menos de duas semanas depois, as mesmas crianças que andaram nove meses a tentar aprender alguma coisa – sem grande sucesso, garantem os peritos – através do sistema telescola, foram enviadas para casa, para gozarem as férias da Páscoa. Se não fosse dramática, a situação prestava-se facilmente a anedota.
Ao invés de aproveitar o momento e ajudar pais, professores – e mais do que estes – os próprio alunos a tentarem recuperar algum conhecimento perdido durante o confinamento, o Governo de Costa decide confiná-los mais uma vez, deitando por terra, certamente, o que estava a ser feito.
Sei que é mal visto criticar as medidas de confinamento e as decisões contrárias, mas há limites. Com esta decisão de enviar ou putos para casa para umas pseudoférias, o Governo ultrapassou alguns desses limites. Do razoável, da estupidez, da falta de racionalidade.
E mais uma vez veio mostrar que a decisão política bebe cada vez menos da evidência científica. Dir-se-ia mesmo que vai beber à tasca.
E assim andamos, erro após erro, da suspensão da vacina da AstraZeneca para seguir a manada, aos encerramentos focalizados, sem qualquer evidência de eficácia.
Enfim. É o que temos, Se calhar, digo eu, merecemos.
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