“O Hospital de São Bernardo tem uma diferenciação que é muito superior àquela que nos é atribuída em termos de financiamento. E isso redunda num défice de 11 milhões de euros”, disse o diretor de Infecciologia do Hospital de São Bernardo, José Poças, numa audição da Comissão Parlamentar de Saúde realizada hoje por videoconferência, a pedido do PAN.
A reclassificação do Hospital de São Bernardo – que, juntamente com o Hospital Ortopédico do Outão, integra o Centro Hospitalar de Setúbal – permitiria que os atos médicos fossem pagos a um valor superior, idêntico ao que é pago a outros hospitais, como o Garcia de Orta, em Almada, e que, segundo José Poças, representaria um valor na ordem dos 11 milhões de euros.
Além da reclassificação, os diretores de serviço do Hospital de São Bernardo sublinharam a necessidade de se avançar rapidamente com as obras de ampliação, que já têm uma dotação orçamental de 17,2 milhões de euros no Orçamento do Estado de 2021 e que deveriam arrancar ainda este ano.
O infeciologista José Poças lembrou, no entanto, que o plano de construção, elaborado há cerca de seis anos, “já não responde às necessidades atuais e futuras daquela unidade hospitalar”, dado que o Hospital de São Bernardo terá de acolher todos os serviços do Hospital Ortopédico do Outão, que será desativado.
“Neste momento, levar esta estrutura toda [do Hospital do Outão] para Setúbal é manifestamente impossível”, corroborou o diretor de serviço do Hospital Ortopédico do Outão Carlos Ribeiro, reforçando a ideia de que o atual projeto de ampliação do Hospital de São Bernardo já nem sequer é suficiente para integrar, como está previsto, o Hospital do Outão.
Para os diretores de serviço, as dificuldades vividas diariamente pelos profissionais de saúde no Hospital de São Bernardo acabam também por levar à saída de alguns deles, colocando em causa a substituição daqueles que se vão reformando em diversas especialidades.
Perante a Comissão de Saúde, o médico José Poças deixou ainda um alerta para as consequências que a degradação progressiva do Hospital de São Bernardo poderá ter num futuro próximo, se nada for feito para corrigir a situação muito rapidamente.
“Nós temos problemas de espaço, temos problemas de capacidade de atração de novos quadros médicos – formamos valiosos quadros médicos que depois acabam por ir embora de várias especialidades -, e estamos todos muito preocupados com isso”, frisou.
“Há 30 anos que andamos nesta luta, pela dignidade do exercício profissional, mas, sobretudo, pelo acesso aos cuidados de saúde da população que servimos e que vai muito para além daquilo que era a área de referenciação (Palmela, Sesimbra e Setúbal)”, disse, salientando que o Hospital de São Bernardo também serve a população do litoral alentejano.
Na audição da Comissão Parlamentar de Saúde, que tinha sido solicitada há mais de um ano, os clínicos setubalenses sublinharam também que os problemas do Hospital de São Bernardo “são estruturais e muito anteriores à pandemia”.
A Covid-19, que no passado mês de janeiro afetou de forma significativa o funcionamento do Hospital de São Bernardo, apenas agravou a situação dramática dos profissionais de saúde, que aguardam há muito pela reclassificação do hospital e pela concretização do projeto de ampliação, muitas vezes prometido nos últimos anos, mas que tem sido sucessivamente adiado.
LUSA/HN
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