O estudo “Dimensões em género da Crise Covid-19”, apresentado pela especialista Megan O’Donnell, do Centro de Desenvolvimento Global (CGD, na sigla em inglês), confirmou semelhanças e divergências da pandemia atual com outras crises sanitárias no passado em relação aos impactos económicos globais.
“Como esperávamos, houve grandes perdas de empregos, perdas de rendimento e encerramento de negócios, de uma maneira geral, levando ao aumento da pobreza familiar e da insegurança alimentar”, disse Megan O’Donnell, diretora assistente dos programas de género do CGD e analista de políticas.
O que diverge do passado é o facto de, atualmente, os setores económicos e serviços mais prejudicados terem a predominância de mulheres, como a hotelaria ou retalho, ao contrário do que aconteceu em crises passadas, que transtornaram setores dominados pelos homens.
“Como resultado, não observamos o efeito do trabalhador adicional, o que historicamente significava que as mulheres entravam nos mercados de trabalho para ter mais trabalho remunerado na família” quando os homens perdiam empregos, considerou Megan O’Donell, referindo-se a uma teoria sustentada pelo facto de, no passado, as mulheres ficarem em casa enquanto os homens apresentavam a principal fonte de rendimento.
Sendo que o efeito do trabalhador adicional não se está a verificar, essa é “uma grande diferença” das crises passadas, afirmou a coautora do estudo.
Ainda sem resultados definitivos, os investigadores do CGD estimam que se note um aumento da agricultura de subsistência e uma maior fiabilidade em grupos de mulheres, como associações e organizações.
As “tendências globais” estão a verificar-se em África, com as mulheres a perderem mais meios de subsistência, em países como o Gana ou Ruanda, frisou a especialista em assuntos de empoderamento económico das mulheres e inclusão financeira.
Segundo Megan O’Donnell, dados recolhidos por outros estudos documentam que os negócios em que as mulheres são proprietárias sofreram mais impactos negativos do que os negócios detidos por homens, levando à perda de rendimentos e encerramento especialmente dos negócios liderados pelas mulheres em África.
Muitos países africanos, como Mali, Nigéria ou Etiópia também demonstraram a “rutura de serviços de planeamento familiar”, com principal impacto na saúde das mulheres.
Segundo a investigadora, a rutura desses serviços deve-se à falta de trabalhadores, que assumiram mais responsabilidades no atendimento de pacientes com Covid-19, mas também às medidas de confinamento, que proibiam viagens e deslocamentos, assim dificultando o movimento das mulheres aos serviços de saúde e planeamento familiar.
Efeitos do mesmo tipo foram verificados em serviços de saúde materna, “onde as meninas adolescentes tornam-se particularmente vulneráveis”, com taxas de mortalidade durante a gravidez mais acentuadas, explicou Megan O’Donnell.
A violência com base no género também aumentou, vitimando mais mulheres do que homens.
Analisando as medidas adotadas por governos e organizações em África, o estudo do CGD concluiu que “pouquíssimas das medidas são sensíveis ao género” ou abordam as diferenças de impacto sofrido pelas mulheres em comparação com os impactos sofridos pelos homens, afirmou a especialista.
A apresentação do estudo, no contexto da Iniciativa de Género contra a Covid-19 do CGD, incluiu recomendações para melhor monitorização dos impactos sofridos por mulheres e mais inclusão económica e empoderamento do sexo feminino.
“Temos de ser capazes de completar a falta de dados sobre populações”, disse Megan O’Donnell, atendendo a “centenas de milhões” de pessoas que não são representadas ou incluídas nos dados recolhidos.
O estudo concluiu também que torna-se indispensável aumentar a medição dos benefícios ou prejuízos para as mulheres e meninas resultantes das medidas de mitigação da Covid-19 ou das medidas de proteção social.
As medidas económicas têm de ser desenvolvidas em estratégias de recuperação de médio ou longo prazo, ao invés de serem medidas de aplicação única para resolução imediata de problemas, sustentou ainda Megan O’Donnell.
Por fim, será de aumentar a participação, representação e liderança de mulheres e meninas em todos os aspetos da vida social, económica e política.
A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 3.020.765 mortos no mundo, resultantes de mais de 141,2 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito hoje pela agência francesa AFP.
LUSA/HN
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